20.1.19

Resenha: A Diferença Invisível - Julie Dachez e Mademoiselle Caroline


A HISTÓRIA DA HQ

Marguerite é uma jovem de 27 anos. Todo dia ela acorda no mesmo horário, veste os mesmos tipos de roupa, faz o mesmo caminho para o trabalho, volta, e dorme na sua cama, sozinha, com tampões de ouvido e uma máscara que bloqueia a luz. À primeira vista, ela é como qualquer outra pessoa de sua idade. Mas, barulhos comuns a incomodam, ela odeia festas e não tem muitos amigos. Marguerite tem dificuldade de conversar com as pessoas, nunca sabe o que dizer e expressar o que está sentindo, até mesmo com seu namorado de longa data.

Coisas rotineiras para outras pessoas, como passar a noite na casa de alguém, são grandes desafios para Marguerite, que sabe que é diferente, só não sabe porquê. Até que um dia ela resolve, mais uma vez, buscar uma explicação. E dessa vez ela encontra. Ao começar a ler sobre Síndrome de Asperger, transtorno neurocomportamental que faz parte do Espectro Autista, Marguerite começa a se identificar bastante com os quadros e casos clínicos descritos. Assim, a mulher entra em uma jornada de autodescobrimento e equilíbrio. Em busca de um diagnóstico, Marguerite acaba também exercitando a autoaceitação e entendendo que, em vez de mudar a si mesma, ela deve mudar o mundo ao seu redor para superar suas maiores dificuldades.

AS AUTORAS

A Diferença Invisível foi publicada originalmente em 2016, na França, e logo traduzido e lançado em vários países do mundo. A própria HQ explica que, apesar de fictícia, a personalidade e a vida de Marguerite foi inspirada em uma das autoras, Julie Dachez. Inclusive, Marguerite é o nome do meio de Dachez. Descobrir que era autista, aos 27, mudou a vida da autora, que sempre se sentiu deslocada e diferente das pessoas ao seu redor. Como mostrado na HQ, o diagnóstico veio como um alívio para Dachez, depois de anos e mais anos de busca por uma explicação para as dificuldades que tinha, especialmente sensoriais e sociais. Ciente de que não era a única que passou por tal situação, Dachez escreveu o roteiro de A Diferença Invisível para transmitir um pouco de sua jornada de autodescoberta e aceitação, ao mesmo tempo em que dá um gostinho de como é viver com Síndrome de Asperger. E sua história se transformou nos lindos quadrinhos que conhecemos hoje apelas mãos da ilustradora Mademoiselle Caroline.


A LEITURA DE A DIFERENÇA INVISÍVEL: DESENHOS, CORES E TRAMA

Eu não peguei A Diferença Invisível de forma imparcial. Em busca de obras que falassem sobre o Transtorno do Espectro Autista, especialmente em mulheres, descobri a HQ e fiquei imediatamente louca para lê-la. Devorei a obra no dia que a recebi em casa e, como esperado, imediatamente me apaixonei.

Começando pelo mais óbvio, o visual de A Diferença Invisível é lindo e impecável. Mademoiselle Caroline tem um traço delicado e muito bonito. Eu gostei muito de como a HQ misturou narração com balões de fala, assim como quadrinhos tradicionais e, em alguns momentos, páginas inteiras de desenhos únicos. A ilustração de A Diferença Invisível é simplesmente genial, já que consegue transmitir muito do que a protagonista está sentindo. Por exemplo, é impossível não se sentir igualmente agoniado como Marguerite quando esta se encontra em um ambiente muito barulhento ou uma conversa desconfortável. O que mais me surpreendeu foi o belíssimo e inteligente uso de cores na HQ. A Diferença Invisível começa muito cinza, com destaques vermelhos quase que agressivos, mostrando como a vida da protagonista era triste e conturbada. Contudo, conforme Marguerite vai se descobrindo e se libertando, A Diferença Invisível ganha mais cores e e os desenhos se tornam ainda mais belos e singelos.

Em relação a trama, a obra não traz muitas reviravoltas inesperadas. Mas A Diferença Invisível, mesmo previsível, não deixa de ser uma leitura muito emocionante e impactante. A HQ tem um humor bem sutil, porém inteligente, que deixa a leitura ainda melhor. Nos cativamos rapidamente a protagonista e sofremos e celebramos ao seu lado. Mesmo quem está fora do Espectro Autista vai entender as dores e temores de Marguerite, assim como vai ficar feliz em vê-la mais livre e feliz no final da obra. Todo mundo, em algum momento da vida, já se sentiu diferente e deslocado, como a protagonista, o que torna impossível não se identificar, e torcer por ela. E além de ser uma leitura muito fofa, rápida e divertida, A Diferença Invisível é um livro que tem muito a nos ensinar.


CONCLUSÕES FINAIS - VALE A PENA LER A DIFERENÇA INVISÍVEL?

Mais do que falar sobre autismo, A Diferença Invisível é uma história sobre ser diferente em um mundo muitas vezes cruel com quem foge do padrão. A obra questiona, e nos faz refletir: afinal, por que as pessoas devem sofrer por serem quem são e tentarem mudar a si mesmas em vez do mundo, e as outras pessoas ao seu redor, se esforçarem para se adaptar a elas, e serem mais gentis? Acima de tudo, A Diferença Invisível desperta em nós empatia para com pessoas dentro do espectro ou não. Afinal, todos somos únicos de uma maneira ou outra, então devemos buscar aprender a viver com as diferenças.

Essa HQ é um manifesto sobre a importância da autoaceitação e do amor próprio. Para a protagonista, e a autora de A Diferença Invisível, o diagnóstico foi essencial, claro, mas ela só realmente mudou e se tornou mais feliz e mais livre não porque recebeu o nome de uma síndrome, mas porque se esforçou para tal – uma mensagem muito importante, no meu ponto de vista. Contudo, A Diferença Invisível deixa claro que o diagnóstico, em muitos casos, é sim importante, já que é através dele que a pessoa vai conseguir encontrar ajuda especializada da qual precisa.

E, em quesitos de retratar a vida de uma pessoa dentro do Espectro Autista, essa HQ precisa ser aplaudida. Ao se inspirar em uma pessoa real, a própria autora, A Diferença Invisível traz um relato muito realista, honesto e educativo sobre como é ter Síndrome de Asperger e conviver com uma mulher dentro do espectro. Tanto que pessoas que já tem algum conhecimento sobre o assunto podem se “entendiar” pelo livro ficar explicando aspectos básicos sobre o Espectro Autista, mas esse é um detalhe cuidadoso e essencial para quem está tendo seu primeiro contato com o assunto. Inclusive, achei muito interessante encontrar, no final da HQ, uma espécie de guiazinho ilustrado sobre a história do e sobre o que é autismo.

Em resumo, sem sombra de dúvida, eu recomendo A Diferença Invisível para absolutamente todos. Com mensagens importantes e poderosas, essa HQ é uma maneira fácil de aprender sobre Autismo, ao mesmo tempo em que nos divertimos com a história fofa e emocionante da autodescoberta de uma jovem mulher. Eu absolutamente amei essa HQ e pretende relê-la sempre que possível, já que a leitura é fácil, divertida e inspiradora.


Título: A Diferença Invisível
Título original: La Différence Invisible
Autoras: Julie Dachez e Mademoiselle Caroline
Editora: Nemo
ISBN: 9788582863985
Ano: 2017
Páginas: 192
Compre: Amazon

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1 comentários:

  1. Peguei esse livro na escola eu simplesmente adorei, e ainda nem comecei direito

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