12.1.18

6 coisas que aprendi lendo romances de época


Romance de época é, de longe, um dos meus gêneros favoritos e o que mais leio. E quem também gosta das histórias de amor situadas no passado, em especial a Inglaterra vitoriana, me entende bem. É impossível, sem exageros, completamente impossível não se apaixonar por esses encontros e desencontros amorosos divertidos; aventuras românticas em meio a vestidos bufantes, bailes grandiosos e passeios de carruagem. Mas, se você ainda não está convencido, já fiz um post sobre 5 motivos incontestáveis para ler mais livros de romances de época que você precisa conferir mais tarde.

Mas, por enquanto, vamos falar de um assunto mais sério, mas ainda assim interessante. Todo leitor sabe que um livro de ficção, independente do gênero, é muito mais do que uma história inventada para nos emocionar e divertir. Sempre há alguma mensagem por trás da palavras e personagens que tanto nos cativam. E, com os romances de época, não é diferente. Além das lições óbvias sobre relações amorosas, familiares e de amizade, assim como sobre a vida em geral, as obras do gênero me ensinaram algumas coisas que eu jamais pensava aprender com elas. Desde lições sobre história e cultura, até mesmo ensinamentos sobre escrita! Ficaram curiosos para saber mais? Então continuem lendo a minha listinha de hoje, com 6 coisas que aprendi lendo livros de romance de época:

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1 - Romances de época são altamente viciantes

Diga adeus à sua vida social, dinheiro e antiga lista de leitura. O primeiro livro em si pode não ser suficiente, mas, acredite, quando terminar sua primeira saga de romances de época, não há como voltar atrás. Sem brincadeiras, a sensação é que existia o leitor que você era antes dos romances de época e o leitor que você se tornou depois deles! O gênero é simplesmente viciante! Primeiro que a maioria dos livros da mesma autora estão interligadas, então é difícil não ler todas as obras dela para ver todos os seus personagens secundários favoritos se apaixonando também. Segundo que as histórias de romance de época são tão apaixonantes e divertidas, deixando aquele calorzinho no coração depois da leitura, que é impossível não querer sempre mais! Eu inclusive, até tento resistir e me obrigo a intercalar sempre um romance de época com um livro de outro gênero, mas confesso que sou completamente viciada!

2 - Transformando clichês: na escrita, criatividade e personalidade são tudo

Eu já li romances de época de todos os tipos: dos medievais até os vitorianos, que se passam no Reino Unido ou na França, baseado em fatos reais ou que fogem bastante da realidade, que misturam drama de época com fantasia ou sobrenatural, e muito mais. E, não vou mentir, é um gênero recheado de clichês! O clássico deles é a mocinha virginal e pobre que se encontra com o mocinho rico e bonito, eles se odeiam a princípio ou se apaixonam logo de cara, mas só encontram um jeito de ficarem juntos no final. Mas, uma coisa que os romances de época me ensinaram é: nem sempre os clichês são ruins. Pelo o contrário, os clichês formam a base pelo qual o livro irá se desenvolver. Aí, cabe ao talento do autor transformar aquela história básica em algo ruim, bom ou único.

E, para isso, ele precisa de criatividade e personalidade na hora de escrever. Criatividade para conseguir colocar novos elementos que nos façam esquecer dos clichês que estão lá. É o caso da Julia Quinn, que sempre consegue acrescentar algo de inusitado em seus romances: um diário enigmático, como em Um Beijo Inesquecível, ou a caça a uma espiã, como em Como Agarrar Uma Herdeira. Já personalidade eu vejo muito nas histórias da Sarah Maclean, que parece fazer questão que todas as suas mocinhas tenham algum tipo de talento, hobby, sonho ou carreira: a heroína de Nunca Julgue Uma Dama Pela Aparência, por exemplo, usa calças e gerencia um cassino, enquanto a de Cilada para um Marquês sonha em ter sua própria livraria. Ou seja, na hora de escrever, mesmo para gêneros saturados como os romances de época, o autor que consegue agregar elementos só seus e inusitado a trama com certeza vai acabar com um livro muito bom e marcante!

Quando eu lembro que a vida não é como os livros...

