A HISTÓRIA
Para a tristeza de sua mãe, Liz Bennet é uma mulher de quase quarenta anos, solteira, sem filhos, em um namoro secreto com um cara casado. Ela também é uma mulher independente, uma jornalista de sucesso e bem feliz com a vida que tem. Contudo, para a tradicional matriarca dos Bennet, um homem e bebês é o que ela precisa de verdade.
Como sua irmã mais velha Jane, que também mora em Nova Iorque e não é casada, a opinião dos pais sobre sua vida não conta muito. Mas, quando o sr. Bennet quase perde a vida e as mulheres voltam para casa para ajudá-lo a se recuperar, fica muito claro quanto Liz e Jane são diferentes da sua família. Mary, a filha do meio, vive trancada em seu quarto estudando. Já Kitty e Lydia, as mais caçulas, só querem saber de crossfit e festas.
Liz não ia se importar com o que as irmãs fazem se a casa da família não estivesse caindo aos pedaços e os pais, além de afundados em dívidas, perto de se divorciarem. Então acaba sendo Liz quem se responsabiliza em colocar as coisas em ordem, já que Jane está muito envolvida em seu mais novo romance. Chip Bingley, um lindo médico que participou de um reality show, está na cidade, solteiro e muito interessado em Jane.
Contudo, o romance de Jane e Chip pode ser ameaçado pela irmã dele, que quer transformá-lo em uma celebridade de verdade, e seu melhor amigo, Darcy. Darcy é um neurocirurgião de renome, um homem belo e completamente arrogante. Ele despreza o comportamento espalhafato das Bennet, o que faz Liz imediatamente odiá-lo. Ela sabe que a família tem seus defeitos e preconceitos, mas as defenderá com unhas e dentes. Contudo, não seria a primeira vez na história que inimigos acabam se tornando algo mais.
A SÉRIE
Quando peguei esse livro para ler, não imaginava que fazia parte da série The Austen Project. Mesmo sendo o volume 4, O Bom Partido é completamente independente e não faz sequer referência aos outros livros da série, que também são releituras de obras de Jane Austen.
Cada livro foi escrito por um autor diferente. Esse livro, que é um volume único e funciona perfeitamente sozinho, é a versão moderna de Orgulho e Preconceito de Curtis Sittenfeld. Razão e Sensibilidade foi repaginado por Joanna Trollope, Val McDermid traz sua versão moderna de A Abadia de Northanger e Emma fica por responsabilidade de Alexander McCall Smith.
A NARRATIVA
O Bom Partido tem capítulos bastante curtos (alguns menores que uma página) e um ritmo acelerado. A narrativa é em terceira pessoa, mas foca em Liz, seus pensamentos, sentimentos e opiniões sobre os outros personagens. Curtis Sittenfeld tem um senso de humor quase controverso em alguns pontos, o que é bom porque mostra os muitos preconceitos dos personagens de forma divertida, mas perigosamente perto de ser ofensiva.
Pouco descritiva, o melhor, da narrativa, para mim, são os diálogos. Frases curtas e cortantes tornam as conversas dos personagens hilárias e dão um dinamismo delicioso a leitura. Além disso, qualquer pessoa vai se identificar com as trocas ácidas que toda família e irmãos têm, tão presentes nesse livro.
A TRAMA E OS PERSONAGENS
Eu já li um bom número de adaptações de Orgulho e Preconceito, algumas mais fiéis, outras bem levemente inspiradas, e O Bom Partido é mais do primeiro tipo. Todos os acontecimentos principais da trama de Austen estão aqui, alguns repaginados para o contexto moderno, outros quase que transcritos da obra original.
O Bom Partido não é a minha releitura favorita de Orgulho e Preconceito, mas está entre as melhores que já li, com certeza. Mesmo sendo fortemente guiada pela história do livro original, esta também ganha momentos únicos e surpreendentes, além de bastante divertidos sempre. Curtis Sittenfeld fez um bom trabalho para modernizar a trama, trazendo elementos como reality shows para a história.
