A SÍNDROME DE ASPERGER
A Síndrome de Asperger é uma perturbação neurocomportamental de base genética, caracterizada por dificuldades significativas nos relacionamentos sociais e comunicação não-verbal, assim como interesses e padrões de comportamento restritos e repetitivos. A síndrome ganhou tal nome pois foi primeiro descrita pelo pediatra austríaco Hans Asperger, que observou em alguns de seus pacientes a falta de competências de comunicação não-verbal, com limitações em compreender os sentimentos dos outros e com descoordenação física.
O trabalho de Asperger, contudo, só começou a ser reconhecido nos anos 80, com os estudos da britânica Lorna Wing, que cunhou o termo Síndrome de Asperger. Ao longo das décadas seguintes, grupos diversos de pesquisadores, ao redor do mundo, refinaram os critérios para diagnóstico para a síndrome, que começou a aparecer em manuais médicos. Foi se tornando cada vez mais perceptível, através dos estudos, que os pacientes com Asperger compartilhavam determinadas características com outros dentro do Espectro do Autista. Então, por fim, em 2013, o DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais V) removeu a síndrome como um diagnóstico separado, considerando-a como um tipo de autismo de grau mais leve (ou de alto funcionamento).
Já se sabe bastante sobre autismo (e Asperger), mas ainda há lacunas nas pesquisas e dúvidas que seguem sem resposta. Particularmente, alguns pesquisadores e ativistas chamam atenção para a falta de dados sobre ambos em mulheres. Grande parte dos estudos foram conduzidos em crianças do sexo masculino, facilitando para que as garotas se tornassem a parte invisível do Espectro Autista (tanto que muitas só são diagnosticadas após o reconhecimento do transtorno em seus filhos). Em se tratando de Asperger (ou autismo de grau leve), algumas diferenças são perceptíveis quando comparamos homens e mulheres.
As garotas com autismo de grau leve também possuem dificuldades na comunicação verbal e no reconhecimento de linguagem corporal, figuras de linguagem e sentimentos. Muitas também apresentam movimentos repetitivos, alta sensibilidade a determinados estímulos (como sons e luz) e dificuldade de fazer e manter relações sociais. Entretanto, surpreendentemente, as garotas parecem ter um pouco mais interesse nas outras crianças do que os meninos, e elas conseguem disfarçar algumas de suas dificuldades sociais imitando o comportamento de outras meninas. Garotas no espectro também apresentam interesses obsessivos, mas enquanto os garotos são fascinados com coisas “incomuns”, como mapas e trens, as meninas desenvolvem interesses profundos, mas socialmente aceitos, como música, literatura, jogos e cavalos.
O LIVRO E A AUTORA
Partindo justamente das diferenças entre as mulheres e os homens autistas, esse livro têm, como objetivo, compartilhar mais sobre as características das mulheres no grau mais leve do espectro, ao mesmo tempo em que as empodera. O público de Aspergirls é bem específico, jovens mulheres com Síndrome de Asperger e, um pouco além, seus pais. Em seus 23 capítulos a obra fala sobre imaginação, papéis de gênero, sexo, relacionamentos, escola, faculdade e emprego, aprendizado, maternidade, diagnóstico, medicação, tratamentos e muito mais. Aspergirls é quase um guia de como navegar pela vida (da infância e vida adulta ao envelhecimento) sendo uma garota no espectro. No final de cada capítulo há dicas para mulheres com Asperger e para pais, conselhos práticos que podem elevar bastante a qualidade de vida das meninas e mulheres no espectro.
A norte-americana Rudy Simone, a autora do livro, mistura suas próprias experiências com pesquisas científicas e trechos dos relatos de várias mulheres, que também estão no espectro, que ela entrevistou. Simone conta sobre a sensação de crescer sabendo que era diferente, mas sem saber o porquê. Após muitos anos lutando para manter empregos e relacionamentos, assim como criar uma filha (que não é autista), o diagnóstico não só libertou Simone, mas lhe deu um propósito de vida. Hoje ela é autora de livros, ativista e consultora no assunto, além de uma inspiração.
VALE A PENA LER?
Sim, estando no espectro ou não, sendo mulher ou não. Aspegirls não é um livro perfeito, mas definitivamente merece a leitura para quem tem interesse em ler sobre autismo. Publicado em 2010, sinto que a obra acabou ficando um pouco “datada”, já que após quase uma década, as pesquisas avançaram bastante e algumas coisas mudaram, como o fato de o termo Síndrome de Asperger não ser mais oficial e muito mais gente saber sobre o transtorno. Contudo, o livro traz uma descrição aprofundada, rica e pessoal sobre como é ser uma mulher com grave leve de autismo que, acredito, nenhuma outra obra, ou estudo, trouxe até hoje.
Ao dissecar todos os aspectos da vida de uma garota/mulher com Asperger, da infância, a escola, a faculdade, ao emprego, ao casamento, aos filhos até a velhice, Simone nos ensina muito sobre autismo, mas de uma forma humana. Ela não só lista sintomas e tratamentos, mas dá voz a si mesma e as muitas outras mulheres do espectro, mostrando como cada uma delas é única, com personalidades e visões próprias, independente de compartilharem os sintomas da síndrome. Para cada um dos tópicos que aborda, a autora expõe opiniões diferentes e contrastantes, assim como suas próprias experiências.
Para quem está no espectro ou tem alguém próximo com o transtorno, Aspiegirls é uma leitura ainda mais rica. Como diz no subtítulo, o objetivo do livro é empoderar as mulheres no espectro, então além de dar voz a elas, traz dicas preciosas e realistas para aumentar a qualidade de vida e lidar com as limitações e dificuldades que vêm junto ao transtorno. Algo que também me cativou foi o fato de Simone não focar só no ruim, mas realçar o lado único do transtorno e as coisas boas que ele pode trazer, como uma facilidade de aprender habilidades sozinha, ou interesses obsessivos que podem acabar se tornando uma fonte de renda.
Infelizmente, Aspergirls: Empowering Females With Asperger Syndrome não ganhou uma tradução no Brasil. Contudo, a narrativa de Simone é fluída e objetiva, e não muito técnica. Assim, acho que qualquer pessoa com um nível médio na língua inglesa consegue ler a obra tranquilamente. Em conclusão, o livro não é perfeito, mas foi uma leitura enriquecedora e que recomendo para todos que possuem interesse em saber mais sobre autismo.
Título: Aspergirls: Empowering Females With Asperger Syndrome
Autora: Rudy Simone
Editora: Jessica Kingsley Publishers
ISBN: 9781849058261
Ano: 2010
Páginas: 240
Compre: Amazon
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