3 - Nos romantizamos o passado

Nos romances de época, tudo é maravilhoso: os vestidos são bonitos, passear por Londres é bastante divertido, assim como viajar para o campo. Sem falar que são todos ricos, bem educados, charmosos e inteligentes. E, por mais que detalhes assim deixem as histórias de amor mais leves e divertidas, também as torna bem distantes da realidade. Alguns fatos: os vestidos maravilhosos da época eram caros, pesados e desconfortáveis - já li uma vez que, no auge das crinolinas (armações usadas sob as saias para lhes conferir volume), no final do século 19, as mulheres sequer conseguiam passar pelas portas, tinham que entrar andando de lado. Londres é um lugar realmente bonito, mas cheirava mal com as ruas sem asfaltos, com cavalos para todos os lados e, bom, pessoas que raramente tomavam banho (mania e luxo dos nossos tempos). Sabiam que eles também costumavam jogar seus dejetos pela janela, antes dos esgotos? Sem falar que, conforme as fábricas foram chegado, o ar da cidade era composto basicamente por fumaça. 

Querem mais? Viajar de carruagem era desconfortável e um luxo dos ricos. A maioria das pessoas também perdiam os seus dentes cedo e criados não se casavam com patrões jamais, isso quando não eram assediados por eles, caso da maioria das mulheres. Sinto muito se eu destruí o sonho de fadas, mas essa era a realidade. Eu continuo amando romances de época, claro, mas é um fato que eles mascaram o passado, romantizando a vida de uma parcela da população (os brancos, ricos e nobres) e nos fazendo fantasiar sobre tempos que não existiram de verdade. E, por mais que seja divertido ler sobre esse maravilhoso tempo de mentirinha, não podemos esquecer o que aconteceu de verdade - como os nobres terem escravos e as mulheres não terem direito a nada. É um alerta que vem da ficção para a vida real: não comece romantizar também seu próprio passado. Já reparou como temos facilidade de lembrar as coisas boas da infância e da juventude, como poder brincar a todo hora, mas nunca as ruins, como ter que fazer as tarefas da escola? É a mesma coisa. Por isso, fica a lição, direto dos romances de época: relembrar as coisas ruins e erradas de antes como realmente eram nos ensinam a não fazer igual no futuro!


4 - Nos também romantizamos relações abusivas

É tênue a linha entre o romântico e o abusivo, a própria literatura contribuiu para noção distorcida de amor que nossa cultura (machista) perpetua. Um exemplo? Romeu e Julieta, clássico que inspirou tantas histórias a partir de uma tragédia nada romântica de um jovem casal que preferiu morrer do que viver separados. Mais recentemente, Crepúsculo conquistou uma legião de fãs, e eu estou entre elas, apesar de hoje perceber que era assustador Edward invadir o quarto de Bella para observar ela dormir. Crepúsculo é um bom exemplo de como os romances pregam abuso como amor, e muitas vezes de forma tão sutil que nos passa despercebida. Aquele mocinho apaixonante, por exemplo, que beija a heroína para calá-la, segura seu braço para impedir que o deixe, se incomoda quando ela fala com qualquer outro homem? Desculpe amigas, mas esse cara é abusivo. 

O mesmo vale para mocinhas que batem nos parceiros, armam situações para provocar ciúmes ou se colocam em perigo para chamar atenção (que também chamo de chantagem/abuso psicológico), apesar de que é bem mais comum o cara ser o abusivo da história... Tudo isso pode parecer muito romântico na ficção, mas na realidade seria e é doentio e problemático. Personagens que preferem morrer do que ficar com uma pessoa, que tocam a outra pessoa sem o consentimento dela ou que insistem que o parceiro deve ficar com ela, mesmo que ele já tinha dito que não, são personagens abusivos, e muito comuns nos romances de época. Como sempre, isso não me faz gostar menos dos livros do gênero, mas ser crítica quanto ao que aquela história está propagando é essencial. E, ao ficar mais atentos na ficção que romantiza relações abusivas, estamos treinando para percebê-las também na vida real, afinal, manchetes que dizem que um homem matou a mulher "por amor" são bem reais e comuns...

