29.7.20

Resenha: Na Linha de Fogo - Lauren Gallagher


AVISO DE GATILHO: o livro e resenha falam sobre violência sexual e psicológica, aborto e abuso de poder.

A HISTÓRIA

Kim Lockhoff dedicou sua juventude para sua carreira na Marinha. Agora, tudo está prestes a ir por água abaixo, já que todos acham que ela é uma vagabunda que dormiu com o chefe para ser promovida. A triste verdade é que Kim foi violentada por um oficial superior e agora seu estuprador está a assediando para que termine a gravidez resultante.

Reese Marion é o tipo de mulher durona que sabe que ser soldado e policial não é fácil para seu gênero. Contudo, ela odeia mulheres como Kim, que usam de sua beleza e charme para seduzir seu caminho para o topo. Contudo, quando boatos sobre a gravidez de Kim começam a se espalhar, um superior ordena que Reese ajude Kim.

Reese só não esperava descobrir que Kim não é nenhuma piranha e sim uma vítima com uma decisão difícil. Por um lado, acabar com a gravidez e seguir em silêncio poderia ajudar Kim a recuperar sua reputação. Por outra, ela não sente que é certo acabar com a vida do bebê inocente, assim como não sabe se poderá se manter calada por muito tempo.

Reese entende melhor do que ninguém o que é engolir um trauma por medo. Assim, se oferece para ajudar Kim nessa jornada. Elas só não sabem se vão conseguir fazer seu superior pagar pelos seus crimes. Mas logo percebem que a nova proximidade pode fazer surgir uma atração avassaladora e sentimentos profundos entre elas.

A NARRATIVA

Não é todo dia que se lança um romance lésbico, por isso fiquei ansiosa para ler Na Linha de Fogo. A autora já tinha me conquistado com outro romance representativo, o fofo De Volta Para Ela, que tem uma protagonista transsexual. Por isso já esperava gostar dessa obra. E Lauren Gallagher não me decepcionou. 


Com a narração em primeira pessoa dividida entre a perspectiva de Kim e Reese, temos uma visão ampla da história e dos personagens. A escrita da autora é simples e direta ao ponto. Pouco descritiva em Na Linha de Fogo, ela consegue provocar muitas emoções ao nos mostrar os conflitos mentais das personagens. A obra também conta com diálogos rápidos, poderosos e fofos, além de uma pitada e outra de ironia.


A TRAMA E AS LIÇÕES DA HISTÓRIA 

Na Linha de Fogo não é uma leitura fácil. O livro fala sobre abuso físico e psicológico dentro de intuições militares/policiais, aborto e abuso de poder, contendo até mesmo relatos e cenas em que tais violências são retratadas. 

A autora teve a sensibilidade necessária ao tratar de assuntos tão sérios e angustiantes, mostrando como a cultura militar/policial é marcada pelo machismo e como vítimas são facilmente silenciadas em tais instituições. A história de Na Linha de Fogo me manteve vidrada do início ao fim, com o coração na mão e sede por justiça para as protagonistas. Devorei o livro em um dia. Apesar de ser carregada de tensão psicológica, não foi uma leitura cansativa.

Além de retratar as muitas violências sofridas por mulheres soldado/policiais, Na Linha de Fogo também é um livro sobre união e paixão feminina. A obra mostra lindamente como o apoio de outras mulheres é essencial para vítimas de abuso e como se torna mais difícil nos silenciar quando estamos juntas.

Na Linha de Fogo é também sobre a paixão inesperada entre duas mulheres que achavam que se odiavam. É sobre a liberdade de amar e ser amado em qualquer lugar, por qualquer pessoa. O romance das protagonistas começa em uma situação desesperadora, mas cresce para se tornar mais do que atração. Antes de serem amantes, Kim e Reese são companheiras e amigas, o que torna a jornada de ambas em Na Linha de Fogo mais empoderadora e apaixonante.

