A HISTÓRIA
Um dia, Anna foi a Doutora Fox, uma médica psiquiátrica que tinha tudo: uma grande lista de pacientes, um marido atencioso e uma filha carinhosa. Agora, Anna é uma prisioneira dentro da própria casa, um belo sobrado antigo, reformado em uma linda e cara casa no centro de Nova Iorque. Há meses ela não consegue pisar na calçada do lado de fora. Tomada pela agorafobia, Anna teme lugares públicos e espaços abertos. Seu único contato com o mundo é através da fisioterapeuta e do seu terapeuta, que vêm até a casa toda semana, e através de ligações quase diárias para seu ex-marido e sua filha.
Bem, isso não é inteiramente verdade. Anna também tem as janelas e suas câmeras. Trancada dentro de casa, observar os vizinhos se torna o seu terceiro passatempo preferido, atrás só dos filmes antigos e do vinho. Anna até tenta se distrair jogando xadrez e conversando com outros agorafóbicos online, mas é bisbilhotar a vida dos vizinhos que mais lhe dá prazer. Através das grandes janelas da sua casa, e de suas câmeras com um bom zoom, ela vê tudo o que acontece na sua rua. Até que, um dia, Anna presencia algo que não deveria. Desde que uma nova família, os Russells, se mudou para uma das casas da rua, Anna se viu obcecada por eles. Tudo piora quando ela conhece a mulher falante e energética e seu filho tímido e frágil do outro lado da rua.
“Qual será o problema dessa casa? É nela que o amor se instala para morrer.” pág. 9
Logo, Anna percebe que há algo de errado e suspeita que o marido seja agressivo ou violento de alguma forma. Contudo, tudo fica realmente assustador quando, do outro lado da rua, Anna vê a esposa sendo esfaqueada. Mas, ninguém, nem mesmo a polícia, acredita no que ela presenciou. É um fato que Anna, como sempre, estava misturando remédios e bebidas naquele dia, mas ela sabe muito bem que o que viu é real. E, para provar que não está louca, ela começa sua própria investigação. Entretanto, vigiar e bisbilhotar a vida dos vizinhos acabará revelando seus próprios segredos sombrios.
A LEITURA: NARRATIVA E TRAM
Eu estava curiosa para ler A Mulher na Janela. Desde o lançamento da obra, que ganhou ainda mais sucesso após o anúncio de que virará filme, tenho ouvido bastante elogios a história. Assim, peguei-a com altas expectativas e logo fui cativada. A. J. Finn tem uma boa escrita, que prende a nossa atenção. Descritiva na medida certa, a narrativa em primeira pessoa, sobre a perspectiva de Anna, consegue passar bem a crescente tensão que permeia a trama e, ainda, a sensação incômoda de que algo não está certo e que estamos sendo observados.
Apesar de construir bem um clima de suspense, o autor não foi perfeito na elaboração da trama. A inspiração em Janela Indiscreta, filme clássico de Hitchcock, é óbvia. Apesar disso, com uma protagonista do sexo oposto e com motivos bem diferentes para estar presa em casa, o autor consegue dar originalidade a sua história. Finn também faz referências a vários outros filmes do gênero de suspense e consegue dar um ar cinematográfico ao livro.
O meu problema com A Mulher na Janela é que ele se estende além do necessário, e traz alguns clichês e acontecimento bem previsíveis. Entretanto, o final compensa e justifica todo o sucesso da obra. A Mulher na Janela tem um desfecho rápido, mas emocionante e bastante surpreendente. Confesso que não esperava tal reviravolta e fiquei com o coração na mão durante as últimas páginas. No geral, o livro acabou não sendo tudo o que eu esperava, mas é uma boa leitura de suspense.
