17.2.19

[Crítica] Tudo sobre The Umbrella Academy e super-heróis humanos


OS QUADRINHOS E A SÉRIE

The Umbrella Academy, série da Netflix, se originou dos quadrinhos de mesmo nome escritos por Gerard Way (sim, o vocalista da banda My Chemical Romance) e ilustrados por Gabriel Bá (premiado quadrinista brasileiro). O primeiro volume, A Suíte do Apocalipse, foi lançado em 2008 e o segundo, Dallas, em 2009. Agora, dez anos depois, com a trama retratada nas HQ ganhando também as telas e fazendo novos fãs, foi anunciado que saga da família de super-heróis disfuncionais terá continuação em um terceiro volume, chamado de Hotel Oblivion.

A primeira temporada da série The Umbrella Academy mistura acontecimentos e personagens dos dois primeiros HQ’s. Há diferenças nos acontecimentos dos quadrinhos e do seriado, claro, mas a trama principal se mantém. Tudo começa quando nascimentos estranhos acontecem ao redor do mundo e o milionário Sir Reginald Hargreeves adota sete dessas crianças inesperadas e as leva para sua casa, que chama de Umbrella Academy. 

Com ajuda de um mordomo macaco (dr. Pogo), e uma babá robô (Mãe), Hargreeves cria os “filhos” para serem super-heróis, já que quase todos possuem poderes especiais. Contudo, os métodos rígidos e extenuantes acabam levando a morte de uma das crianças, o desaparecimento de outra e um trauma geral nos que restaram. Assim, depois de uma infância incomum como super-heróis, cada uma das crianças da Umbrella Academy segue sua própria vida. Um se vicia em drogas, outro viaja para lua, uma das garotas vira uma celebridade. Agora adultos, eles têm apenas em comum um passado sóbrio que querem esquecer.

Contudo, os super-heróis da Umbrella Academy se reúnem uma última vez quando Sir Reginald morre. Logo as tensões e mágoas antigas voltam, e em meio a discussões e brigas, eles começam a se perguntar se há algo de estranho na morte do pai. A maior surpresa ainda estava por vir, na verdade, na forma de uma anomalia temporal. Número 5, o membro desaparecido da família, retorna de uma longa viagem no tempo. Apesar de estar no seu corpo de criança, ele viveu muitos anos sozinho, no futuro, onde descobriu que o mundo irá acabar uma semana depois da morte do pai. Só pessoas com superpoderes, claro, poderiam evitar esse terrível apocalipse. Mas será que uma família tão disfuncional como essa vai conseguir parar de brigar por 5 minutos e salvar o mundo?


QUEM SÃO OS PERSONAGENS

The Umbrella Academy tem um grande número de personagens, mas todos com personalidades, e histórias, bastante próprias e incomuns. Começando pelos protagonistas, uma família disfuncional de super-heróis que é regida por um milionário genial e cruel, Sir Reginald Hargreeves, uma babá robótica que chamam de Mãe e o dr. Pogo, um mordomo macaco.

Inicialmente as crianças foram chamadas por números pelo Sir Reginald, e depois nomeadas por Mãe. Tom Hopper interpreta o Número 1, Luther, que possuiu um corpo de um macaco gigante e superforça. Ele se ressente de todos os outros terem abandonado o pai, mas ainda acredita que pode unir todos mais uma vez. O Número 2, claro, está sempre brigando com 1. Diego (David Castañeda) pode curvar qualquer objeto e usa suas habilidades para combater o crime, o que sempre o coloca em confusões com a polícia da cidade.

Allison (Emmy Raver-Lampman) é a Número 3, que usou sua habilidade de controlar mentes criando rumores para se tornar uma celebridade amada. Contudo, foi justamente seu poder que acabou afastando-a de sua filha. O Número 4 também leva uma vida problemática. Robert Sheehan vive Klaus na série, um viciado que usa os entorpecentes para calar sua habilidade de conversar com os mortos. Mas nenhuma droga consegue o fazer se livrar do fantasma de Ben (Justin H. Min), o Número 6, morto tragicamente por causa da escuridão que carregava dentro de si e que lhe dava poderes. 

