Os romances históricos e de época, em geral, têm uma tendência de mostrar o passado em sua forma mais glamourosa e rica possível. Mas, se por um lado, todos aqueles vestidos bufantes, passeios em carruagens decoradas e bailes esplendorosos deviam ser uma coisa e tanto de se ver e de se viver, por outro, não deve ter sido nada fácil estar vivo nessa época. Tirando o óbvio, a falta de direito das mulheres e a exploração dos pobres, toda essa complexa cultura, em especial da Era Vitoriana inglesa, trazia regras rígidas que, com certeza, tornavam um simples chá com um amigo um verdadeiro evento.
Ter sorte suficiente de nascer em uma família rica te livrava de vários problemas na Era Vitoriana (demarcada pelo reinado da Rainha Vitória, no Reino Unido, de junho de 1837 a janeiro de 1901), como ter que trabalhar, e te dava melhor acesso a comida e saúde, entre outras coisas. Mas, com certeza, para pertencer a nata da sociedade você precisava viver como eles viviam, o que por si só poderia ser uma dor de cabeça. Nesse ponto, grande parte dos romances de época são sábios, já que mostram que coisas simples, como se vestir e tirar aquela pessoa que você gosta para dançar, até decisões de vida ou morte, como com quem se casar, não eram feitas com frivolidade se você não queria acabar envolvido em um escândalo.
E em um momento social em que estar na hora errada, no lugar errado, como sozinha em uma biblioteca com um homem que não é da sua família, poderia criar todo um alvoroço, as roupas também eram levadas muito a sério. Especialmente para as mulheres, claro, que eram vigiadas de tão perto a ponto de que mostrar um centímetro do tornozelo poderia significar a ruína social.
Como as mulheres de vestiam no século 18 (não exatamente na Era Vitoriana, mas ainda similar)
Uma coisa que as tramas de época e históricas me ensinaram é que nunca foi fácil ser mulher. Na Era Vitoriana, as jovens ricas não podiam escolher com quem dançar ou se casar; não podiam tomar decisões legais sobre si mesmas ou possuírem propriedades; não davam um passo fora de casa sozinhas e ter uma profissão era simplesmente absurdo e inimaginável. Claro que, na história real, houve exceções, mas as mulheres que conseguiram quebrar regras tão rígidas foram minoria.
E se cada ação, na Era Vitoriana, era vigiada e pautada por uma regra de etiqueta rígida, as roupas não eram diferentes. Contudo, não é por acaso que esse é o aspecto deste momento histórico que mais desperta curiosidade. Primeiramente, claro, o vestuário era rico e fabuloso. A aristocracia, em especial, tinha dinheiro para gastar e qual melhor maneira de mostrar sua riqueza, sem ser "deselegante" e falar diretamente sobre ela, do que usando vestidos e ternos esplendorosos? Dentro dos limites apertados da etiqueta social, a moda da época tentava inovar como possível, experimentando com tecidos diversos, do algodão e da a lã a seda e ao veludo, e complementando as roupas lindas com jóias e acessórios.
E se você, como eu, já leu livros como os da série As Modistas e já se perguntou como diabos as mulheres vitorianas faziam para entrar e sair dos vestidos, a internet está aqui para ajudar! Completamente por acaso, encontrei no Youtube canais como o priorattire, que demonstram, de forma historicamente acurada, como era lidar com as dezenas de camadas de roupas da Era Vitoriana. Eu não sei vocês, mas eu fiquei simplesmente fascinada, e viciada, em vídeos como esses!
Passo a passo para vestir roupa íntima e espartilho vitoriano
Emma Stone em A Favorita
Então, também acharam os vídeos fascinantes? É bem legal ver um pouco de como as mulheres da Era Vitoriana se vestiam, não é mesmo? E, para quem ainda está curioso, saiba mais sobre a moda durante o reinado da Rainha Vitória:
As mulheres vitorianas eram tão vaidosas quanto os homens, preciso salientar. Mas, curiosamente, mesmo as regras sendo mais rígidas para com elas, o vestuário feminino era bem mais amplo e criativo. E esse é outro motivo pelo qual a moda feminina da época me fascina, afinal, era uma das poucas áreas onde as mulheres podiam exercer sua criatividade e escolher por si mesmas. A importância e empoderamento da moda, nessa época, é destacada na maravilhosa série As Modistas, de Loretta Chase. Divertidos e sensuais, os quatro livros da saga ainda trazem protagonistas femininas empoderadas e exploram os bastidores de um ateliê que atende a alta sociedade londrina.
“Elas [irmãs Noirot] faziam as roupas de Clara e a haviam ensinado que um vestido era uma forma de arte e de manipulação, além de um modo de expressão.” quote página 18 do livro Romance Entre Rendas
E se você, como eu, já leu livros como os da série As Modistas e já se perguntou como diabos as mulheres vitorianas faziam para entrar e sair dos vestidos, a internet está aqui para ajudar! Completamente por acaso, encontrei no Youtube canais como o priorattire, que demonstram, de forma historicamente acurada, como era lidar com as dezenas de camadas de roupas da Era Vitoriana. Eu não sei vocês, mas eu fiquei simplesmente fascinada, e viciada, em vídeos como esses!
