7.6.20

Resenha: O Diário de Anne Frank - Anne Frank


Ela dispensa apresentações. Vamos falar de O Diário de Anne Frank, obra real escrita pela jovem judia Anne Frank e postumamente organizada e publicada por seu pai, Otto H. Frank. Essa edição é a definitiva.

A HISTÓRIA 

Na Amsterdã de 1942, Anne Frank, sua família e amigos se refugiaram em um Anexo Secreto no escritório de seu pai Otto. Em plena Segunda Guerra Mundial, para judeus com condições financeiras e amigos dispostos como os Frank, se esconder era uma forma de não acabar nos campos de trabalho forçado e extermínio do exército nazista.

Para a jovem Anne, os dois anos passados no Anexo seriam de grande aprendizagem e amadurecimento, mas também de ansiedade, depressão e terror. Acostumada a uma vida confortável, cercada de amigos e admiradores, Anne se frusta constantemente nos primeiros meses no Anexo.

Como uma adolescente que precisa rapidamente descobrir que o mundo é ainda mais cruel do que ela imaginava, Anne acaba entrando em conflito com os outros moradores do Anexo constantemente. Sua irritação por ser considerada uma criança mimada e opinativa demais são típicas da idade, mas Anne teve uma mente muito a frente de seus anos e de seu tempo.


De fato, Anne Frank tinha muitas opiniões sobre as coisas e o mundo, assim como uma capacidade única de ver beleza mesmo em suas doses microscópicas. Anne ainda tinha a rara habilidade se ser honesta consigo mesma e com os outros. Ela percebe seus defeitos e tenta trabalhar neles, enquanto luta com a crescente escassez de recursos e contato humano em seus anos no Anexo.

A jovem ainda batalha com a ansiedade, depressão e desesperança diante uma guerra que parecia nunca acabar e a possibilidade de ser traída ou abandonada por aqueles que cuidavam e escondiam ela e sua família. Mas, entre suas mudanças de humor típicas de uma adolescente e compreensíveis para uma garota confinada, Anne ainda consegue refletir sobre a natureza humana, a sociedade em que vivia, sua fé e muito mais.

Em uma situação impossível, Anne Frank escolheu ser quem era e tentou ser uma pessoa sempre melhor. Ela não se resignou ao medo, não desviou os olhos dos horrores da guerra e continuou sonhando e vivendo da melhor forma que podia. Sempre apaixonada pela vida e apegada a seus ideais, o registro de sua vida é uma inspiração atemporal e de valor incalculável. Esse relato precioso de sobrevivência ao Holocausto deveria ser lido por todos.


A LEITURA

Acredito que nunca conseguirei colocar em palavras tudo o que senti com a leitura de O Diário de Anne Frank. É um livro lento e difícil. Tedioso até, pois a vida de repetidas privações e terrores no Anexo era tediosa. E, felizmente, Anne não nos poupa de nada disso.

Se é que podemos falar de uma trama (já que O Diário de Anne Frank não é uma ficção), a história da obra é chocante. Os acontecimentos se repetem. Temos uma visão limitada dos personagens além da protagonista. E o livro é, de certa forma, cruelmente sem final. Mas essa não é uma obra de ficção, não é um livro perfeito e é isso que o torna tão rico. É impossível conseguir um relato mais verdadeiro e humano do Holocausto ou de uma vivência de guerra do que com O Diário de Anne Frank.

A NARRATIVA E A PROTAGONISTA

Essa é uma obra epistolar e verídica. Em seu diário, Anne escreveu cartas para a fictícia Kitty, em uma narrativa íntima e convidativa que nos faz sentir que a jovem garota estava escrevendo verdadeiramente e especialmente para nós. Anne tinha uma impressionante capacidade narrativa, ela transforma acontecimentos banais em histórias interessantes.

Anne mistura relatos longos com trechos opinativos e ainda descrições quase que jornalísticas da personalidade dos demais ocupantes do anexo e do modo como viveram durante os anos que o diário cobre. Apesar disso, a jovem autora relata tudo com paixão, não deixando de fora seus sentimentos, gostos, medos e sonhos.

Esse é, acima de tudo, o diário de uma adolescente e Anne não se nega a ser uma. A jovem registra suas mudanças de humores e disposições, sua curiosidade sobre sexualidade e sua sede por conexão humana, sempre tirando reflexões incríveis de tudo isso. E é justamente por isso que, mesmo mais velha que Anne, me identifiquei bastante com ela.

De fato, me irritei em momentos que Anne demonstrava imaturidade típica da idade, ou como podia ser egoísta e mimada. Mas é a honestidade desse diário que o torna tão precioso, pois Anne não poda seus relatos e se mostra como é: jovem, humana e, logo, longe de ser perfeita. E todos somos ou já fomos jovens e humanos e temos defeitos, então sabemos bem como ela se sente.

Além de me identificar com Anne, me apeguei a ela, como se fosse uma irmã mais nova que eu gostaria de proteger. Sofri quando ela sofreu, me diverti quando Anne se divertiu e me vi aprendendo com ela a ser mais sonhadora e positiva, assim como sincera sobre meus sentimentos e ações.


VALE A PENA LER?

Ler O Diário de Anne Frank durante a quarentena do COVID-19 tornou a obra ainda mais impactante. Afinal, como Anne, eu estou vivendo limitada em casa, sob algumas privações materiais e, especialmente, humanas. Contudo, contrastar o meu confortável isolamento social com o horror de vivenciar uma guerra me ajudou a ajustar a minha perspectiva e ser grata pelo o que tenho e enfrentar esse período de quarentena com mais positividade e paciência.

Se você está procurando uma história de guerra instigante e com final feliz, O Diário de Anne Frank não é para você. Esse é um relato verídico, sofrido e humano sobre pessoas reais tentando sobreviver ao Holocausto. É um livro difícil de ler, que causa muitas emoções, em sua maioria desagradáveis. 

Contudo, é uma obra que precisa ser lida. O Diário de Anne Frank nos faz conectar com uma jovem há muito tempo falecida, mas que desperta o sonhador que há em cada um de nós. Em muito podemos aprender com Anne Frank, cuja força, paixão pela vida e legado único precisa ser celebrado.

QUOTE FAVORITO

“Enquanto puder olhar sem medo para o céu, saberá que é puro por dentro, e encontrará a felicidade outra vez.” pág. 208


Título: O Diário de Anne Frank
Subtítulo: Edição definitiva, editada por Otto Frank e Mirjam Pressler
Título original: Het Achterhuis
Autora: Anne Frank
Editora: Record
ISBN: 9788501044457
Ano: 2006
Páginas: 352
Encontre o livro: Skoob - Goodreads
Compre: Amazon

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2 comentários:

  1. Oie!
    Ainda não li esse livro, mas morro de curiosidade pra conhecer mais de pertinho a história da Anne. Fico feliz que mesmo tendo uma experiência mais impactante por causa do isolamento, sua experiência tenha sido boa a ponto de se tornar um favoritado!

    Beijos,
    Fantasma Literário
    https://ofantasmaliterario.blogspot.com/ ❤

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  2. Que lindo sua resenha, eu li há tanto tempo que estou pensando em reler. Essa foi uma história linda, só não é perfeita porque sabemos que a Anne morre. Queria muito ter uma amiga como ela, ela é tão viva e sonhadora, e não tem como não encontrar várias frases inspiradoras e reflexivas da Anne por ai.
    Jardim de Palavras

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