16.9.18

Resenha: Céu Sem Estrelas - Iris Figueiredo


A HISTÓRIA

Cecília acaba de fazer 18 anos, mas não sente que tem muito pelo o que comemorar. Ela não sabe quem seu pai é, perdeu seu emprego na livraria, não fez nenhuma amizade na faculdade e vive entrando em conflito com a mãe. Às vezes, Cecília sente que tudo é demais e que vai se afogar nos sentimentos sombrios que, de tempos em tempos, a tomam. Mas, mesmo uma bagunça por dentro, Cecília se força a sorrir e guarda seus problemas para si. Ela odeia incomodar as pessoas e gosta menos ainda de mostrar o que está sentindo.

“Cecília era uma caixinha de segredos e mentiras, tentando encobrir as partes feias da vida e pintar uma versão melhor de si mesma para o mundo.” Bernado, pág. 161

Bernado sabe que é sortudo pela vida que tem, mas não consegue não se sentir… vazio. Intercalar as aulas da faculdade com festas, bebidas e mulheres só é divertido até certo ponto. Contudo, Bernado não sabe o que mais fazer no seu tempo, afinal, um relacionamento está fora de questão e estudar não é tão animador assim. Bernado só consegue se desligar da sua rotina fútil, do casamento em pedaços dos pais e da sua irmã irritante, Iasmin, quando está lendo, o que não o impede de continuar sentindo que algo está faltando em sua vida. Cecília daria tudo para ter uma família perfeita como de sua melhor amiga, Iasmin. Mas isso está muito longe do seu alcance. Prova disso é que a mãe a expulsa de casa sem qualquer hesitação.

Cansada de ser tratada como um estorvo pela mãe, e não querendo sobrecarregar a avó, Cecília recorre a Iasmin. Claro que a família da melhor amiga a acolhe, mas mesmo com um teto sobre sua cabeça, Cecília ainda não consegue se sentir bem. As coisas começam a mudar um pouco quando ela se aproxima de Bernado. Cecília tem uma paixonite pelo irmão da amiga há anos, mas nunca achara que um dia ele a notaria. O que ela não sabe é que só agora Bernado percebeu que Cecília é uma mulher atraente e muito intrigante. Ele quer descobrir todos os seus segredos, mas ela não se entregará assim tão fácil. Mesmo que a atração entre os dois seja inevitável, será que Cecília permitirá que Bernado veja a bagunça dentro dela?


TEMÁTICAS DO LIVRO

Céu Sem Estrelas chamou minha atenção por causa da capa fofa e dos vários elogios a obra que vi pela internet. Eu não conhecia a autora, apesar de seu nome não me ser estranho, mas decidi encarar a o livro sem ao menos ler a sinopse. E que surpresa (boa) que foi! Nas primeiras páginas de Céu Sem Estrelas eu já estava dando boas risadas dos diálogos rápidos e afiados entre Cecília e Bernardo. Contudo, logo ficou claro para mim que esse não seria um romance fofinho e descontraído sobre um casal, supostamente, proibido. Pelo contrário, a partir do clichê conhecido, a garota que se apaixonada pelo irmão da melhor amiga, Céu Sem Estrelas traz uma história arrebatadora sobre família e saúde mental, com pitadas de romance.

Além dos relacionamentos familiares tóxicos dos protagonistas, e a luta de Cecília contra o que logo notamos ser o início de um transtorno mental, Céu Sem Estrelas fala sobre gordofobia, autoimagem, autoestima, automutilação, insegurança, ansiedade, e, entre outros temas menores mais, sobre as pressões e o vazio existencial experimentado pelos jovens da contemporaneidade. Não vou mentir, são temáticas sérias, que a Iris Figueiredo trata com a devida seriedade e cuidado. O que torna a história, sem sombra de dúvida, pesada e sombria em vários momentos. A leitura em si não faz o leitor sentir mal, mas transmite bem a tensão e a dor pelas quais os personagens estão passando, por isso é impossível não se emocionar. Inclusive, um adendo aqui que o livro pode acabar sendo gatilho para quem passa ou já passou por momentos de vulnerabilidade mental.


NARRATIVA, TRAMA E PERSONAGENS

Mesmo com assuntos carregados, que não são abordados com levianidade, Céu Sem Estrelas é uma leitura rápida e muito cativante. A autora intercala bem os momentos mais sombrios como cenas fofas e divertidas entre Cecília e suas amigas, e românticas entre a heroína e Bernado, sem banalizar os primeiros, claro. A escrita objetiva e fluída de Figueiredo também ajuda nesse quesito, mesmo sendo bastante intimista e se aprofundando no que os personagens estão pensando e sentindo. A narrativa em primeira pessoa é intercalada entre Cecília e Bernado, o que deixa a trama mais dinâmica, e consegue nos passar bem diferentes aspectos da história e de cada um deles. 