Recriação de um vestido para dia e caminhada da década de 1860
Por causa de sua longa duração, a Era Vitoriana teve tendências menores diversas. As saias, por exemplo, começaram modestas, para se tornarem bastante rodadas e amplas, para depois ficarem mais volumosas só atrás e, no final do período, se tornarem novamente estreitas. É preciso lembrar também que cada ocasião pedia uma roupa: um vestido de baile não era o mesmo de um para jantar ou para caminhar; na cidade se usava roupas que não se usavam no campo; as jovens solteiras, casadas e as viúvas tinham trajes diferentes, e por aí vai...
Mas, em geral, o vestuário feminino da Era Vitoriana foi caracterizado pelo recato e as cinturas marcadas e finas. As roupas tinham muitos babados, rendas, laços, golas altas, mangas bufantes, luvas sem dedos ou longas, saias volumosas, etc. Para alcançar a silhueta perfeita, as mulheres usavam espartilhos, crinolinas e outros aparatos debaixo das roupas. O reinado da Rainha Vitória tornou a moda da época extremamente recatada, em especial quanto a parte inferior do corpo, que não deveria ficar à mostra (nem mesmo um vislumbre do pé e do tornozelo era aceitável). No final da Era Vitoriana, com o luto da rainha, se passou a usar predominantemente cores escuras, mas vibrantes, como preto, roxo, carmesim, púrpura.
Então não, não era fácil se vestir na Era Vitoriana. E, pesquisando sobre o assunto, e vendo os vídeos de todo o ritual que era necessário para entrar dentro das roupas, aqui estão algumas lições valiosas que aprendi:
1 - Ajuda era indispensável
Pelos vídeos é possível perceber que era quase uma jornada heroica se vestir sem a ajuda de outra pessoa. Uma criada (ou uma irmã ou uma prima, para as mais pobres) não era um item de luxo e sim uma necessidade, afinal, a mulher, sozinha, dificilmente conseguia prender e amarrar as roupas nas costas, assim como abotoar os pequenos botões de roupas e luvas.
2 - A moda íntima também mudou bastante
Hoje nos parece absurdo (e desnecessário) as camisas, camisolas, calções volumosos e espartilhos que as mulheres usavam debaixo da roupa na época. Mas eles foram os precursores das calcinhas e sutiãs que conhecemos hoje. Por isso, é interessante ver como a moda íntima também se revolucionou desde aquela época, se tornando mais prática e confortável.
Passo a passo para vestir roupa íntima e espartilho vitoriano
3 - Sapatos primeiro!
Algo que mais me surpreendeu foi descobrir que, após a roupa mais íntima, claro, um dos primeiros itens a serem vestidos eram os sapatos. Afinal, com o espartilho e as sais tão volumosas, as mulheres não conseguiam se curvar para se calçar! Agora é fácil entender porque a Cinderela deixou o sapatinho de cristal para trás- ela não conseguiria calçá-lo sozinha de novo!
4 - Espartilhos eram cruéis
Eles dão uma silhueta linda? Sim. Mas só pela dificuldade de vesti-los já tornam os espartilhos questionáveis. Contudo, hoje sabemos também que o acessório faz mal para a saúde. Obviamente, por restringir o movimento do peito e da barriga, os espartilhos tornam a respiração mais difícil, já que sua caixa torácica não pode se expandir naturalmente para a entrada do ar (o que provavelmente explica porque as mulheres da época desmaiavam com facilidade). Além disso, como a Emma Stone descobriu recentemente, trabalhando no filme de época A Favorita, os espartilhos são muito doloridos e comprimem o tronco tal forma que os órgãos se deslocam! Sério, seus órgãos saem do lugar, o que, para mim, basicamente torna o espartilho um instrumento de tortura!
Saiba mais:
Emma Stone em A Favorita
5 - A ilusão do vestido
Outra coisa que me chocou foi notar que, em muitos dos looks, as mulheres na verdade não estão usando vestidos de verdade e sim saias e jaquetas. Contudo, como as duas peças combinavam, sendo feitas do mesmo tecido ou da mesma cor, criavam a ilusão de que a mulher estava usando um vestido inteiro.
6 - Moda e direitos das mulheres andam de mãos dadas
Roupas são um modo de expressão. E vídeos que mostram a evolução do vestuário só na Era Vitoriana deixam claro que, conforme o tempo passa, as roupas vão se tornando mais confortáveis e práticas, permitindo mais movimento e liberdade para as mulheres. O que não é uma coincidência, já que com uma rainha tão forte quanto Vitória, as mulheres de todas as classes começaram a questionar a opressão sobre a qual viviam e lutar por mais direitos e liberdade. E uma das maneiras, na época, que encontraram para tal foi determinando o que vestiam e criando roupas que refletissem seus novos ideais.
Recriação da moderna roupa para ciclismo do final da Era Vitoriana, que incluía calças!
Veja mais vídeos:
Leia as resenhas dos livros da quadrilogia As Modistas
Eu amo esses figurinos :D
ResponderExcluirhttps://www.submersaempalavras.com/
Ameii
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