A HISTÓRIA
Antes, na Era da Mortalidade, as pessoas morriam o tempo todo. Agora que a Nimbo Cúmulo, uma evolução da nuvem de dados, tomou o lugar dos governo e rege a sociedade de forma perfeita e incorruptível, doenças, conflitos sociais e problemas ambientais foram erradicados, assim como a morte. A tecnologia agora nos permite rejuvenescer sempre que quisermos e viver décadas a fio. Contudo, para impedir o crescimento eterno da população, foi criada uma organização chamada de Ceifa, a única que não está sob domínio da Nimbo Cúmulo. Seus membros, chamados de ceifadores, são os únicos treinados e livres para matar.
“- Sinto pena de você – Citra disse. - Mesmo quando está comprando comida, a morte está escondida atrás do leite.
- Ela nunca se esconde – o ceifador disse com um cansaço muito difícil de descrever. - Ela nunca dorme. Logo vocês vão aprender isso.” pág. 66
Citra e Rowan eram jovens comuns até serem escolhidos como aprendizes por um ceifador. Ambos foram bons alunos, que nunca tinham pensado muito sobre a morte ou sequer considerado se tornar um ceifador. Mas enquanto Citra é uma garota questionadora e excessivamente dedicada a tudo o que faz, Rowan vive de forma mais despercebida o possível, aceitando a falta de sentido e emoções em habitar o mundo perfeito. O mestre dos dois adolescentes, o ceifador Faraday, os faz olhar para tudo com novos olhos.
Diferente de outros ceifadores, que vivem no luxo, como celebridades, Faraday leva uma vida discreta e dedicada a Ceifa. Ele prega a compaixão e paciência na hora de coletar a vida de pessoas, mas também a disciplina e a dedicação total a sua profissão. Enquanto Citra se assusta ao perceber que gosta de estudar a arte de matar, Rowan teme o quanto o poder de ser um ceifador lhe parece atraente. A estranha e sombria vida que eles passam a levar se torna cada vez mais complicada enquanto adentram o mundo dos ceifadores. Logo fica claro que a Ceifa é uma instituição corrupta, cheia de jogos de poder e pessoas com propósitos cruéis e perigosos. Será que Citra e Rowan vão sobreviver a experiência? Pois definitivamente não há volta para o caminho que estão trilhando.
A SÉRIE, O AUTOR E EXPECTATIVAS PARA O LIVRO
O Ceifador é o primeiro volume da trilogia Scythe, de Neal Shusterman. Os dois primeiros livros já foram publicados no Brasil e espera-se que o terceiro seja lançado no exterior em 2019. A saga acompanha os jovens Citra e Rowan no mundo dos ceifadores, pessoas escolhidas para matar em um mundo onde as mortes naturais, assim como doenças e problemas sociais, foram erradicadas. Uma distopia futurística, sombria e bastante intrigante, O Ceifador traz várias reflexões sobre morte, vida, humanidade, poder, governo e mais.
Há algum tempo ouço elogios a O Ceifador, mas o que me fez querer o livro, de verdade, foi o seu autor. Conheci Neal Shusterman em outra distopia, Fragmentados, mas me apaixonei pela escrita do autor no drama jovem adulto O Fundo é Apenas o Começo. Assim, peguei O Ceifador intrigada, mas com baixas expectativas – o que acabou sendo positivo, já que a leitura não foi perfeita, mesmo sendo bastante impactante.
Conheça mais obras do autor:
A LEITURA: TEMÁTICAS, TRAMA E NARRATIVA
O Ceifador me fascinou logo a princípio com seu cenário distópico, mas bastante próximo do nosso. Na verdade, em alguns pontos a obra se aproxima mais de uma utopia, já que nos transporta para um mundo onde a tecnologia, através de uma evolução da Nuvem de dados que já conhecemos, se tornou capaz de reger a sociedade com perfeição, erradicando doenças, fome e demais problemas. Contudo, nem tudo é perfeito no paraíso e Shusterman explora a banalidade da vida em uma sociedade imortal e sem problemas. Entretanto, o foco de O Ceifador é outro: a corruptibilidade do ser humano.
