A HISTÓRIA
Paige conseguiu escapar da Colônia Penal Sheol I, onde descobriu os Rephaim e jurou derrubar a líder cruel deles, Nashira. Mas, a volta para Londres não aconteceu como ela esperava. Alguns de seus amigos morreram, outros desapareceram e Paige não sabe como se encaixar novamente na cidade, na sua gangue de clarividentes, os Sete Selos, que parecem preferir ignorar a existência e governo opressor do Rephaim. Paige fugiu de Sheol I, mas percebe que não deixou de ser escravizada. O líder da sua gangue, Jaxon Hall, mostrou sua verdadeira face durante seu resgate e garantiu que a garota irá se arrepender se não voltar para seu lado na gangue, usando seus dons para benefício dele.
“Algumas revoluções alteram o mundo em um dia. Outras levam décadas, séculos ou mais, e outras nunca dão resultado. A minha começou com um momento e uma escolha. A minha começou com o brotar de uma flor em uma cidade secreta na fronteira entre dois mundos.” Pág. 19
Paige não quer se prisioneira de novo, ainda mais de um clarividente como ela, mas como sobreviver fora do Sindicato dos videntes? Especialmente agora que seu rosto está em todos os lugares e o governo a está caçando incessantemente? E o fato dela ser a fugitiva mais procurada de Londres não a ajuda fazer aliados em sua batalha contra os Rephaim. Nem Jaxon nem os outros lordes do Sindicato parecem interessados no que ela tem a dizer, o que a faz desconfiar que, talvez, os líderes das gangues de videntes de Londres não sejam tão inocentes como ela imaginava. Será que há aliados dos Rephaim até mesmo entre os clarividentes marginalizados?
Para derrubar os Rephaim, Paige entende que, primeiro, precisa fazer as pessoas acreditarem neles, assim como destruir o governo corrupto e opressor que eles comandam das sombras. Mas Paige não pode derrubar Scion sozinha, ela precisa dos outros clarividentes, mesmo que, para isso, tenha que ir contra os mais perigosos líderes do Sindicato - isso tudo enquanto se esconde da polícia e dos Rephaim, que, com certeza, querem matá-la. Sem poder contar com seus amigos, nem mesmo com o Mestre, já que Arcturus nunca mais foi visto depois de sua fuga, Paige irá até os lugares mais obscuros e perigosos da cidade para descobrir o que realmente está acontecendo dentro do Sindicato. Agora, é a Andarilha Onírica contra o mundo e, para salvá-lo, ela não poupará ninguém que se coloque em seu caminho.
A SÉRIE
A Ordem dos Clarividentes é o segundo volume da série Bone Season, que terá 7 livros no total (sendo que três deles já foram publicados no exterior). Uma mistura de distopia com fantasia urbana, a saga nos leva a um mundo onde videntes, pessoas com habilidades de ver o futuro, enxergar auras e controlar fantasmas, vivem oprimidos por causa de seus dons, que são vistos como maléficos. A protagonista, Paige, só queria se manter viva, trabalhando para o Sindicato, uma organização de gangues de clarividentes. Contudo, quando acaba na Temporada dos Ossos, descobre os Rephaim, uma raça antiga e poderosa de clarividentes, Paige se vê em uma batalha perigosa contra os dominadores de seu mundo, que coloca não só sua vida, mas como seu coração em risco, quando ela começa a se aproximar intimamente de um deles.
- Leia a resenha do 1º livro da série, Temporada de Ossos
- Leia a resenha do 1º livro da série, Temporada de Ossos
A LEITURA: TRAMA, NARRATIVA E CRÍTICAS DO LIVRO
Eu estava ansiosa para ler A Ordem dos Clarividentes. Eu a amei Temporada dos Ossos e o universo sombrio e fascinante criado pela Samantha Shannon. E esse segundo livro da série não decepcionou, pelo contrário, superou minhas expectativas e superou o livro anterior. A Ordem dos Clarividentes se inicia no exato momento em que Temporada dos Ossos termina, com a fuga de Paige de Sheol I. E, pelas quase quatrocentas páginas seguintes, acompanhamos a garota dar início a sua guerra contra os Rephaim, Scion e os líderes corruptos do Sindicato.
A Ordem dos Clarividentes consegue manter o suspense e a tensão por toda a obra, a ponto de deixar o leitor prendendo o fôlego para não deixar passar nenhum detalhe dessa emocionante narrativa. É impossível não terminar uma página sem querer saber o que está na próxima, muito menos terminar o livro sem ficar louco pelos próximos. O final é surpreendente e intrigante, já nos fazendo esperar muito mais emoção e conflitos perigosos e sombrios entre Paige e seus inimigos. A trama de A Ordem dos Clarividentes é muito bem bolada e desenvolvida.