E falando na trama, ela traz alguns clichês, mas também algumas surpresas. A história é construída não sobre grandes acontecimentos, mas sim sobre a jornada mental, e seus altos e baixos, dos dois protagonistas. O que, claro, torna-a ainda mais impactante e emocionante. Chorei especialmente no final, que nos faz prender o fôlego e desejar que o livro tivesse mais páginas (apesar de que é um desfecho bom e feliz). Um detalhe que adorei é que, como os mocinhos são leitores ávidos, Céu Sem Estrelas faz referência a livros dos mais diversos gêneros, de romance a ficção científica, dicas que anotei prontamente!

“- Posso ficar ao seu lado enquanto você sara?
Não havia outra resposta para aquele pedido.
- Pode.” pág. 306

Todo o livro gira em torno dos protagonistas, mesmo Céu Sem Estrelas tendo bons secundários (que gostaria de ver em suas próprias obras). Inclusive, fiquei feliz em saber que uma personagem muito citada nesse livro, Mariana, é protagonista da duologia da autora Confissões On-line, que fiquei bem curiosa para ler. Falando melhor dos protagonistas de Céu Sem Estrelas, eles são tão complexos e humanos que é impossível não se identificar com ambos, e torcer por eles, em alguma medida. O que mais gostei foi que os personagens se desenvolvem juntos, mas também separados. Eles não se fundem em uma pessoa só quando começam a se envolver, e sim passam a crescer juntos, com apoio um do outro. Ao longo de Céu Sem Estrelas, Bernado, que é um fofo, encontra algo ao que se dedicar e alguém para amar, e lutar ao seu lado. Enquanto isso, Cecília, uma mulher inteligente e uma guerreira, aprende a perceber a própria força, a se aceitar, mas também a pedir ajuda.


A EDIÇÃO

Um livro que, obviamente, foi escrito com tanta pesquisa e carinho, mais do que merecia a excelente edição que tem. A diagramação de Céu Sem Estrelas traz alguns detalhes fofos, como desenhos representando posts em redes sociais. Não percebi qualquer erro no texto, que traz um bom tamanho e tipo de fonte. As páginas cor de creme ajudam a deixar a leitura ainda mais rápida. Mas o grande trunfo de Céu Sem Estrelas é a capa e contracapa. Equilibrando bem tons bonitos de azul, rosa, roxo e branco, a capa traz uma cena importante da trama e a contracapa um elemento de destaque na história, um fusca azul. Sem falar que a ilustração imitando um céu estrelado é muito fofa e singela.

CONCLUSÕES FINAIS

Céu Sem Estrelas foi uma excelente surpresa. Diferente do que eu esperava, o livro abordou temáticas pesadas com responsabilidade, mas sem deixar de ter momentos fofos de amizade e romance. Falando sobre relacionamentos familiares e saúde mental, a obra traz protagonistas muito humanos pelos quais acabamos por torcer, além de secundários divertidos. A trama segue a jornada individual e como casal dos mocinhos, cheias de altos, baixos e desafios mentais para cada um deles. Questões sobre gordofobia, autoimagem, autoestima, automutilação, insegurança, ansiedade, ataques de pânico, entre outros, pode tornar o livro um gatilho, por isso não recomendo a obra para todo mundo. Contudo, Céu Sem Estrelas é uma obra singela e emocionante demais, que me proporcionou uma leitura muito cativante e cheia de reflexões bacanas. Estou bastante curiosa para ler mais livros da autora.


QUOTES FAVORITOS

“Ele me puxou para mais perto e meu desejo aumentou. Foi como se apertassem o botão que lugava todos os meus sentidos. Minhas mãos criaram vida própria. Puxei seu cabelo e aprofundei o beijo, cheia de vontade. A mão dele foi descendo pela minha cintura e parou em um ponto estratégico, me deixando louca. Como conseguia fazer aquilo com apenas um beijo?” pág. 138

“- Família é quem a gente escolhe.” pág. 332

“- Não existe um céu sem estrelas, Cecília. Mesmo quando estão cobertas pelas nuvens, ainda estão lá. A gente só não consegue enxergar.
- É como a esperança – ela começou, pensativa. - Sempre existe uma saída, mesmo que a gente não consiga enxergar.” pág. 347

“O amor é paciente. Ele é feito de respeito e apoio mútuos.” Cecília, pág. 349

Título: Céu Sem Estrelas
Autora: Iris Figueiredo
Editora: Seguinte
ISBN: 9788555340697
Ano: 2018
Páginas: 360
*Esse exemplar foi uma cortesia da editora
Compre: Amazon

Comente com o Facebook:

0 comentários:

Postar um comentário

Sinta-se a vontade para expressar a sua opinião, para divulgar o seu site/blog ou para elogiar ou criticar o blog! Lembrando que comentários com conteúdos agressivos, ofensivos ou inadequados serão excluídos.

(Você também pode entrar em contato comigo por e-mail, formulário ou pelas redes sociais. Saiba mais na página "Contato".)