19.11.18

10 livros sobre escrita de autores famosos


Seja apenas por curiosidade, porque gosta de escrever também ou estuda o assunto. Mas é fato que muita, muita gente (inclusive eu!) ama ler dicas e reflexões sobre escrita de autores já consagrados. É bastante interessante, e enriquecedor, conhecer a rotina de escrita de nomes como George Orwell, saber quando Margaret Atwood começou a escrever, ou ver como Haruki Murakami enxerga a profissão milenar. Volta e meia eu encontro por aí ou descubro obras assim, por isso hoje resolvi reunir em uma listinha especial 10 livros sobre escrita de autores famosos! Sem delongas, vamos conhecê-los:

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Negociando com os mortos - Margaret Atwood

E começando com o livro de uma mulher, uma das escritoras que eu mais admiro e uma das autoras canadenses mais conhecidas. Margaret Atwood é romancista, poetisa, contista, ensaísta e crítica literária, autora de mais de 50 obras entre ficção e não-ficção, coletâneas de poesia, ensaios e até livros infantis. Recentemente, a autora conquistou uma nova onda de fãs ao redor do mundo com adaptações de duas de suas obras mais famosas: O conto da aia e Vulgo Grace. A importância de Margaret Atwood é incontestável, tanto que em 2002 ela foi convidada para dar um ciclo de palestas na Universidade de Cambridge, uma das mais antigas e famosas do mundo.

E tais palestras viraram o livro Negociando com os mortos, uma obra não com dicas sobre escrita, mas uma reflexão profunda sobre o que é ser escritor. Já em 2002 Atwood tinha mais de 40 anos de experiência na profissão, então sua contribuição ao tema é gigantesca. Negociando com os mortos traz 6 capítulos, uma versão escrita e expandida das palestras da autora em Cambridge. No 1º deles, Atwood conta sua própria história (aos 7 anos ela escreveu sua primeira peça de teatro) para explicar o que é ser escritor. No 2º capítulo, a autora contrasta a figura "dupla" do escritor, e como o nome que está nas capas dos livros e a pessoa de carne e osso são bem diferentes. Esta discussão leva ao 3º capítulo, sobre o conflito entre arte e mercado. O poder social e político de um escritor é tema do capítulo 4. A relação escritor-texto-leitor é abordada no 5º. E no sexto e último capítulo, Margaret Atwood defende a tese de que toda narrativa é motivada pelo fascínio da mortalidade e pelo medo desse fascínio.

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Sobre a escrita - Stephen King

Outro autor conhecido por suas obras terem chegado aos cinemas e televisão é Stephen King. O americano é um dos mais traduzidos do mundo e um revolucionário no gênero de terror. King já publicou mais de 70 livros, entre ficção e não-ficção, romances e contos. E, curiosamente, um de seus livros mais famosos é justamente uma reflexão sobre a arte da qual ele fez sua profissão. Sobre a escrita - A arte em memórias foi premiado como um dos 100 melhores livros de não ficção de todos os tempos! Na obra, King conta sobre sua difícil e criativa infância, a luta contra drogas e álcool e o famoso acidente que quase tirou sua vida. Em uma mistura de memórias com dicas práticas pessoais e de outros escritores também, Sobre a escrita é um guia de uma vida dedicada à literatura. King explora a importância da leitura para os escritores, e como a arte da escrita é mais do que uma profissão, mas um estilo de vida e um motivo para estar vivo.