A família Hargreeves perdeu outro membro, Número 5 (Aidan Gallagher), que é capaz de se teletransportar no espaço e no tempo. Sempre rebelde, 5 não ouviu o pai e viajou no tempo antes de estar preparado, e acabou ficando preso no futuro pós-apocalítico. Mas é justamente a volta dele que fará com que os irmãos tentem superar suas diferenças para salvar o mundo. E por fim, a única sem poderes, Vanya (Ellen Page) é a Número 7. Uma violinista odiada pelos irmãos por ter escrito um livro sobre eles. Contudo, tudo o que Vanya, sendo completamente ordinária, deseja é ser aceita como membro de verdade da família. 

Se os heróis fogem do óbvio, o mesmo acontece com os vilões. Mary J. Blige vive Cha-Cha e seu parceiro, Hazel, é interpretado por Cameron Britton. Juntos, e usando máscaras infantis, eles caçam e tentam matar o Número 5. Assassinos profissionais e viajantes no tempo, sua atual e difícil missão acaba os fazendo questionar o seu relacionamento como colegas de trabalho e a misteriosa organização para a qual trabalham.


VALE A PENA ASSISTIR THE UMBRELLA ACADEMY?

Definitivamente sim. Até mesmo se, como eu, você não é muito chegado em histórias de super-herói. The Umbrella Academy aposta em um equilíbrio perfeito entre comédia, suspense e ação. A trama traz alguns momentos recheados de muito humor sarcástico, mas não usa os alívios cômicos para apagar a violência, o medo e todos os demais aspectos sombrios da vida de seus super-heróis. 

O mais interessante é que a série não é sobre salvar o mundo do apocalipse em si, e sim sobre as belezas e terrores que unem os membros de uma família. The Umbrella Academy é sobre um pai obsessivo e seu lar disfuncional, sobre jovens adultos tentando superar os traumas do passado sem perderem sua identidade. É sobre deixar que sua família veja sua vulnerabilidade, é sobre se fortalecer não com suas habilidades, mas com suas fraquezas. E, principalmente, The Umbrella Academy é sobre ciclos de violência. Se alguém quebrou o espírito e a mente de uma criança, qual a possibilidade dela fazer o mesmo no futuro, consigo mesmo e com os outros? E como quebrar esses ciclos com a união familiar?

The Umbrella Academy também se destaca por trazer super-heróis humanizados, a ponto de nos fazer questionar o que realmente separa um herói de um vilão. Afinal, é justificável matar uma pessoa? Mas e se a morte dessa pessoa salvar a vida de milhões? Nos fazendo questionar os nossos ideiais de bondade e maldade, The Umbrella Academy ainda mostra que, por trás de uma máscara, seja de vilão ou de herói, há uma pessoa, com sonhos, desejos, medos e insegurança. Nesse ponto, Klaus, Alisson e Hazel se tornaram meus personagens favoritos. Ao mesmo tempo em que lidam com fim do mundo e tudo mais, Klaus luta contra o vício, Alisson sofre pela separação da sua filha, e Hazel reflete sobre como criar uma identidade pessoal sendo apenas mais uma “abelha operária” do sistema. 

Apesar de trazer mensagens nem um pouco leves, The Umbrella Academy não deixa de lado o que mais nos fascina em histórias de super-heróis, coisas omo vilões mascarados, lutas armadas, explosões, perseguições, viagens no tempo, organizações maléficas e muito mais. A trama é agregada de muitas cenas de ação, que ajudam a melhorar o ritmo dos episódios. The Umbrella Academy não é perfeita, claro. Alguns momentos da série se arrastam, com diálogos desnecessariamente longos e acontecimentos previsíveis. Em vários momentos podemos perceber, claramente, falas e acontecimentos banais cujo único objetivo é servir de gancho para os próximos episódios. Contudo, a trama é muito bem amarrada e, mesmo muitas de suas “grandes” revelações não surpreendendo, elas ainda assim são capaz de prender a nossa atenção e nos emocionar.

A produção de The Umbrella Academy também precisa ser elogiada por seu visual e trilha sonora. Apesar de um dos personagens esclarecer que a trama se passa em 2019, e outro fazer uma menção ao eBay, a série segue outros sucessos da Netflix com uma ambientação mais atemporal. Não vemos os personagens usarem celulares ou demais aparelhos modernos; ou mencionarem acontecimentos ou personalidades do momento. É até fácil se confundir no início com tantas referências visuais do passado, especialmente dos anos 60 (com saias rodadas e lanchonetes vintage). Contudo, detalhes como esse apenas agregam um visual mais interessante a série, deixando-a com uma estética que lembra bastante histórias em quadrinho.

