9.2.18

Resenha: Filha da Ilusão - Teri Brown


A SÉRIE E A HISTÓRIA

Filha da Ilusão é o primeiro livro da duologia Herdeiros da Magia escrita por Teri Brown (que também publica como T.J. Brown). Também faz parte da série um conto que se passa entre os dois volumes. O segundo livro, infelizmente, não foi publicado por aqui. Filha da Ilusão se passa nos anos de 1920 e conta a história de Anna Van Housen, filha ilegítima de Houdini, e uma ilusionista tão boa e talentosa como o pai. Contudo, a jovem, além de truques de cartas, é capaz de conversar com os mortos e prever o futuro. Anna é uma médium de verdade, mas gostaria de livrar de seus dons. Está cansada de ser invadida pelos sentimentos alheios e o sonhar com grandes tragédias. Contudo, as coisas começam a mudar quando ela e a mãe se estabelecem em Nova Iorque. Mesmo com a tensão constante entre ela e a mãe, que coloca a carreira sempre em primeiro lugar e vê a filha como uma ameaça a seu sucesso, Anna sabe que está vivendo o melhor momento de sua vida.

Criada na estrada, se dividindo entre fazer shows com a mãe e a tirá-la da cadeia, Anna estranha os tempos de paz que está vivendo. O espetáculo dela e sua mãe vai bem e, pela primeira vez, elas parecem ter um empresário que não está tentando enganá-las e dinheiro para viver confortavelmente, em um apartamento bem mobiliado em uma parte boa da cidade. A vida em Nova Iorque faz Anna imaginar se, talvez, não é possível ter uma vida normal. Mas, mesmo que largasse o ilusionismo, que ama tanto quanto ama a própria mãe, Anna sabe que não poderá se livrar de seus dons. E eles parecem estar aumentando nos últimos tempos. Anna começa a ter visões com a própria vida, flashes aterrorizantes da sua mãe a beira da morte e até mesmo sonhos em que ela mesma está embaixo d'água, sem conseguir respirar. 

“Uma visão incomum, Harry Houdini na cidade, e um jovem desconhecido se mudando para o apartamento de baixo. E ainda não é nem meio-dia. Talvez levar uma vida pacata e respeitável seja um desafio maior do que imaginei.” pág. 16

E isso faz com que Anna seja mais cautelosa no dia a dia, evitando se aproximar de estranhos, como seu novo vizinho Cole. Inglês e enigmático, Cole é o cavalheiro perfeito, educado e irresistível, mas também portador de muitos segredos. Ele é uma das poucas pessoas cujos sentimentos a garota não consegue captar e Anna sabe que deveria se manter longe dele. Mas, nem ela nem o garoto conseguem resistir, parece que há uma ligação sobrenatural pulsando entre eles. E Anna acaba encarando riscos dentro da própria casa também. A mãe insiste em continuar fazendo sessões espíritas privadas que, para ela, são apenas truques para enganar clientes, mas que são muito reais para Anna. A sensação de perigo cresce dentro da garota, mas será que são os vivos ou os mortos que mais representam uma ameaça? Quando descobre boatos de uma sociedade que investiga, cientificamente, poderes como os dela, Anna vê uma ponta de esperança de se livrar dos seus poderes. Mas será que ela pode confiar em alguém ao seu redor para descobrir mais sobre seus dons?


A LEITURA: CENÁRIO, NARRATIVA E TRAMA

Eu estava curiosa para ler Filha da Ilusão desde o lançamento da obra, lá em 2014. Confesso que o que mais me chamou atenção foi a bela capa do livro. Contudo, o cenário escolhido, Nova Iorque dos anos de 1920, também me intrigou, por não ser muito comum em livros do gênero (romance sobrenatural). E a autora soube o aproveitar bem, nos levando em uma verdadeira imersão cultural na cidade e na época em que a história se passa. Com um tom nostálgico, a narrativa da Teri Brown traz uma ambientação glamourosa e romântica, detalhando bastante, principalmente, as roupas da época, os carros, os estilos de decoração e, claro, os costumes. 

Achei interessante o paralelo que surge entre o moderno e o antigo no cenário escolhido. O livro mostra bem como a Nova Iorque dos anos 20 já era uma grande cidade, fervilhando em novas tecnologias, se libertando de amarras e preconceitos antigos e se redescobrindo como uma sociedade que aprecia a velocidade e o entretenimento. Algumas cenas são bastante cinematográficas, como a de Anna passeando de carro, andando de metro e indo dançar em uma boate da época. Contudo, o livro mostra como os anos 20 ainda não tinham se livrado de costumes antigos, como a obsessão pelo espiritismo e ilusionismo, grande influência da época vitoriana. Ao mesmo tempo em que andam em carros velozes e usam objetos industrializados, os nova-iorquinos tentam entrar em contato com os mortos e pagam caro para ver shows de mágica e escapismo.

“Encantar a plateia é a melhor parte, a parte que adoro. Detesto quando as pessoas chamam o ilusionismo de farsa. O que a minha mãe faz é farsa. O que eu faço é entretenimento.” pág. 26

E esse cenário/contexto interessante, que mistura modernidade, velocidade e misticismo, é bem adequado a história e a protagonista. Narradora em primeira pessoa, Anna é bastante observadora, mas, felizmente, a autora não se prendeu a longas descrições e consegue misturar, em sua escrita, o que a protagonista está vendo e o que está sentindo. Não muito detalhista, mas não muito reflexiva, a narrativa acaba sendo fluída, e conseguindo nos provocar diversas emoções, especialmente de tensão e curiosidade. Mas, mesmo a boa ambientação e narração não foram o suficiente para salvar a trama. Filha da Ilusão começa muito bem, mas logo se perde com conflitos fracos, que acabam tendo resoluções óbvias e aceleradas, e, especialmente, um romance forçado, que foi o que mais deixou a desejar. 


