22.11.18

Resenha: O Que Me Faz Pular - Naoki Higashida


O AUTOR

Nascido em 1992 no Japão, Naoki Higashida foi diagnosticado com autismo severo aos cinco anos. Tendo dificuldades para se comunicar verbalmente, ele aprendeu a ler e escrever com o auxílio de uma espécie de teclado de papelão com ajuda de sua mãe e professores. Desde então, Higashida vem escrevendo ensaios, poesias e pequenas histórias, tendo citado muitas vezes em entrevistas, e em O Que Me Faz Pular, que ser capaz de se comunicar pela escrita o faz se sentir humano. Higashida publicou esse livro aos 13 anos, que foi traduzido posteriormente para diversas línguas. Entre ficções e não ficção, livros infantis, poesias, ensaios e contos, o autor já publicou 21 obras, se tornando um dos mais premiados e conhecidos no Japão.

“Mas, tendo começado a me comunicar por texto, agora sou capaz de me expressar através da prancha de alfabeto e de um computador, e, por poder compartilhar o que sinto, percebo que eu também existo neste mundo como um ser humano.” pág. 48


O LIVRO

O Que Me Faz Pular reúne 58 oito perguntas frequentes sobre autistas, mais pequenas poesias e um conto. Com uma escrita intimista, Higashida conversa com o leitor sobre questões como porque autistas têm dificuldade de olhar nos olhos das pessoas, porque estão sempre correndo, ou porque são tão exigentes com a comida. Com sinceridade, bom humor e sensibilidade, o autor nos faz encarar o mundo da sua forma, como um garoto autista com limitações, mas que não é definido apenas por seu diagnóstico.

“Veja bem, para nós, o autismo é normal, então não temos como saber que os outros chamam de ‘normal’. Porém, a partir do momento em que aprendemos a os amar, não sei bem se faz diferença termos autismo ou não.” pág. 84

Quando a capa de O Que Me Faz Pular estampa a frase “palavras de um menino que rompem com o silêncio do autismo” não é exagero de forma alguma. Tendo como Higashida, muitas vezes, dificuldades de se comunicar verbalmente, pouco se sabia como as crianças autistas viam e experienciavam o mundo. Partindo de suas próprias experiências, Higashida narra como o transtorno afeta sua mente e sua vida, proporcionando-lhe uma visão única das coisas e pessoas ao seu redor. As respostas do autor são curtas e diretas, mas bastante esclarecedoras, além de emocionantes e divertidas.


Através de O Que Me Faz Pular também percebemos que, diferente do que aparenta, os autistas percebem muita coisa ao seu redor e que só porque não são tão eficazes em se comunicar em alguns casos e situações, não significa que eles não queiram ou que lhe faltem sentimentos ou ideias. Pelo contrário, ao explorar o modo diferente do de pessoas típicas de ver o mundo, Higashida também revela como pessoas autistas são, em última instância, como quaisquer outras: capazes de sentir alegria e raiva, desejosas por carinho e interação, preocupadas como os outros as veem, capazes de aprender, donas de personalidades complexas e imaginação rica, e muito mais.

Em resumo, a leitura de O Que Me Faz Pular é incrível. Além de esclarecer dúvidas comuns sobre autismo, o autor ainda nos encanta com suas belas e inteligentes poesias. A obra se encerra ainda com um conto mais longo, e impactante, que metaforiza como a dificuldade de se comunicar com quem amamos é dolorosa. É impossível não se cativar e se emocionar com as palavras de Higashida. Além disso, O Que Me Faz Pular nos torna um pouco mais empáticos e conscientes das limitações de pessoas que estão no Espectro do Transtorno Autista, mas também de suas identidades únicas, e como veem o mundo e a vida de forma diferente. Nenhuma surpresa que O Que Me Faz Pular se tornou um dos meus livros favoritos da vida e que recomendo para absolutamente todas as pessoas, especialmente as que têm curiosidade, seja casual ou acadêmica, em entender um pouco mais o autismo.


A EDIÇÃO

Infelizmente, a única tradução de O Que Me Faz Pular no Brasil não é fácil encontrar para compra. Essa edição, de 2014, traz uma diagramação simples, mas que combina com o estilo direto ao ponto do autor. A tradução está perfeita e não me lembro de ter encontrado erros ou ao menos trechos confusos. O livro conta com folhas amareladas e de material resistente. As páginas, além de apresentarem um bom tipo e tamanho de fonte, são recheadas com imagens abstratas muito bonitas, no estilo da que estampa a capa. E falando nela, a capa de O Que Me Faz Pular é bonita e atrativa, e combina com a obra (ainda mais o azul sendo a cor símbolo das campanhas relacionadas ao autismo).


QUOTES FAVORITOS

“Você deve estar pensando: ‘Ele nunca vai aprender?’ Sabemos que estamos deixando vocês tristes e chateados, mas sinto dizer que é como se não tivéssemos escolha, e é isso. Mas, por favor, façam o que fizerem, não desistam de nós. Precisamos de sua ajuda.” pág. 36

“Cada vez que alguém me subestima, eu me sinto extremamente infeliz – como se não tivesse nenhuma chance de um futuro decente. Compaixão de verdade significa não pisar na autoestima alheia. Pelo menos é assim que eu penso.” pág. 38

“Em poucas palavras, aprendi que cada ser humano, com ou sem deficiências, precisa se esforçar para fazer o melhor possível e, ao lutar para conseguir felicidade, ele a alcança.” pág. 84

“Enquanto escrevo, lembro do que vi, não em forma de cenas, mas como letras e símbolos. Letas, símbolos e sinais são meus melhores aliados, pois nunca mudam. Continuam sempre os mesmos, fixados na minha memória. E, quando estamos solitários ou felizes, da mesma forma como vocês poderiam cantarolar uma música para si mesmos, nós convocamos nossas letras. Enquanto eu escrevo, posso me esquecer de todo o resto.” pág. 89


Título: O Que Me Faz Pular
Título original: Jiheisho no boku ga tobihaneru riyu
Autor: Naoki Higashida
Editora: Intrínseca
ISBN: 9788580574975
Ano: 2014
Páginas: 192
Compre: Amazon

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1 comentários:

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