Além disso, a parte do “preconceito” também é modernizada e mais do que a intolerância de classe social, um dos marcos do original, temas como racismo, gordofobia e transfobia estão presentes em O Bom Partido. Contudo, aqui vale a pena destacar que Curtis Sittenfeld não deu tanta atenção quanto necessário aos temas e, talvez por ter tentado apelar para o lado humorístico do comportamento ilógico e infantil de pessoas muito preconceituosas, faltou a temas tão necessários conclusões mais realistas e destacadas na história.
Afinal, personagem mais preconceituosa de todas, a sra. Bennet, meio que é perdoada por seu comportamento terrível sem ter sofrido consequências de verdade para suas opiniões e ações terríveis. O Bom Partido também parcialmente apaga o orgulho e preconceito de Darcy, que é um fofo nesse livro, e se foca no quanto os Bennet são problemáticos e igualmente orgulhosos e preconceituosos.
Essa mudança na dinâmica do original é interessante, mas eu gostaria de ter visto um Darcy mais chatinho, como no original. Apesar de tais ressalvas, O Bom Partido me agradou muito por dar a liberdade necessária para as irmãs Bennet. Em uma visão mais moderna e, claro, feminista, a personalidade das irmãs são aprofundadas e, principalmente Mary e Lydia, finalmente são abordadas como merecem.
Mary ganha uma personalidade completa e interesses próprios, enquanto Lydia continua mimada e egoísta, mas finalmente pode ser a jovem despreocupada que nasceu para ser e é tão mal vista por isso no original. Liz também é suavizada em O Bom Partido, se tornando mais uma mocinha sensata que quer ajudar a família do que a moça que se acha melhor que todo mundo no primeiro livro.
Os romances do livro são mantidos, mas têm desfechos de certa forma inusitados e ainda mais apaixonantes. A leitura do livro é muito rápida e emocionante, além de divertida e fofa.
A EDIÇÃO
A editora Essência fez um trabalho excelente com O Bom Partido. A tradução de Alexandre Barbosa de Sousa é excelente e o texto sem erros. A diagramação não tem muitos detalhes, mas as páginas amareladas são bem-vindas, e o tipo e tamanho de fonte são bons. Eu amo a capa de O Bom Partido. A fonte e singela ilustração remete ao romantismo do clássico, mas a cor rosa-alaranjada de fundo representa bem a modernidade que a história de Austen ganhou.
VALE A PENA LER?
O Bom Partido só peca em um quesito. Ao modernizar também os preconceitos da obra de Jane Austen, falando sobre racismo, gordofobia e transfobia, além de preconceito de classe, a autora não deu a seriedade necessária para tais assuntos. Ao preferir se focar em quão divertidamente ridículo e ilógico é o comportamento de pessoas preconceituosas, ela desperdiçou a oportunidade de passar mensagens mais significativas com sua obra.
Mas como uma adaptação despretensiosa (que não é para ser levada muito a sério) de Orgulho e Preconceito, essa leitura vale muito a pena. Bastante fiel ao original, O Bom Partido não só moderniza os personagens (mocinhas mais empoderadas e cheias de personalidade), mas também alguns acontecimentos, com direito a reality shows e namoros escondidos bem quentes.
O Bom Partido é uma história cativante do início ao fim. Com seus capítulos curtos e diálogos afiados, é uma leitura rápida e gostosa. Além de um romance fofo que mostra que as aparências e primeiras opiniões enganam, esse também é um livro sobre família e superar seus preconceitos e orgulho.
Título: O Bom Partido
Título original: Eligible
Autora: Curtis Sittenfeld
Editora: Essência
ISBN: 9788542215571
Ano: 2019
Páginas: 320
Compre: Amazon
Gostei muito e não conhecia!! parece ser mesmo muito bom <3
ResponderExcluirwww.pimentamaisdoce.blogspot.com