17.8.19

Resenha: O Reino de Zália - Luly Trigo


A HISTÓRIA

Zália é uma princesa, mas não a herdeira do trono de Galdino, um arquipélago tropical, por isso foi criada longe do castelo e dos conflitos da monarquia. Apesar de um ou outro compromisso real, ela levou uma adolescência tranquila em um internato, onde sonhou, após se formar, viajar pelo mundo e viver de sua paixão: a fotografia.

Mas os planos de Zália são frustrados com uma tragédia. No final de seu último ano de escola, seu irmão mais velho, o herdeiro, é assinado pela Resistência. E agora, por causa dos problemas de saúde do pai, Zália precisa se tornar regente e escolher o futuro de seu país. Acontece que ela não foi preparada para nada disso. Zália não entende de leis, pronunciamentos, conselheiros e nada mais relacionado as atividades de monarca.

O próprio pai da garota não acha que ela é apta para o cargo, então Zália se sente insegura em assumir o papel de regente e a início aceita ser apenas uma figura pública, com seu pai tomando as decisões por ela nos bastidores. Contudo, a mãe da garota, seus amigos e até uma de suas professoras acredita que Zália pode realmente fazer a diferença e construir um país melhor. E, para isso, Zália começa tentar se aproximar da população, usando, por exemplo, as redes sociais.

Mas é só quando começa a fazer aparições públicas que Zália passa a compreender o que está acontecendo de verdade em Galdino. Ela percebe que seu pequeno paraíso é na verdade marcado por injustiça social e que o povo está insatisfeito e sem esperanças por um futuro melhor. Zália percebe que, no final, a Resistência pode ter razão ao criticar o governo de sua família. Mas como ela poderá dialogar com uma organização que matou o seu irmão? Pior que isso, será que Zália poderá fazer mudanças de verdade sem se colocar em perigo? Afinal, as figuras mais poderosas do seu governo parecem também ser as mais corruptas e estão a observando de mais perto do que ela gostaria.


A LEITURA: TEMAS E NARRATIVA DA OBRA

Eu não sabia bem o que esperar de O Reino de Zália, mas já tendo escutado elogios a obra de Luly (Luiza) Trigo, fiquei curiosa para lê-la. E a obra de fantasia para jovens me conquistou logo nas primeiras páginas. Fiquei fascinada com o reino que a autora criou, único e novo, mas ao mesmo tempo reconhecível, como uma versão de que o Brasil poderia ser se a monarquia não tivesse sido extinta por aqui.

Ao longo da leitura, O Reino de Zália me deu muitos flashbacks de O Diário da Princesa, sendo esta história mais contextualizada para a nossa cultura e mais atual, discutindo temas como o uso de redes sociais e o preconceito contra pessoas LGBT+. Contudo, além de trazer à tona as questões pessoais e sociais dos jovens da nova geração, O Reino de Zália é também uma alusão ao tempo político do nosso país, já que nos apresenta seus próprios conflitos entre um povo insatisfeito, que vive na pele muitas mazelas sociais, e um governo corrupto secular, que usa seu poder para intimidar e fortalecer quem já é privilegiado por ele.

Entretanto, mesmo tendo um lado politizado, a leitura de O Reino de Zália é divertida e fofa. A trama traz momentos de tensão, drama e até pitadas de ação e mistério com jogos e intrigas políticas, assim como sua dose de romances proibidos e amizades sinceras. É gostoso ler sobre a história de Zália porque, ao mesmo tempo que fantasiosa, já que ela é uma princesa e regente ativa, é uma trama que soa real, com a qual mesmo já não tendo a idade da mocinha, conseguimos nos identificar. 

Gostei especialmente que Trigo também se aprofundou nos conflitos familiares da protagonista, mostrando que até uma princesa briga com seus pais. Isso humaniza bastante a Zália e sua família e é uma abordagem interessante (também vista em O Diário da Princesa e no modo com a família real britânica vem se portando diante a mídia nos últimos anos, por exemplo), de mostrar que membros das famílias reais são pessoas como quaisquer outras. 

O Reino de Zália também me agradou por causa de sua narrativa em primeira pessoa, a partir da perspectiva da princesa Zália, bem desenvolvida. Com um vocabulário jovem e escrita objetiva, a autora nos entrega uma narrativa que flui com rapidez e nos diverte com diálogos engraçados e o modo de pensar e ver o mundo dramático, mas apaixonado, típico de uma jovem garota.


OS PERSONAGENS

Se tivesse que reclamar de algo de O Reino de Zália, seria de seus personagens um pouco estereotipados. Contudo, trazendo personalidades que não surpreendem, a autora consegue nos cativar com elas e provocar identificação. 

Particularmente, eu amei a Zália e me vi bastante nela. Inteligente e gentil, ela é o tipo de garota que sempre seguiu as regras e nunca questionou o tanto de privilégios que tem. Contudo, felizmente, Zália amadurece ao longo da trama e aprende que, para o bem do seu povo e de si mesma, ela terá que parar de evitar conflitos e tomar decisões difíceis para conseguir o que quer. 

Os pais da garota também apresentam uma jornada interessante ao longo da trama. Me surpreendi em especial com revelações sobre a mãe dela, mas me cativei especialmente a trajetória de redenção pelo qual o pai dela passa, já que no início ele provoca muito ódio com sua ignorância e pouca confiança em Zália. Mas o rei aprende a admitir seus erros e no fim nos conquista mostrando que, apesar da coroa, ele também tem um coração de pai.

Infelizmente, os outros personagens são clichês que não se desenvolvem muito. Alguns possuem conflitos próprios, como os amigos de Zália e Enzo, seu segurança e ex-paixonite de infância, mas não o suficiente para os fazer se destacar. Eles são engraçadinhos, mas poderiam ter mais protagonismo e voz na trama sem serem apenas coadjuvantes e ajudantes para Zália...

A EDIÇÃO

O livro apresenta uma edição caprichada. A diagramação é simples, com um bom tamanho e tipo de fonte, e conta com páginas amareladas que deixam a leitura mais confortável. Eu absolutamente amei a capa de O Reino de Zália, foi uma das coisas que me despertou a vontade de ler a obra. A ilustração é simplesmente lindíssima, combina com a Zália que imaginei e traz elementos importantes para a trama, como a coroa, a câmera fotográfica e o vestido azul.


CONCLUSÕES FINAIS

O Reino de Zália é para a geração de hoje o que O Diário da Princesa foi para mim na minha adolescência. A história da jovem princesa é fofa e divertida, com muito drama e romance adolescente, mas faz boas alusões a situação política do nosso país e e como ele necessita de uma mudança em sua história de corrupção e favorecimento das classes mais altas. 

Sem dúvida é uma leitura que incentiva os jovens a se envolverem mais com questões sociais e políticas, mas que agrada leitores de qualquer idade. O Reino de Zália tem um cenário incrível e bem desenvolvido, além de uma narrativa gostosa e fluída. Nem preciso dizer que amei essa minha primeira experiência com a escrita da Luly Trigo e pretendo repeti-la no futuro.


Título: O Reino de Zália
Autora: Luiza Trigo
Editora: Seguinte
ISBN: 9788555340734
Ano: 2018
Páginas: 463
*Esse livro foi uma cortesia do Grupo Companhia das Letras
Compre: Amazon

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1 comentários:

  1. Oi
    não conhecia esse livro e parece ser uma leitura gostosa e envolvente, apesar de envolver uma parte politica, que bom que gostou da leitura e espero que curta as outras histórias da autora.

    http://momentocrivelli.blogspot.com

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