A maior e mais importante crítica da história é a facilidade com que as pessoas se corrompem diante o poder, cedendo a seus instintos mais sombrios e cruéis sem pensar duas vezes. Nesse ponto, O Ceifador traz uma mensagem muito relevante: a tecnologia, por si só, não consertará todos os problemas da humanidade. Mas o autor não se prende a uma noção dualista e simplista de bondade e maldade, e mostra que as duas geralmente andam de mãos dadas, inseparáveis. Entretanto, no final, O Ceifador traz alguma esperança: todos nós podemos ceder a crueldade, ou podemos escolher diariamente fazer o melhor que pudermos.
A maior e mais importante crítica da história é a facilidade com que as pessoas se corrompem diante o poder, cedendo a seus instintos mais sombrios e cruéis sem pensar duas vezes. Nesse ponto, O Ceifador traz uma mensagem muito relevante: a tecnologia, por si só, não consertará todos os problemas da humanidade. Mas o autor não se prende a uma noção dualista e simplista de bondade e maldade, e mostra que as duas geralmente andam de mãos dadas, inseparáveis. Entretanto, no final, O Ceifador traz alguma esperança: todos nós podemos ceder a crueldade, ou podemos escolher diariamente fazer o melhor que pudermos.
“(…) pois o poder vem infectado com a única doença que nos resta: a natureza humana. Temo por todos nós se os ceifadores começarem a amar o que fazem.” pág. 102
Apesar das críticas importantes e bem feitas, a trama de O Ceifador deixa um pouco a desejar. Apesar de trazer vários momentos sombrios e mortais, a obra não tem tanta ação quanto eu esperava e alguns momentos da leitura são bem parados. Gostei de que apesar de insinuar um interesse romântico entre os protagonistas, Shusterman não insiste em um romance que não teria qualquer espaço ou sentido nesse volume da série. As cenas de batalhas são bacanas, mas O Ceifador explora mais a interação entre ceifadores e aprendizes, e a corrupção, crueldade e mistérios que se escondem na instituição. Jogos de poder e intrigas sustentam a trama, que se encerrou de forma perfeita e emocionante. Apesar de vários pontos monótomos, a história termina de forma perfeita e eletrizante, além de surpreendente.
Quanta a narrativa, Shusterman não está tão poético e metafórico como em O Fundo É Apenas o Começo. Contudo, isso não é um problema. O Ceifador é uma obra mais voltada para a crítica social, então a narrativa mais objetiva e bastante fluída é perfeita para o livro. Um detalhe especial que amei foi o autor ter colocado, entre os capítulos, trechos dos diários dos ceifadores que aparecem ao longo da história. Esses fragmentos nos permitem conhecer melhor os personagens, assim como a dinâmica do mundo criado pelo autor e seus problemas.
Quanta a narrativa, Shusterman não está tão poético e metafórico como em O Fundo É Apenas o Começo. Contudo, isso não é um problema. O Ceifador é uma obra mais voltada para a crítica social, então a narrativa mais objetiva e bastante fluída é perfeita para o livro. Um detalhe especial que amei foi o autor ter colocado, entre os capítulos, trechos dos diários dos ceifadores que aparecem ao longo da história. Esses fragmentos nos permitem conhecer melhor os personagens, assim como a dinâmica do mundo criado pelo autor e seus problemas.
