A HISTÓRIA
Natasha Zelenka, ou, como prefere ser chamada, Tash, tem um crush gigantesco em ninguém menos que Liev Tolstói. Apaixonada pelo autor russo e com uma veia para a direção, a adolescente passa todo o seu tempo livro escrevendo e produzindo uma websérie baseada em Anna Kariênina. Seu show no Youtube, Famílias Infelizes, não é tão conhecido, mas os poucos fãs já fazem tudo valer a pena. Além de poder adaptar seu autor favorito para os seus tempos, Tash ainda pode passar o tempo com seus melhores amigos, os irmãos Jack e Paul, que a ajudam na websérie.
“Leo e eu somos tipo Romeu e Julieta. O destino não está nem um pouco a nosso favor. Para começar, meu pai não o aprova, porque ele é russo demais. (…) Outro obstáculo: Leo está morto. Bem morto. A sete palmos debaixo da terra há cento e sete anos.” pág. 14
Contudo, do dia para noite, Famílias Infelizes se torna viral, uma estrela em ascensão no Youtube. O canal de Tash ganha milhares de seguidores e fãs implorando por mais da versão moderna do romance de Tolstói. Mas, como se diz, grandes poderes vêm com grandes responsabilidades, assim como a fama. Pode não parecer muita coisa para os pais de Tash, ou para a irmã dela, que até atuava no show, mas decide deixá-lo para aproveitar seu último verão antes da faculdade. Mas, para Tash, é a realização de um sonho ver seu trabalho ser reconhecido. E é difícil para a garota manter os seus pés no chão. As coisas se complicam mais quando Família Infelizes é indicado ao Tuba Dourada, o Oscar das webséries de baixo orçamento.
Tash também precisa lidar com a pressão dos fãs e até mesmo críticas bem duras ao seu trabalho. O maior desafio, contato, acaba sendo o próprio ego de Tash. Ela quer garantir que Famílias Infelizes continue com perfeição, mas não é fácil trabalhar com seus amigos, ainda mais com a linha entre boa liderança e tirania sendo tão tênue. Com muita tensão entre ela, Jack, Paul e o resto do elenco da série, uma notícia inesperada abala a família de Tash. Com tanta coisa na sua cabeça, ela encontra refúgio em Thom, um youtuber famoso com quem ela tem trocado mensagens constantemente. Mas, conforme Thom demonstra querer levar as coisas para o lado romântico, Tash se vê em uma emboscada: como contar a ele que ela é assexual? E é aí que a garota percebe que está vivendo um drama digno de seu autor russo favorito.
A LEITURA: TRAMA, NARRATIVA E TEMÁTICAS DA HISTÓRIA
Tash e Tolstói despertou a minha curiosidade assim que recebi o livro. Antes de tudo, a obra tem uma capa linda, colorida e que chama bastante atenção. Mas foi a sinopse que me conquistou de verdade. Como não ficar louca para ler um livro sobre os bastidores de uma websérie baseada em um clássico russo? Kathryn Ormsbee precisa ser elogiada por ter bolado uma trama tão única e tão em sintonia com os nossos tempos. Mas, a autora realmente mostra o seu talento ao pegar essa história jovem recheada de clichês (como a garota que fica famosa do dia para a noite e se apaixona por um cara pela internet), e transformá-la em uma lição divertida e emocionante sobre os complicados relacionamentos humanos.
“Você não deve ter medo de mudanças, porque elas nos lembram de que estamos vivos e de que algo está acontecendo conosco.” pág. 155
E é sobre isso que Tash e Tolstói é de verdade: uma homenagem ao clássico russo mostrando que, mesmo com tantas mudanças culturais, os seres humanos continuam se atrapalhando na hora de lidar com suas famílias, amigos e paixões. Mas, a obra não é pessimista ou sombria nesse ponto, Tash e Tolstói diz que “bem, é difícil lidar com as pessoas, não é? Mas com um pouco de esforço, todo mundo pode encontrar seu final feliz”. E essa lição simples, mas poderosa, vem acompanhada de uma história cheia de reviravoltas e dramas adolescentes que, mesmo clichês, são divertidos e cativantes.
Tash e Tolstói é narrado em primeira pessoa, pela perspectiva, claro, da Tash. Ormsbee consegue criar uma narrativa leve e jovem que não fica forçada, mas que também não fica entediante. Tash é sarcástica e observadora, uma garota cheia de conflitos, mas que conta sua história de maneira leve e hilária. Mas, além de risadas, o livro provoca também várias reflexões. Algo que amei foi que, entre tantas lições sobre famílias, amigos, romance, fama, poder e arte, a autora também falou de sexualidade de forma representativa e sem ser muito dramática.
Há personagens héteros, gays e bissexuais em Tash e Tolstói, mas o livro me surpreendeu mesmo ao falar de assexualidade, coisa bem pouco abordada na ficção. Tash é assexual heterorromântica, o que significa que não sente atração física pelo gênero oposto, mas que é sim capaz de se apaixonar e amar um garoto. Mas, claro, a identidade sexual de Tash vem cheias incertezas e dúvidas típicas da adolescência, que a autora conseguiu abordar de forma sensível e educativa, além de não muito dramática.
Há personagens héteros, gays e bissexuais em Tash e Tolstói, mas o livro me surpreendeu mesmo ao falar de assexualidade, coisa bem pouco abordada na ficção. Tash é assexual heterorromântica, o que significa que não sente atração física pelo gênero oposto, mas que é sim capaz de se apaixonar e amar um garoto. Mas, claro, a identidade sexual de Tash vem cheias incertezas e dúvidas típicas da adolescência, que a autora conseguiu abordar de forma sensível e educativa, além de não muito dramática.