Se fotografia conversa bem com a trama, o mesmo serve para trilha sonora. The Umbrella Academy se utiliza de uma playlist eclética, que vai desde música clássica (com belos solos de violino por causa da Vanya), até Queen, Sex Pistols e, obviamente, My Chemical Romance. As músicas casam perfeitamente o que vemos na tela, seja uma cena de ação, tensão ou comédia. Outro fator que, pessoalmente, me fez gostar mais ainda da série foi seu elenco diverso. The Umbrella Academy traz atores brancos, negros, latinos e asiáticos, todos bastante talentosos e com personalidades complexas, que nada tem a ver com os clichês geralmente ligados a sua etnia. 

Apesar de ter apenas 3 mulheres protagonistas, em comparação aos outros seis personagens masculinos, as mesmas são cativantes e bem utilizadas. Mesmo diante conflitos “tradicionalmente femininos”, como maternidade e relacionamentos heterossexuais, a série tenta fugir de alguns clichês. Alisson, por exemplo, ama muito a filha e sofre por estar separada dela, mas quebra com a ideia da maternidade perfeita ao assumir que usou seus poderes na filha porque nem sempre é fácil lidar com uma criança. The Umbrella Academy, felizmente, não cai no erro de colocar mulheres como inimigas por motivos fúteis (como disputar a atenção de um homem), mas nossas heroínas e vilãs se enfrentam, seja porque é seu trabalho ou porque querem salvar/destruir o mundo, na mesma medida em que se unem. Alisson e Vanya tentam criar uma amizade verdadeira deixando ciúmes e as disputas por poder da infância para trás para trás, enquanto Cha-Cha questiona sua lealdade a empresa para a qual trabalha.

Em resumo, The Umbrella Academy não é perfeita, mas traz muito potencial de boas horas de entretenimento que nos cativa e faz refletir.


O QUE ESPERAR DA SEGUNDA TEMPORADA?

Infelizmente, a Netflix ainda não renovou The Umbrella Academy para uma segunda temporada, apesar da sua ampla aceitação pelo público geral e especializado. Os dez episódios da primeira temporada se encerram com um final completamente aberto, que deixa espaço para muitas possibilidades da evolução da trama e dos personagens. Contudo, há alguns temas, em especial, que esperamos que sejam abordados em uma possível segunda temporada! 

ATENÇÃO! O TRECHO ABAIXO CONTÉM SPOILERS DA 1ª TEMPORADA DA SÉRIE

Primeiro de tudo, a segunda temporada de The Umbrella Academy definitivamente deve explorar para onde (e quando) os protagonistas foram após incapacitar Vanya. E se, como o Número 5, eles também retornaram ao seu corpo de criança com sua personalidade e memória adulta intactas.

Com poderes recém-descobertos, tanto Vayna quanto Klaus devem enfrentar a velha questão “grandes poderes vêm com grandes responsabilidades”, e mudar a dinâmica da família, já que agora todos sabem que Vayna não é mais “ordinária” e Klaus é muito mais poderoso do que pensavam. E em relação ao Klaus, vem a questão de Ben. Que papel ele assumirá na família como fantasma e como saber que ele ainda habita o mundo dos vivos vai influenciar os outros protagonistas?

Imagino que na segunda temporada também veremos Luther aprender que ser o Número 1, o líder da equipe, não envolve resolver tudo sozinho e sim entrar em união e acordo com os outros membros. Creio também que 5 e Klaus, tendo experiência com viagem no tempo, devem ajudar os restantes dos membros a lidar com a nova aventura que estão vivendo. E, por fim, uma segunda temporada de The Umbrella Academy poderia responder várias perguntas surgidas na primeira: como Ben morreu? Como exatamente o dr. Pogo foi criado? Como Sir Reginald sabia do apocalipse? E será que o fim do mundo realmente poderá ser evitado?

Por enquanto, infelizmente, essas perguntas continuam em aberto. Mas, se a Netflix decidir renovar The Umbrella Academy e seguir o mesmo padrão de suas outras séries, é bem capaz que novidades e respostas, assim como uma segunda temporada, cheguem em Fevereiro de 2020.

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2 comentários:

  1. Ainda não assisti ao seriado e não sabia que era escrito pelo vocalista do My Chemical Romance, agora fiquei interessada! Vou assistir e depois volto para ler o trecho final.

    beijos
    http://www.alivromaniaca.com.br/

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