OS PERSONAGENS
O Ceifador tem muitos personagens, mas o autor soube criar e desenvolver todos eles, a ponto de não nos confundirmos sobre quem é quem. Os secundários são criaturas fascinantes e muito importantes na história, com trajetórias próprias entrelaçadas a dos protagonistas. Durante a leitura odiamos alguns, como o ceifador Goddard e seus seguidores, e nos intrigamos com os misteriosos, como a ceifadora Curie (conhecida como a Dama da Morte por matar o último presidente da história). Mas o mais interessante e cativante personagem secundário é o ceifador Faraday. Um homem justo e paciente, mas firme e exigente, ele é o melhor mestre que os mocinhos podiam desejar. De início Faraday parece frio e irritante, mas logo se revela uma pessoa honesta e com uma história tão emocionante quanto a dos protagonistas.
E falando nos mocinhos, é impossível nãos e cativar e se identificar com eles. Citra e Rowan se parecem bastante, são jovens nascidos em um mundo perfeito e, ao longo da história, obrigados a olhar para a verdade (que o mundo é caótico e cheio de problemas) e a lidar com isso. Eles amadurecem bastante ao longo de O Ceifador e é interessante observá-los crescer. Eu adorei Citra por sua personalidade questionadora e explosiva, e me identifiquei mais com ela do que com Rowan graças a sua vontade de dar o seu melhor em tudo o que faz, mesmo que isso seja ser uma ceifadora. Contudo, ao longo da obra ela aprende que não pode mudar o mundo sozinha e que nem sempre a força de vontade é o suficiente para lidar com seus inimigos e problemas.
Já Rowan acha que nada do mundo tem relação com ele. O garoto prefere passar despercebido e fazer o mínimo possível, o que me irritou um pouco no início. Contudo, Rowan sempre se mostra uma pessoa gentil e que se importa muito com todos ao seu redor, o que torna impossível não gostar dele. Rowan sofre ainda mais que Citra em sua jornada durante O Ceifador, mas é bom vê-lo crescer e começar a enfrentar as coisas. Sua relação com Citra é cheia de altos e baixos, mas muito fofa. Eles se tornam grandes amigos e há espaço para mais, apesar de o autor sabiamente não explorar isso nesse livro. Contudo, não vou mentir e torci para eles se tornem um casal nos próximos volumes!
A EDIÇÃO
O Ceifador tem uma edição excelente. O texto não traz qualquer erro e a tradução é muito boa. A obra tem páginas amareladas e um bom tamanho e tipo de fonte. Eu amo a capa de O Ceifador, ela é bonita e intrigante, e combina com o ar jovem da obra. Além disso, a imagem representa bem um elemento importante da história: os mantos usados pelos ceifadores. O amarelo e vermelho brilhantes e chamativos usados na capa casaram bem e passam o ar impactante e envolvente presente no livro.
CONCLUSÕES FINAIS
A leitura de O Ceifador tem, como único ponto negativo, algumas partes mais paradas. Para uma distopia jovem, o livro não tem tanta ação quanto eu esperava. Contudo, eu amei a obra. A distopia traz críticas incríveis e importantes sobre vida, morta, humanidade, poder, corrupção e tecnologia. O Ceifador nos envolve bastante em um cenário futurístico muito próximo do nosso no qual a tecnologia solucionou todos os problemas, menos a tendência a corrupção e a crueldade dos humanos. Impactante e surpreendente, a história é também sombria e emocionante. O final de O Ceifador é de tirar o fôlego e me deixou ansiosa para ler os próximos volumes da série, assim como confiante de recomendar o livro para todos.
QUOTES FAVORITOS
“- (…) o ceifador é apenas o instrumento da morte, mas é a mão de vocês que me move. São vocês, seus pais e todas as outras pessoas neste mundo que controlam os ceifadores. - Então, depositou a faca delicadamente nas mãos dela. - Somos todos cúmplices. Vocês precisam dividir essa responsabilidade.” pág. 20
“Ela sempre quis levar uma vida significativa e fazer a diferença. Como ceifadora, isso seria possível. Sim, teria sangue em suas mãos, mas o sangue podia ser purificador.” pág. 113
não conhecia:)
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