27.3.18

Resenha: A Invasão de Tearling - Erika Johansen


ATENÇÃO! Essa resenha contém spoilers do livro anterior, A Rainha de Tearling.

A HISTÓRIA

Kelsea quase perdeu sua vida para assumir o trono. Mas, agora ela é a Rainha de Tearling, como estava destinada a ser. Contudo, ao mesmo tempo que ganhou a simpatia do povo ao interromper as remessas de escravos para Mortmesne, a garota iniciou uma guerra. Um conflito contra a impiedosa e misteriosa Rainha Vermelha, para o qual nem Tearling nem Kelsea estão preparados. 
“- Estou vendo você, rainha Glynn - continuou Glee. - Estou vendo você cavalgando para a morte.” pág. 78
Kelsea imaginava que suas safiras mágicas a ajudariam a descobrir como vencer a iminente guerra, mas as pedras estão quietas há semanas. Ou, pelo menos, assim ela achava, até começar a ter sonhos muito vívidos com uma mulher, chamada Lily, do tempo de antes da Travessia. Em um mundo dividido entre pobres morrendo de fome e ricos que esbanjam dentro de suas cidades muradas, Lily é a esposa de um homem importante que trabalha para o governo. Ela passa seus dias lendo e tentando esconder seus segredos. Lily não quer ter filhos, não com seu marido atual, que é física e psicologicamente abusivo, mas não tem para onde fugir.

Como Lily, Kelsea se sente presa e impotente. A guerra está chegando e ela não sabe como protegerá seu país. Além disso, a rainha ainda precisa enfrentar nobres insatisfeitos com seu governo voltado para o povo e a Igreja, que teme perder seu poder para ela. Kelsea ainda se vê lutando contra novos sentimentos quanto a Pen, seu melhor amigo e guarda pessoal, assim como mudanças físicas que não entende. A rainha de Tearling acaba encontrando refúgio em seus sonhos com Lily, Kelsea sente que eles são importantes de algum modo. E esse sentimento é reforçado quando Lily acaba cruzando com um movimento rebelde, que busca um mundo melhor. Assim, a rainha de Tearling percebe que suas respostas estão no passado e que o tempo foi uma questão muito mais importante para a Travessia do que ela imaginava. Mas, será que descobrir a origem de seu mundo será o suficiente para fazer Kelsea vencer a Rainha Vermelha?


A SÉRIE

A Invasão de Tearling é o segundo volume da série A Rainha de Tearling, de Erika Johansen. Até o momento, a saga conta com três livros e boatos de que será adaptada para o cinema com ninguém menos que Emma Watson no papel da protagonista. Uma mistura de fantasia, ficção científica e distopia para jovens, o livro se passa em um universo fantástico e único, que foi povoado por pessoas do nosso mundo, que “atravessaram” de barco até o lugar. A saga conta a história de Kelsea, a jovem rainha do reino de Tearling, que precisa lutar pela própria vida e lidar com perigosos inimigos, especialmente a misteriosa Rainha Vermelha, governante de um país vizinho, para tornar seu país justo e próspero novamente.
“O exército tear não estava pronto para a guerra, mas a guerra estava chegando mesmo assim.” pág. 15

EXPECTATIVAS E PERSONAGENS

Eu estava com expectativas gigantescas para A Invasão de Tearling, e, mesmo assim, o livro conseguiu me surpreender e emocionar. Logo nos primeiros capítulos somos introduzidos a crescente tensão sobre Tearling e Kelsea, que se desgastam com a perspectiva de uma guerra próxima contra a Rainha Vermelha. Mas, para mim, a grande surpresa veio com os primeiros sonhos da Rainha de Tearling com uma mulher da era pré-travessia, Lily.

“Sua mente se voltou para a mulher da pré-Travessia, Lily Mayhew. Lily queria fugir, mas, sozinha, não havia um lugar seguro para onde fugir. A Travessia foi mais de três séculos antes, mas aquele mundo de repente parecia muito próximo, separado por um véu fino de tempo.” pág. 83

Assim, Erika Johansen introduziu uma nova protagonista tão interessante e com lições de empoderamento quanto Kelsea. Mas, em A Invasão de Tearling, a autora vai além, mostrando que as mulheres não precisam lutar apenas para ter seu lugar de direito no mundo, como foi abordado no primeiro livro, mas também precisam batalhar para se manterem vivas, seguras, esperançosas e felizes. Nesse ponto, a Rainha Vermelha também ganha uma nova faceta e começamos a entender o que aconteceu a ela a ponto de torná-la uma feiticeira cruel, solitária e paranoica. 


A LEITURA: TRAMA, TEMÁTICAS E NARRATIVA

Além de um show de aprofundamento das personagens femininas, A Invasão de Tearling me conquistou com reviravoltas na trama que, apesar de um pouco previsíveis (a autora gosta muito de deixar pistas ao longo da história, algumas bem óbvias), são emocionantes e chocantes. Ao mesmo tempo em que fala de magia, princesas e rainhas, a autora abordou relacionamentos abusivos, desigualdade socioeconômica, revolução em cenários distópicos, esperança por um futuro melhor, amadurecimento e muito mais. Em meio a uma trama sobre guerras entre reinos, e momentos com muita ação e tensão sobre batalhas e estratégias militares e revolucionárias, temos três mulheres lutando para salvar a si mesmas e as pessoas ao seu redor. Esse aspecto de A Invasão de Tearling deixa a leitura com muitos altos e baixos e momentos diversos, de lutas, audiências reais e sonhos mágicos, até dramas familiares, relações amorosas e outras abusivas.