Cartas a um jovem poeta - Rainer Maria Rilke

Rainer Maria Rilke é considerado como um dos mais importantes poetas modernos da literatura e língua alemã, com um inovador e incomparável estilo lírico. Suas obras tiveram grande influência sobre mais de uma geração de poetas. Alguns de seus textos, no Brasil, foram traduzidos pro grandes nomes da poesia brasileira, como Manuel Bandeira (traduziu "Torso arcaico de Apolo”) e Cecília Meireles (“A canção de amor e de morte do porta-estandarte Cristóvão Rilke”). Além de ter sido um dos mais importantes poetas do século XX, Rilke escreveu muitos textos importantes em prosa, entre eles Cartas a um jovem poeta. O livro foi publicado em 1929, três anos após a morte de Rilke, mas as correspondências que compõem o livro são originalmente de 1903 a 1908. Nas cartas, Rilke responde aos questionamentos de Franz Kappus (na época um poeta indeciso entre a carreira literária e a militar), também expondo suas opiniões sobre a criação artística, a necessidade de escrever, Deus, o sexo e o relacionamento entre os homens, o valor nulo da crítica e até mesmo a solidão do ser humano. Cartas a um jovem poeta é, com certeza, um leitura enriquecedora e interessante para qualquer um, escritor ou não.

Cartas a um jovem escritor e suas respostas - Fernando Sabino e Mário de Andrade

O título é semelhante, mas essa coletânea de cartas surgiu em um contexto bem diferente: o início dos anos 40 no Brasil. Os autores, claro, dispensam apresentações. Quando era apenas um jovem escritor  mineiro de 18 anos, Fernando Sabino recebeu uma das maiores honras já naqueles tempos: uma carta de Mário de Andrade. Contudo, ironicamente, essa carta veio de uma certa desavença dos dois. Tudo começou com Mário de Andrade tendo aceitado, para posteriormente recusar ser padrinho do casamento de Sabino. Depois, veio uma correspondência a Paulo Mendes Campos, em que Andrade escreveu: "Tenho uma enorme esperança em você, muita no Hélio [Pellegrino], alguma no Otto [Lara Resende] e nenhuma no Fernando [Sabino]".

A primeira carta a Fernando Sabino veio como forma de se desculpar, e apesar de terem feito as pazes, seu relacionamento com Mário de Andrade era complicado. Ao longo das cartas publicadas em Cartas a um jovem escritor e suas respostas, é possível melhor entender o relacionamento cheio de provocações dos dois grandes autores brasileiros, enquanto se acompanha uma discussão sobre o papel social da arte e a atitude do artista diante das vicissitudes do mundo. Mário de Andrade até dá dicas para Sabino, e, curiosamente, recomenda a leitura de Rainer Maria Rilke. Não só para refletir a escrita, Cartas a um jovem escritor e suas respostas parece também uma boa obra para explorar a história da literatura e da política no Brasil.


Confissões de um jovem romancista – Umberto Eco

Como Atwood, Umberto Eco, escritor, filósofo, semiólogo e linguista conhecido por sucessos como O nome da rosa e O pêndulo de Foucault, foi convidado para dar um ciclo de palestras e acabou transformando-as em livro. Na Universidade Emory (em Atlanta, Estados Unidos), o autor italiano falou sobre Literatura Moderna, começando por explorar a fronteira entre ficção e não ficção - passeando por esse limite de forma ao mesmo tempo divertida, sincera e brilhante. Confissões de um jovem romancista traz quatro ensaios-confissões, nos quais o autor aborda a construção de narrativas ficcionais e de personagens, os bastidores de uma produção literária, o desenvolvimento do pensamento criativo, a interação com os leitores e muito mais. Apesar de mais técnico e com muitas dicas objetivas de escrita, Confissões de um jovem romancista fala também da história de Eco, que por sinal é bem interessante, já que ele publicou seu primeiro livro aos 50 anos. Para completar, o livro é bem curtinho (tem só 162 páginas), ou seja, uma leitura rápida e bastante enriquecedora.

Ofício de escrever - Frei Betto

Um dos autores brasileiros mais publicados e premiados da contemporaneidade, Frei Betto é um escritor mineiro, autor de 60 livros, e também reconhecido por sua atuação em defesa dos direitos humanos e a favor dos movimentos sociais. Para comemorar sua longa trajetória como autor, tendo escrito ficção, obras religiosas e vários artigos para jornais, Frei Betto decidiu dedicar esse livro, Ofício de escrever, para falar e refletir sobre o ato de escrever como profissão e como missão de vida. O livro discorre sobre os hábitos, técnicas e os pequenos macetes do autor, que oferece dicas preciosas para estudantes, professores e aspirantes a escritor. Betto também examina os processos criativos e a técnica de autores diversos, como William Shakespeare, Miguel de Cervantes, Antoine de Saint-Exupéry, T.S. Eliot e os mineiros Bartolomeu Campos de Queirós e Adélia Prado, entre outros. Apesar de, particularmente, discordar de alguns pontos do livro, Ofício de escrever passa uma mensagem muito legal sobre a literatura como um meio poderoso de comunicação, que muda a vida de uma pessoa; sendo o ato de escrever mais do que uma paixão e sim um meio de sobrevivência, de encontrar a felicidade.