Com um ritmo ainda mais acelerado do que Temporada dos Ossos, a história desse volume se aprofunda ainda mais no universo fantástico criado pela autora. Nesse livro, conhecemos mais profundamente o submundo sombrio e místico dessa Londres futurística. A Ordem dos Clarividentes mergulha na organização do Sindicato de videntes, mostrando ainda mais como esse povo é marginalizado e se tornou desunido por causa de líderes corruptos e interessados apenas em seu próprio beneficio. Nessa obra, Paige desafia a lealdade cega e, enquanto se pergunta em quem pode confiar, em quem deve seguir, nos faz refletir sobre os líderes do nosso próprio mundo e porque nós, como os videntes dessa história, não nos rebelamos contra governos corruptos e opressores – será por medo, ou por simples comodidade?
Enquanto nos faz imaginar, através de Paige construindo sua revolução e seu exército, quem realmente governa o nosso mundo e qual o nosso papel em uma ordem política e social claramente discriminante e opressora; A Ordem dos Clarividentes também nos proporciona uma viagem alucinante a um mundo mágico e perigoso. Enquanto nos encanta com personagens cheios de poderes fantásticos, o livro explora os conflitos humanos que há entre eles, a inveja, o medo e a desconfiança, ao mesmo tempo em que o amor, a amizade e a esperança. A trama cativa por abordar, ao mesmo tempo e de forma equilibrada, os problemas pessoais dos personagens e os problemas sociais de seu mundo. A Ordem dos Clarividentes nos desafia a olhar para seus protagonistas e ver além das aparências, além dos papéis óbvios de vilão e herói, como falarei um pouco mais adiante.
Mas ainda sobre a história, ela mistura ação, drama, suspense, fantasia urbana e crítica social com mastreia. A Ordem dos Clarividentes é uma história rápida e viciante, construída em uma crescente de tensão e mistério que alcança seu ápice e melhor momento em um conflito sangrento e emocionante no final do livro. Como disse, A Ordem dos Clarividentes dá um gostinho do que virá nos próximos livros, é o início da revolução e da guerra de Paige contra os Rephaim. O clima tão envolvente da obra também se deve a narrativa em primeira pessoa incrível da Shannon. Sobre a perspectiva de Paige, a história se desenrola de forma mais vívida, já que acompanhamos tudo através dos olhos, pensamentos e sentimentos da protagonista. Confesso que acho a escrita da autora um pouco carregada demais em detalhes, mas as descrições extensas ajudam o leitor a imaginar melhor o mundo em que a história se passa, assim como se sentir dentro dele.
OS PERSONAGENS
Como disse, A Ordem dos Clarividentes traz personagens ricos, impressionantes e muito humanos. A autora conseguiu dar personalidades únicas para cada um deles, de forma que, mesmo com o grande número de personagens, não ficamos perdidos entre as muitas descrições e nomes diferentes. Eu gosto como a série Temporada dos Ossos traz um paralelo interessante entre humanos e Rephaim, sendo os segundos uma raça perfeita e poderosa, mas carente da mesma coisa que faz com que os primeiros, mesmo frágeis e cheios de defeitos, não sejam tão frios e malvados, que sejam, bem, dotados de humanidade. Mas ao mesmo tempo em que mostra, “ei, somos cheios de problemas, mas também capazes de fazer o bem, de nos ajudar, de ver acima da ganância pelo poder”, a autora nos desafia a tentar humanizar os Rephaim, a nos perguntar como eles chegaram lá e se seria possível para os humanos perder sua humanidade, sua benevolência, sua esperança e se transformar em monstros dominadores e escravagistas como os Rephaim.
Entretanto, ao mesmo tempo que em que mostra que a nossa raça pode ficar pior do que já é, A Ordem dos Clarividentes também nos faz imaginar, através do Mestre, se não é possível fazer o caminho contrário, tornar o mal, o insensível, em humano de novo. Nesse livro, Arcturus trilhou um caminho interessante. Libertado por Paige, ele parece não saber o que fazer consigo mesmo, com seus sentimentos. Ele não vai desistir de tentar destruir Nashira, mas será que quer construir sua liberdade apenas sobre um plano de vingança? Ver um lado mais sensível, quase humano e quase que apaixonado de Arcturus foi interessante, e me fez cativar ainda mais com o personagem.