“- Não existe mundo melhor.
- Vai existir - respondeu Dorian calmamente. - Está perto agora… tão perto que quase podemos tocar.” pág. 189

A autora também soube agregar bastante tensão a leitura, que cresce exponencialmente ao longo do livro com pequenos mistérios e conflitos não resolvidos, atingindo seu ápice em um desfecho de cair o queixo e fazer o coração bater mais forte (além de te deixar louco pelo próximo livro). E Erika Johansen faz isso com uma narrativa ágil em primeira pessoa. Nos poupando de longas descrições, a escrita da autora deixa a história rápida o suficiente para nos fazer ficar tensos como a narradora, Kelsea, em relação a guerra iminente. Johansen ainda provoca empatia, já que ler sobre a protagonista falando de seus medos, anseios e inseguranças em primeira pessoa torna mais fácil nos identificarmos e nos importamos com ela e o seu reino. Infelizmente, não achei os diálogos tão inteligentes e cativantes quanto os do primeiro livro, mas, isso é um pouco justificável considerando que a narradora é mais introspectiva em A Invasão de Tearling. E, de qualquer maneira, isso não chegou a atrapalhar minha leitura, considerando que devorei o livro em apenas sete horas.


A EDIÇÃO

A Invasão de Tearling tem uma boa edição, que segue o estilo da do livro anterior. A tradução da obra é excelente e o texto sem qualquer tipo de erro. A diagramação é simples, com páginas amareladas. Dessa vez (talvez porque li o livro de uma vez só), o tamanho da fonte me pareceu de um bom tamanho. Novamente, temos um mapa de Tearling e reinos vizinhos no início do livro. Seguindo a linha do volume um, a capa de A Invasão de Tearling é minimalista, mas traz elementos significantes da história, como dois cavaleiros frente a frente (como se estivessem se enfrentando). Os cantos floreados em dourados são perfeitos para um livro que fala sobre realeza, mas, a escolha mais inteligente foi o forte tom de vermelho usado na capa. Além de bonita, a cor forte traduz bem o aspecto conflituoso e cheio de tensão do segundo livro da série.

CONCLUSÕES FINAIS

Dando continuação ao primeiro livro, que aborda o lado sujo e corrupto do poder, A Invasão de Tearling é uma história sobre encontrar seu próprio caminho em um mundo opressor que quer controlar cada aspecto de sua vida. A obra introduz uma nova protagonista feminina, Lily, que, ao contrário das outras, nos chega tentando entender como se empoderar e se libertar das amarras que deixamos a sociedade colocar em nós.

A Invasão de Tearling, contudo, não esquece de Kelsea e a Rainha Vermelha e nos dá um novo lado das mesmas: ambas inseguras, perdidas em seus próprios medos. Kelsea teme falhar e não se reconhecer, a Rainha Vermelha não quer perder a pessoa que ela criou para si mesma, e em meio a seus conflitos pessoais, o livro esclarece como elas estão interligadas. Mas, além de relacionamentos abusivos, força feminina e autoconhecimento, A Invasão de Tearling é a história de dois reinos em guerra e também do surgimento dos mesmos. Em meio a batalhas e campanhas militares, somos agraciados também com mais informações sobre a Travessia e o mundo antes dela. Mesmo que previsíveis, as reviravoltas da obra são emocionantes e carregadas de tensão que explode no desfecho chocante e nos deixa sedentos pela continuação. Nem preciso dizer que passei a amar mais a série A Rainha de Tearling e estou ansiosa pelo próximo volume.


QUOTES FAVORITOS

“O amor é real, pensou Aisa, mas secundário. Sem dúvida o amor não é tão real quando minha espada.” pág. 164

“Kelsea ficou irritada de Clava tê-la lido com tanta facilidade. Mas ela não viu julgamento no rosto dele, só a verdade nua e crua, e depois de um momento, ela relaxou e deu de ombros.
- Mas às vezes a resposta para o futuro está no passado, Lazarus.” pág. 180

“- Eu só quero poder ter uma vida, só isso. Uma vida, como qualquer garota da minha idade teria. Isso é tão terrível?
- Nem um pouco, Majestade - respondeu Andalie. - Mas, embora possa desejar uma vida comum, você não vai ter uma. Você é a rainha de Tearling. Há coisas que não se pode escolher.” pág. 219

“- Eu não mudei, Lazarus. Só amadureci, só isso. Ainda sou eu. 
- Não, Lady. - Clava suspirou, e o suspiro pareceu atravessar Kelsea, um bafo de desgraça em asas frias. - Conte para si mesma as histórias agradáveis que quiser, mas você não é mais a garota que buscamos no chalé. Você se tornou outra pessoa.” pág. 246

Título: A Invasão de Tearling
Título original: The Invasion of the Tearling
Série: A Rainha de Tearling 
Volume: 2
Autora: Erika Johansen
Editora: Suma das Letras Brasil
ISBN: 9788556510471
Ano: 2017
Páginas: 400
Compre: Amazon - Submarino

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1 comentários:

  1. Acho que já deixou de ser resenha, e passou a ser uma análise da obra! Adorei. Não conhecia essa série, se eu não tivesse uma pilha de livros para ler, com certeza já estava na minha lista.

    sonhoseaventurasdeamor.blogspot.com.br

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