- Saiba mais na resenha completa de Oficio de escrever


Lições de Literatura - Vladimir Nabokov

Apesar de escrever desde a adolescência, o sucesso demorou para chegar para Vladimir Nabokov. Ele sempre complementava a sua renda de alguma outra forma, entre elas dando aulas. E não foi diferente quando ele emigrou para os Estados Unidos, nos anos de 1940. Nabokov deu aulas de literatura em várias universidades antes de se tornar conhecido por Lolita. E só depois da fama que os manuscritos dessas aulas foram reunidos em dois volumes autônomos: um que aborda especialmente romances russos e esse, Lições de literatura, que é mais geral. Nesse livro, Nabokov examina clássicos como Mansfield Park; Madame Bovary; O médico e o monstro, A metamorfose, e até mesmo Ulysses. Vi em uma resenha que as lições de Nabokov são bem aprofundadas, e exigem leitura prévia das obras citadas. Contudo, Lições de literatura é uma leitura que vale a pena, com ensinamentos interessantes, entre outras coisas, sobre como estruturar a narrativa, desenvolver personagens e entrelaçar os diferentes temas de uma história.

O Zen e a Arte da Escrita – Ray Bradbury

Ray Bradbury publicou mais de 500 contos, histórias, romances, roteiros e poemas, sendo que sua primeira história foi publicada em uma revista quando ele tinha apenas 20 anos. Seu livro mais famoso, Fahrenheit 451 é uma homenagem aos livros e à literatura, e já considerado um clássico. E tanta experiência literária é reunida para nosso prazer em O Zen e a Arte da Escrita. Nessa coletânea de ensaios, Bradbury começa do básico, abordando como devemos lidar com a criatividade, desenvolver histórias, personagens e o hábito de escrita, e muito mais. Em meio as lições de O Zen e a Arte da Escrita ainda encontramos um pouco da trajetória e do método do próprio autor, que reflete sobre a escrita como profissão e, mais do que tudo, compartilha o seu grande amor pela literatura.


Do que eu falo quando falo de corrida e Romancista como vocação

E as duas últimas dicas são do mesmo autor, Haruki Murakami, escritor japonês traduzido para mais de quarenta idiomas e que recebeu importantes prêmios. Entre suas obras mais famosas está a trilogia 1Q84 e Kafka à beira-mar. Seus livros que abordam escrita também são bastante conhecidas. Em Do que eu falo quando falo de corridaMurakami conta sua história em relação ao esporte e a profissão. No início dos anos 80 ele decidiu vender seu bar de jazz em Tóquio para se dedicar à escrita, mesmo período que começou a correr para se manter em forma. Agora um dos autores mais importantes da atualidade, o escritor é também um maratonista experimentado e um triatleta. Do que eu falo quando falo de corrida é um livro bem-humorado e sensível, que reflete a influência que o esporte teve em sua vida e, sobretudo, em seu texto. Uma lição sobre a importância de se treinar a criatividade como se treina o corpo. Já em Romancista como vocação, Murakami aborda melhor seu processo de criação, questões da vida de um escritor profissional, a dificuldade de se manter no mercado, e muito mais. Elogiado por transitar bem entre a ficção, ensaio e reportagem, o autor revela um pouco mais do seu ofício como escritor.


E é isso! Espero que tenham gostado da listinha de hoje! Vocês conheciam essas 10 obras? Já leram algum desses livros ou escritores? E qual autor famoso que abordou o ofício de escrever em sua obra e você sentiu falta de ver aqui?

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