3.7.19

Resenha: Ichigo-ichie - Héctor García e Francesc Miralles


O LIVRO

Todos nós vivemos vidas ocupadas e corridas e é fácil se sentir preso na entediante rotina do dia a dia. Contudo, cada vez mais pessoas buscam um estilo de vida não só fisicamente, mas também mentalmente, mais saudável e livros como Ichigo-ichie se propõem a ajudá-las. O conceito japonês de mais de 500 anos prega uma ideia simples: cada momento da vida é único e deve ser apropriadamente vivenciado.

“É possível traduzir Ichigo-ichie como “uma vez, um encontro” ou “neste momento, uma oportunidade”. O que se quer transmitir é o fato de que cada encontro, cada experiência vivenciada, é um tesouro único que nunca se repetirá da mesma maneira. Portanto, se o deixarmos escapar sem desfrutá-lo, ele estará perdido para sempre.”

A obra de Héctor García e Francesc Miralles começa explicando o conceito de Ichigo-ichie e suas raízes na filosofia e cultura japonesa, para em seguida dar algumas orientações de como aplicá-lo na sua vida. Algo interessante é que Ichigo-ichie se utiliza não só de histórias de lendários filósofos e mestres de chá japoneses para explicar sua proposta, mas também de fábulas e histórias de personalidades reais como Steve Jobs, que sempre buscou e divulgou seu profundo interesse e inspiração na cultura asiática e no budismo.

Contudo, os autores de Ichigo-ichie não afirmam que você deve largar tudo e ir viver na natureza para verdadeiramente viver o Ichigo-ichie. Pelo contrário, eles sugerem como transformar momentos já rotineiros da sua vida (como um café com amigos) em encontros realmente únicos e bem aproveitados, dando dicas de como treinar, por exemplo, seu olhar e sua escuta para de verdade ver e ouvir o mundo e as pessoas ao seu redor. Mas mais do que incentivar mudança, o livro Ichigo-ichie te guia a apreciar as coisas como elas já são.


A LEITURA VALE A PENA?

Após ler e gostar bastante de Ikigai, fiquei curiosa para ler outras obras de Héctor García e Francesc Miralles, então Ichigo-ichie entrou para minha lista de leitura assim que foi lançado. E, talvez por minhas expectativas estarem muito altas, a obra não foi tudo o que eu gostaria que tivesse sido.

“’Quanto mais conscientes formos da raridade e do valor da vida, melhor saberemos como vivê-la.”

Ichigo-ichie é dividido em três partes, mas com apenas 176 páginas, é uma leitura leve e rápida. Mesmo tendo dois autores, a obra tem uma narrativa concisa e que flui bem. Algo eu gosto bastante é que García e Miralles vão direto ao ponto e mesmo contando histórias e dando muitos exemplos, eles não se estendem muito em assuntos que não precisam ser estendidos.

A primeira parte do livro, sobre a origem do conceito Ichigo-ichie é muito interessante e foi a minha favorita. O conceito por si só é muito simples e elegante, mas é interessante ler sobre como ele se relaciona a várias linhas filosóficas e a própria cultura japonesa. Para quem gosta de saber mais sobre o universo asiático, a leitura do livro vale a pena só por isso.

“Saboreie o momento como se fosse seu último suspiro. Só se pode viver um dia de cada vez, e ninguém sabe se acordará no dia seguinte. Portanto, não adie a felicidade. O melhor momento da vida é sempre o agora.”

A segunda e terceira partes se dedicam a como podemos nos treinar para viver o conceito de Ichigo-ichie e foi aí que a obra deixou a desejar para mim. Alguns conselhos e dicas que os autores dão são realmente muito interessantes e práticos, como quando eles sugerem alguns passos para transformar uma simples reunião de amigos em uma festa verdadeiramente Ichigo-ichie, por exemplo, baseando-se em métodos milenares das cerimônias do chá. Contudo, a maioria das recomendações são muito vagas e clichês, como se treinar o olhar para “verdadeiramente ver” o mundo, que é muito mais difícil do que os autores fazem parecer em um mundo tão visualmente poluído como o nosso.

Algo muito presente em Ikigai e que senti falta nesse livro foram as bases científicas para as recomendações que os autores dão. Eu entendo que não devem existir muitas pesquisas relacionadas ao conceito Ichigo-ichie, mas, por exemplo, quando mencionam as técnicas de Mindfulness, um modo realmente prático de se treinar a aproveitar o tempo presente, os autores poderiam ter explorado mais como esse tipo de meditação comprovadamente possui um efeito positivo na nossa saúde física e mental.

- Leia a resenha completa de Ikigai

Em resumo, Ichigo-ichie é um bom livro, mas que poderia ter sido mais. A leitura é leve e rápida, muito interessante para quem gosta de ler sobre cultura japonesa e filosofias asiáticas. Para quem busca uma inspiração para tentar viver melhor no tempo presente e aproveitar cada momento, o livro é uma boa inspiração mesmo, mas não um guia. As dicas dadas pelos autores para colocar o conceito Ichigo-ichie em prática são, em sua maioria, vagas e irrealistas. Para quem tem curiosidade de ler a obra, eu a indico, claro, só recomendo que, diferente de mim, a peguem sem grandes expectativas.

QUOTES FAVORITOS

“Torne-se amigo de si mesmo. Em vez de se comparar com os outros, de se preocupar com o que os outros pensam, assuma que você é um ser único no mundo.”

“aprender a ver a beleza das coisas também nos permite fazer com que se tornem belas.”


Título: Ichigo-ichie - A arte japonesa de transformar cada instante em um momento precioso
Título original: Ichigo-ichie - Haz de cada instante algo único
Autores: Héctor García e Francesc Miralles
Editora: Sextante
ISBN: 9788543107417
Ano: 2019
Páginas: 176
Compre: Amazon
*O exemplar digital lido foi uma cortesia da editora Arqueiro

- Leia a resenha de outra obra dos autores: Ikigai

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