5 - A sociedade e a cultura não são boas com as mulheres

Como disse, mulheres também podem ser abusivas, mas, no geral, e nos romances de época, a maioria das vezes é o homem que demonstra mais comportamentos abusivos. O que complementa outro aprendizado que tive com o gênero: o mundo não é um lugar bom para as mulheres. Isso é culpa da cultura? É sim. E já melhorou desde a época em que os livros se passam? Também verdadeiro, mas a melhora não foi tão grande como gostamos de pensar. É bizarro como é fácil estabelecer paralelos entre romances de época vitorianos, por exemplo, e os dias de hoje quando se trata da forma como as mulher são vistas pela sociedade. Ainda sofremos de extrema pressão social para sermos bonitas, perfeitas e virginais, e julgadas de forma cruel e pesada caso queiramos com coisas além de casamentos e filhos. E, se você tentar ser diferente ou lutar ativamente contra os padrões machistas, será tratada de forma ainda pior, se transformará em uma pária, quando não motivo de chacota. Desde aquela época, as mulher precisam se preocupar com cada aspecto do que vestem, do que falam e de como se comportam para não dar impressões "erradas" e acabarem sendo abusadas e violentadas. Porque, como nos tempos vitorianos, ainda culpamos as mulheres pela violência que sofrem. Mas, é uma coisa boa que os romances de época, sem perder o seu lado divertido e leve, consiga levar uma lição tão importante e relevante para os leitores, mostrando que a luta contra o machismo ainda está longe de acabar!

Eu mesma lendo meus romances, apesar dos clichês e tudo mais.

6 - Sempre há a possibilidade de um final feliz

Pode ser um clichê, mas o final feliz garantido é uma das coisas que me faz amar tanto romances em geral quanto os de época. Saber que tudo vai ficar bem no fim é tranquilizador, e nos faz encerrar a obra com o coração leve e apaixonado. Como eu disse nesse post mesmo, os romances de época muitas vezes se distanciam da realidade, e eu sei que o "viveram casados e felizes para sempre, viajando em arco-íris sobre unicórnios" não é exatamente o que vemos todos os dias. Mas, com protagonistas passando por tantas provações ao longo da história, os finais felizes são uma prova de que, com esforço, tudo pode se acertar no final. Ver os mocinhos lutarem pelo seu relacionamento várias vezes nos livros me deixa inspirada para, na vida real, buscar o meu final feliz, e não só nos relacionamentos, mas na vida como um todo, mesmo que ele não seja garantido. Eu, confesso, sou uma pessoa bem pessimista no geral, por isso ler romances com final feliz é um lembrete contaste de que as coisas podem dar certo e que o futuro não deve ser temido e sim conquistado: a cada dia podemos fazer o nosso próprio final feliz.


Bom amores, e essa foi a nossa listinha de hoje! O que acharam dessas 6 coisas que aprendi lendo romances de época? E o que vocês já aprenderam com o gênero? Comentem aí embaixo!

Tudo sobre romance de época:

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5 comentários:

  1. Comecei a ler recentemente romance de época e é um gênero que vem me agradando. Um clichê, mas gostoso de ser lido. Acredita que nunca parei para pensar no item 4? :O Você detalhou tudo bem perfeitamente e fiquei encantada com sua postagem. E realmente... sempre espero um final feliz (ao menos dos que li, sempre teve um rs). <3

    Beijos,
    Blog PS Amo Leitura

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  2. realmente, são pontos bem explorados, os romances são viciantes, encantadores, nos fazem suspirar e ainda mostram mais da realidade atual do que podemos imaginar inicialmente
    http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/

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  3. Adoro romances de época. Como referiste são clichês, mas clichês bem viciantes e que acabam por ensinar-nos alguma coisa. O alerta sobre a perpetuação do machismo também é muito importante mas arrisca-se a ser abafado pela romantização do abuso.

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  4. Umas razões de eu odiar romances de época é que praticamente todos contém esses pontos que você mostrou: romantizam caras abusivos, épocas em que a mulher sofria uma opressão maior do que hoje em dia, distorcem a ideia de amor e o apagamento de qualquer personagem que não seja branco, hétero e sim. Os gordos são descritos com adjetivos pejorativos.

    Eu não consigo abstrair e gostar disso. A minha vontade é queimar o livro e passar um sermão na escritora.

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    Respostas
    1. Uma pena que o gênero não te agrada, mas concordo que ele tem muitos defeitos e perpetua muitos preconceitos.

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