OS PERSONAGENS E O ROMANCE DO LIVRO

Desde o início, Anna se vê atraída por Cole, e depois por Owen, sobrinho de seu empresário. Mas a própria atração da menina não convence, parece que Anna só está interessada mesmo em receber atenção, seja de quem for. E, mesmo quando ambos os caras a tratam de forma autoritária e maliciosa, como se ela fosse apenas uma criancinha tola a ser guiada pela mão, enganada e controlada, a garota continua atraída pelos dois, como se fossem os melhores caras do mundo. E, como podem perceber, nenhum deles conseguiu me cativar. 

A pegada misteriosa de Cole, a princípio, é atrativa: quem não gosta de um cara quieto, cheio de segredos, com sotaque inglês e modos educados? Mas, rapidamente, ele começou a me irritar. Cole não conta absolutamente nada para Anna, sempre guardando segredos e segundas intenções, e se irritando quando ela decidia buscar as próprias respostas. Cole faz com que Anna praticamente implore por migalhas de sua atenção, sempre se colocando como seu salvador, mas não fazendo muito para ajudá-la de verdade. 


Owen, ao contrário de Cole, chega com muitos abraços e gracejos, se colocando como um livro aberto, quando verdadeiramente não era. Fica óbvio para o leitor que ele esconde algo e que seu interesse por Anna é bem egoísta. Ele fica quase que forçando-a concordar com ele, a sair com ele, a gostar dele, e o fato de Anna se sentir agradecida por Owen notá-la, como se fosse um grande favor da parte dele, é quase nauseante. Ainda mais quando percebemos que, obviamente, ele tem segundas intenções, como Cole.

“Quer Houdini seja meu pai ou não, quer minha mãe me ame ou não, ainda vou ser eu mesma. Uma garota que ama o ilusionismo. Uma garota com estranhos dons. Nunca uma garota normal. Mas talvez, apenas talvez, não há nada de errado nisso.” pág. 238

Mas, se não gostei da mocinha com os mocinhos, ela sozinha também não é das mais cativantes. Por um lado, entendi as frustrações da protagonista, sua ansiedade por ser notada, seu conflito em querer ser normal ao mesmo tempo em que gostaria de ser uma grande estrela do ilusionismo. Contudo, a falta de autoestima da Anna, ela o tempo todo dizendo como era uma aberração sem qualquer atrativo, é desanimadora. A garota até tenta demonstrar um pouco de força interior, quando busca respostas sobre quem Cole ou seu pai verdadeiramente são. Mas, esses momentos são escassos e, no final, Anna se entrega para um dos mocinhos, o elege seu grande salvador e solução para seus problemas, em vez de buscar ser autossuficiente. E, como uma feminista, protagonistas assim, que vão perdendo qualquer fagulha de empoderamento que tem ao longo da história, são desanimadoras e um péssimo exemplo para um livro que tem um apelo muito grande para leitoras jovens.


A EDIÇÃO

Não posso reclamar quanto a edição de Filha da Ilusão. A tradução está excelente e o texto sem erros. A diagramação é boa, com pequenos detalhes que combinam com o ar de mistério e magia da obra. Eu adoro a capa de Filha da Ilusão, como disse, foi ela que despertou minha curiosa pela obra. Além de bonita, a capa combina perfeitamente com a história.

CONCLUSÕES FINAIS

Apesar do muito potencial e das minhas altas expectativas para Filha da Ilusão, o livro deixou a desejar. A leitura é rápida, com uma boa narração e ambientação perfeita. A obra nos leva a uma viagem fascinante pela Nova Iorque dos anos de 1920, que mistura o surgimento de uma sociedade mecanizada e moderna, assim como glamourosa e romântica, obcecada por ilusionismo, magia e espiritismo. Contudo, o cenário incrível e bem trabalhado não conseguiu compensar a trama com conflitos fracos de resoluções óbvias, e um romance forçado. Com um triângulo amoroso entre uma mocinha sem autoestima e dois caras pretensiosos e autoritários, foi difícil curtir muito a leitura. Me irritei com a protagonista dependente e louca por atenção, assim como seus pares cheios de segundas intenções. Filha da Ilusão não é um livro ruim, mas também não chegou a ser bom, pelo menos para mim. Faltou carisma nos personagens e uma trama com conflitos mais bem elaborados. Eu não fiquei com vontade de ler a continuação, ainda mais porque esse primeiro volume tem um final relativamente fechado, mas daria mais uma chance a outras obras da autora.


QUOTES FAVORITOS

“Meu coração palpita na aterrorizada expectativa do que está por vir. As visões nunca são imagens bonitas com final feliz. Quando estou dormindo, posso interpretar estes episódios como pesadelos, mesmo sabendo que não são. Quando estou acordada, sou submetida à excruciante experiência na íntegra.” pág. 9

“No momento em que nossos dedos se encontram, um choque de estática percorre nossos corpos, tão forte que sinto um tranco no coração. Paralisados, sentimos o choque ir morrendo em pulsos elétricos, uma espuma que viaja entre nossas mãos e pontilha minha pele como bolhinhas efervescentes. Arranco a mão da dele.” pág. 16

“Posso fazer o que muitos afirmam ser impossível – posso me comunicar com os mortos. Meu estômago se revira e corro para o quarto.” pág. 44

Título: Filha da Ilusão
Título original: Born of Illusion
Série: Herdeiros da Magia
Volume: 1
Autora: Teri Brown
Editora: Valentina
ISBN: 9788565859295
Ano: 2014
Páginas: 288
*Esse livro foi uma cortesia da Editora Valentina
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