Tash e Tolstói também traz um bônus de levantar uma discussão sobre as belezas e feiuras da internet. Por um lado, é onde os jovens podem encontrar sua identidade, respostas para suas perguntas e um meio de se expressar. Por outro lado, o mundo online é cheio de ódio gratuito e altamente viciante. Com tantas temáticas interessantes e atuais, assim como narrativa leve e história cativante, não me surpreende que eu tenha devorado Tash e Tolstói em pouco dias, e terminado o livro com um gostinho por mais.
OS PERSONAGENS
Assim como a história, os personagens desse livro são bastante representativos. Há gente de todas as cores, orientações sexuais, heranças culturais e personalidades. Mas, a autora traz tanta diversidade de forma natural, com personagens ricos e complexos, que têm papéis importantes na trama. Destaque, claro, para a protagonista e narradora Tash. Apaixonada por arte, em especial filmes, séries e os livros do Tolstói, ela é uma jovem inteligente e corajosa. Tash é inspiradora por ir em busca de seu sonho de ser diretora e por, mesmo temendo as mudanças, as encarar de frente.
“- (…) A arte faz isso: toma conta de tudo. Talvez não seja um problema para você, mas a história está aí para mostrar que alguns dos melhores artistas eram péssimos com as pessoas em volta deles. Como Tolstói. E não quero ser assim. Não vou abandonar minha família para viver no interior da Rússia como um mendigo.” Jack (maravilhosa!), pág. 56
Mas, como qualquer garota adolescente, Tash está cheia de dúvidas, medo e inseguranças. Nem sempre ela sabe como comunicar o que está sentido e, por diversos momentos, é egoísta e deixa a fama virtual subir a sua cabeça. Mas, felizmente, Tash aprende suas lições e, ao longo da obra, e vai se tornando mais confiante para dizer o que quer, mas também mais sábia, para entender o que dizer e o que não dizer, o que fazer e o que não fazer. Eu adorei-a do início ao fim, além, claro, de ter me identificado bastante com ela.
Dos secundários, eu amei a família de Tash, mas são os irmãos Jack e Paul que conquistaram o meu coração. Me identifiquei muito com Jack (uma garota cujo nome, que é mais comum para o sexo masculino, me confundiu a início) e seu jeito mais frio e contido de ver o mundo. Contudo, foi a garota pé no chão, que apoia sua amiga em todos os momentos, quem conquistou meu coração. Jack sabe a hora de consolar Tash, mas também a hora de “dar a real” para amiga e a trazer de volta para a Terra. Já Paul... como não amar esse garoto fofo e compreensivo? Eu adorei que Paul não é o cara perfeito, o herói que vai salvar a mocinha. Ele é o vizinho divertido que ajuda quando pode, mas que não diz para a heroína o que fazer e nem deixa ela dizer a ele o que fazer. Nem preciso dizer que fiquei com tanto crush literário nele como Tash por Tolstói, não é mesmo?
A EDIÇÃO
Como já disse, a capa de Tash e Tolstói é linda. A ilustração, além de fofa e jovial como o livro, combina com a história ao retratar Tolstói e uma garota perdida entre sua barba com um celular na mão. O texto do livro também está excelente, sem erros e uma boa tradução. A diagramação não traz qualquer detalhes, mas as páginas são de material resistente e cor de creme, e as letras de um bom tamanho.
CONCLUSÕES FINAIS
Mesmo agora, mais de uma semana depois de terminar o livro, ainda continuo encantada por Tash e Tolstói. Divertido, fofo e representativo, o livro aborda os complicados relacionamentos humanos de uma maneira jovem, leve e emocionante. A história é engraçada e inusitada, nos fascinando com os dramas e reviravoltas dos bastidores de uma websérie baseada em um clássico russo. Tash e Tolstói ainda me cativou com personagens ricos e diversos, além de muito cativantes. Uma trama sobre internet, arte, sexualidade, fama, família, amigos e namoros, esse livro me deixou com um gostinho por mais. Hoje em dia não sou muito fã de sagas, mas poderia ler tranquilamente mais um cinco livros sobre os protagonistas maravilhosos de Tash e Tolstói. Recomendo o livro para todas as idades e todos os gostos. Eu também me apaixonei pela escrita de Kathryn Ormsbee e estou curiosa para devorar mais obras suas.
QUOTES FAVORITOS
“A primeira coisa que você precisa saber sobre mim é: eu, Tash Zelenka, estou apaixonada pelo conde Liev Nikoláievitch Tolstói. Esse é o nome oficial dele, mas, como somos próximos, gosto de chamá-lo de Leo.” pág. 13
“Solto um suspiro, tentando manter a calma. Às vezes dirigir é como cuidar de uma criança pequena: requer muita paciência, pulmões fortes e a habilidade de convencer criaturas egoístas a fazer o que você quer.” pág. 17
“Cenas de beijo levam os fãs à loucura. Aí está um fato inquestionável, (…). Um beijo é a culminação de tudo o que não foi dito – todas as dicas, expectativas e incertezas de um romance florescendo.” pág. 137
“- Quer saber? É, eu digo isso agora mesmo. Agora é tudo o que a gente tem. Então talvez você deva dizer “Sim”. Diga “Sim” agora e pode mudar de ideia daqui a dez minutos, dez horas, dez meses. Quando quiser. Talvez seja muito difícil pra mim, talvez seja muito difícil pra você, pelo menos vamos tentar.” pág. 359
Título: Tash e Tolstói
Autora: Kathryn Ormsbee
Editora: Seguinte
ISBN: 9788555340468
Ano: 2017
Páginas: 376
*Esse livro foi uma cortesia da Editora Seguinte
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