OS PERSONAGENS
O autor compensa uma trama com detalhes previsíveis com personagens completamente únicos. Começando por Anna, a primeira personagem agorafóbica sobre a qual li. Eu gostei do contraste causado pela fato dela ser uma psiquiatra. Por um lado, Anna entende tudo sobre doenças mentais e consegue olhar para a sua de forma objetiva, nos passando um relato interessante e educativo até sobre agorafobia. Por outro, Anna está doente, mentalmente fragilizada e mostra também o lado do doente: a solidão, a frustração por não conseguir sair de casa ou lutar contra a doença e, principalmente, a ansiedade, medo e raiva por ser desacreditada por todos ao seu redor.
“Como médica, digo que o paciente precisa de estar num ambiente que ele seja capaz de controlar. Essa é a minha avaliação clínica. Como paciente, digo que a agorafobia não veio para destruir minha vida: ela agora é a minha vida.” pág. 26
Anna é uma personagem complexa: inteligente, mas que tem momentos de irracionalidade; forte, mas com momentos de dúvida e fraqueza; lógica, mas que parece a beira da louca em outras situações. E isso a torna humana e, logo, cativante. Impossível não se apegar a Anna e torcer por ela, ainda mais quando ela embarca na própria investigação sobre o que aconteceu na casa dos vizinhos. E, falando neles, os Russells também merecem a nossa atenção. Como Anna, ficamos obcecados em entendê-los e, claro, descobrir o que diabos está acontecendo na casa deles. Não posso falar mais sem dar spoilers, mas acrescento apenas que jamais esperava que os segredos que eles guardassem fossem aqueles, revelados no fim do livro...
A EDIÇÃO
A Mulher na Janela tem uma boa edição. A tradução é excelente e o texto não apresenta erros de qualquer tipo. A diagramação é simples, e a fonte de um bom tamanho e tipo. As páginas amareladas ajudam a deixar a leitura, que não é muito rápida, mais confortável. Eu gosto da capa mais minimalista de A Mulher na Janela, ela combina perfeitamente com a trama e clima de suspense da obra.
CONCLUSÕES FINAIS
Apesar de não ter alcançado todas as minhas expectativas, A Mulher na Janela foi uma leitura muito boa. Infelizmente, partes da trama são previsíveis e o livro se estende mais do que necessário. Mas, como pontos positivos, temos personagens complexos e intrigantes, em uma trama que, com muitas referências ao cinema clássico de suspense, acaba ganhando um ar cinematográfico. Com uma narrativa que envolve o leitor em um clima crescente de tensão, a história traz um desfecho bastante inesperado, movimentado e emocionante. De bônus, A Mulher na Janela ainda fala sobre doenças mentais, como a agorafobia e psicopatia, e como elas podem isolar as pessoas, destruir relações e levar a fins trágicos. Espionagem de vizinhos, paranoia, suspeitas de assassinato e muito mais recheiam esse suspense, que recomendo para quem gosta do gênero e quer conferir a história de A Mulher na Janela antes que ela chegue aos cinemas.
QUOTES FAVORITOS
“Agorafobia: a palavra vem do grego e significa ‘medo do ágora’, ou seja, medo de transitar em lugares públicos e grandes espaços abertos. Hoje ela é usada para designar uma série de transtornos oriundos da ansiedade.” pág. 25
“- O mundo pode ser um lugar bonito – insiste Jane, séria; firme no olhar, firme na voz. Não se esqueça disso. - Ela se recosta na cadeira e apaga o cigarro na tigela. - E não abra mão dele.” pág. 82
“Desde ontem tenho evitado a cozinha. A cozinha e todo o primeiro pavimento. Mas agora estou de volta à janela, espiando a casa do outro lado do parque. Despejo um ou dois dedos de vinho na taça. Sei o que vi. Uma mulher ensaguentada. Suplicando ajuda. Essa história mal começou. Bebo mais vinho.” pág. 169
Título: A Mulher Na Janela
Título original: The Woman in the Window
Autor: A.J. Finn
Editora: Arqueiro
ISBN: 9788580418323
Ano: 2018
Páginas: 352
*Esse livro foi uma cortesia da Editora Arqueiro
Olá Ana!
ResponderExcluirEstou bem curiosa para ler essa obra. O fato de se estender demais desanima, mas ainda assim quero dar uma chance.
Bjs
EntreLinhas Fantásticas