“ - Você já foi escrava – disse ele. - Não seja escrava do medo, Paige Mahoney. Assuma seu dom.” Pág. 326
Contudo, a minha favorita da série é a Paige. Ela já tinha me conquistado com sua força em Temporada dos Ossos, mas, nesse livro, sua determinação em fazer o certo, em iniciar uma revolução pelo bem, pela liberdade de todos, assim como pela própria, me fez amar a personagem. Paige é colocada sobre muitas provações em A Ordem dos Clarividentes. Ela questiona seus sentimentos e sua lealdade, e ver a personagem frágil, mas sem desistir de montar a sua revolução, tornou a leitura ainda mais emocionante e intrigante. É nesse livro que ela se torna a líder que vamos ter o prazer de acompanhar e pela qual torcer nos próximos livros da saga.
Quanto aos personagens secundários, novamente adorei o Nick, o melhor amigo médico de Paige, mas Jaxon Hall, líder da gangue e antigo mentor da protagonista, foi quem viveu uma trajetória interessante. A imagem heroica, de líder brilhante, delineada no livro anterior é desconstruída e conhecemos não só a origem, mas a verdadeira face do personagem, sempre sobre a ótica cinza dominante da série, que não cai em clichês de criar heróis e vilões perfeitos – todos os personagens trazem um pouco dos dois, um pouco de bondade e maldade dentro de si, como qualquer ser humano.
A EDIÇÃO
A Ordem dos Clarividentes teve uma excelente tradução, o texto não traz qualquer tipo de erro, seja de gramática ou sentido. A diagramação tem alguns detalhes interessantes, como mapas no início da obra e um glossário das gírias que os personagens usam, no final, o que ajuda o leitor a compreender melhor o rico e complexo mundo distópico e fantástico criado pela autora. A capa minimalista é bonita, combina com a do livro anterior e traz elementos importantes da história, como o contorno de uma mariposa. Sem falar que o vermelho forte, em contraste com o título dourado, combina com o ar sombrio e intenso de A Ordem dos Clarividentes.
CONCLUSÕES FINAIS
Quem controla o nosso mundo? Porque nos calamos diante governos opressores, a ponto de resistir a mudanças, a revoluções? Qual é nosso papel, nossa responsabilidade em uma sociedade dividida e marginalizada, marcada pelo medo do diferente? O que nos faz humanos? O que separa heróis de vilões, bondade da maldade, esperança do medo? Essas são perguntas como essa que a leitura de A Ordem dos Clarividentes levanta, mostrando que a ficção, por mais fantástica que seja, pode falar bastante da realidade. E esse livro, mesmo com críticas e questionamentos tão profundos, não perde seu lado mágico que fascina e intriga os leitores.
Com personagens com poderes mágicos em guerra com uma raça “alienígena”, em uma Londres futurista, com direito a disputas entre gangues, perseguições policiais e mais, A Ordem dos Clarividentes é uma obra emocionante e viciante. O livro mistura perfeitamente drama, suspense, ação, distopia e fantasia urbana, com umas pitadas ainda de romance no meio. A Ordem dos Clarividentes é tenso e instigante do início ao fim - impossível largar essa história sobre o início de uma revolução e a ascensão de sua líder, a corajosa e inspiradora Paige. Com personagens complexos e humanos, e uma trama bem bolada, o livro superou as minhas expectativas e o volume anterior, sem falar que me deixou louca pelos próximos livros. A Ordem dos Clarividentes, como toda a série Bone Season até agora, está mais que recomendada para todos – são leituras poderosas, surpreendentes e emocionantes.
QUOTES FAVORITOS
“-(…) A literatura é nossa ferramenta mais poderosa. (…) Mas nós, os criativos, devemos ser muito cuidadosos com obras subversivas. Se trocarmos uma palavra ou até mesmo uma única letra, alteramos a história toda. É um negócio arriscado.” Pág. 74
“-Não é maravilhoso como as palavras e o papel podem nos transformar tanto? Estamos testemunhando um milagre, querida.” Pág. 74
“-Esperança não é apenas outro tipo de ingenuidade?
-Esperança é a alma da revolução. Sem ela, não passamos de cinzas esperando o vento nos levar.” Pág. 381
- Leia a resenha do 1º livro da série, Temporada de Ossos
Título: A Ordem dos Clarividentes
Título original: The Mime Order
Série: Bone Season
Volume: 2
Autora: Samantha Shannon
Editora: Fantástica Rocco
ISBN: 9788568263488
Ano: 2017
Páginas: 400
*Esse livro foi uma cortesia da Editora Rocco
- Leia a resenha do 1º livro da série, Temporada de Ossos
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