A EDIÇÃO 

Apesar de ter lido uma versão não finalizada de Na Linha de Fogo, cortesia da Cherish Books BR, o e-book estava funcionando perfeitamente na plataforma Kindle, com uma boa fonte e sem erros no texto. Eu amo a capa da obra. Apesar dela não entregar muito da trama, é uma capa linda e sensual que desperta a curiosidade pelo livro.

VALE A PENA LER?

Na Linha de Fogo é um romance lésbico que faz o coração de qualquer um bater mais forte. Além da tensa trajetória das protagonistas contra a cultura de abuso e violência contra as mulheres dentro de instituições militares, esse é um livro sobre amar livremente e se libertar de traumas profundos. 

Com pitadas de bom humor e muito romance, mas sensibilidade necessária para falar de violência sexual, Na Linha de Fogo é uma obra poderosa e emocionante, além de viciante. Amei o livro da primeira à última linha e fiquei sedenta por mais obras tão representativas e cativantes de Lauren Gallagher.

Título: Na Linha de Fogo
Autora: Lauren Gallagher
Editora: Cherish Books Br
ISBN: B08BY3MD21
Ano: 2020
Páginas: 228
*O e-book lido foi uma cortesia da Editora Cherish Books Br

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4 comentários:

  1. Parece envolvente mas daí só seria cativante pra pessoas que se identificam com o gênero Lgbt não?
    Entende? Seria como indicar um livro religioso pra alguém ateu... Ou não?
    Infelizmente existe um preconceito.
    Vi isso recentemente com resenha do livro do Lázaro Ramos. Diziam que só quem é preto ia gostar do livro.

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    Respostas
    1. Olá,

      quando falamos de comunidade LGBTQ+, estamos falando não de gênero (masculino, feminino, nã-binário, etc) e sim de sexualidade (hetero, gay, lésbica, etc).

      E não, não acho que esse livro, como qualquer obra LGBTQ+ seja atrativa só para quem pertence a essa comunidade. Do mesmo jeito que pessoas LGBTQ+ consomem e se identificam com histórias de casais heteros, pessoas hetero podem gostar e se identificar com obras LGBTQ+. Sem falar que, em especial esse livro, ele fala de abuso nas instituições e amor, temas interessantes independente da sexualidade, gênero, etnia do leitor.

      E sim, existe sim preconceito, das pessoas nem tentarem ler algo por acharem que não é para elas. Eu mesma nunca li o livro do Lázaro Ramos, mas me interessaria por ele como sei que muitas outras pessoas brancas se interessariam. A mesma coisa com livro religioso. Sou ateia, mas leria se me indicassem (incluive, já li vários romances em que os personagens são católicos e falam sobre Deus e amei).

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  2. Obrigada por sua resposta.
    Sei o que significa a sigla. Inclusive tenho uma grande amiga travesti num tempo em que nem se falava disso. Ou era tabu.
    Eu leio de tudo, mas não gosto de romance ( de qualquer gênero)
    Sou branca,mas como milhões tenho ancestrais negros (avós) e adorei o livro do Lázaro, assim como outros do gênero. Racismo é algo pungente na sociedade.
    Mas te perguntei do livro lésbico porque infelizmente tem pessoas que literalmente julgam pela capa. E não são poucas. Assim como tem certas temas que atraem menos ou mais: animais, gastronomia, religião.
    No caso refiro-me a preferência mesmo.
    Sem bater na tecla da sigla ou não.
    Não acho sinceramente que as pessoasv tem esse desprendimento que você tem seja qual for sua preferência, tem uma cabeça muito aberta e vejo que muitos jovens são assim e fico feliz por isso, estamos num mundo mais plural e viva a diferença.
    Na Europa,onde vivo, o preconceito contra a comunidade Lgbt existe disfarçado de liberdade.
    Um abraço.

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  3. Nossa, eu adorei esse livro. A Lauren soube tratar bem os assuntos abordados sem romantizar nada.
    Beijos
    Balaio de Babados

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