A HISTÓRIA
Pouco se sabe como e onde começou. Um dia estava tudo bem, e, no outro, o mundo estava em chamas. Os primeiros sinais da doença são manchas pretas e douradas na pele e, logo, os infectados entram em combustão instantânea. Harper Grayson acompanhou as grandes cidades, florestas e estradas em chamas pela televisão. A enfermeira de escola pública achou que estaria a salvo, que alguém encontraria a cura, até que a pandemia global bate a sua porta e ela vê um homem pegar fogo sozinho, há poucos metros de distância.
Meses depois e o caos se instalou. Harper agora trabalha como voluntária no hospital local, que está lotado de pessoas marcadas pelo esporo preto e dourado, a espera da morte nas chamas. Por debaixo de sua roupa de proteção, a enfermeira se esforça para ser positiva mesmo tendo que ver crianças, adultos e idosos sucumbirem não só a doença misteriosa, mas ao medo de se transformar em cinzas. Mas a própria Harper acaba experimentando a sensação quando descobre que foi infectada. Sua pele agora está marcada pela doença e, por causa disso, seu marido, que não foi infectado, acha que ela deveria se matar.
Meses depois e o caos se instalou. Harper agora trabalha como voluntária no hospital local, que está lotado de pessoas marcadas pelo esporo preto e dourado, a espera da morte nas chamas. Por debaixo de sua roupa de proteção, a enfermeira se esforça para ser positiva mesmo tendo que ver crianças, adultos e idosos sucumbirem não só a doença misteriosa, mas ao medo de se transformar em cinzas. Mas a própria Harper acaba experimentando a sensação quando descobre que foi infectada. Sua pele agora está marcada pela doença e, por causa disso, seu marido, que não foi infectado, acha que ela deveria se matar.
Contudo, Harper, que não falara sério quando dissera que se mataria se ficasse doente, agora tem mais um motivo para viver. Grávida do seu primeiro filho, a enfermeira já leu estudos sobre bebês que nasceram saudáveis apesar de suas mães estarem infectadas, por isso ela se compromete a levar a gravidez até o fim. Entretanto, seu marido fica cada vez mais obcecado com a ideia de que os doentes, como a própria esposa, deveriam ser eliminados. Assim, Harper percebe que, para sobreviver até o final da gravidez, precisará de ajuda. É nesse momento que seu caminho cruza com o do Bombeiro, um estranho homem inglês que caminha pela cidade com seus trajes de bombeiro e sua perigosa habilidade de controlar o fogo.
O Bombeiro e seus ajudantes mascarados salvam Harper do marido e a levam para uma colônia de infectados escondida na floresta. Liderados por um estranho e gentil professor que chamam de Pai, aquele grupo de pessoas afirma que encontrou uma maneira de controlar a doença, algo do qual Harper também é capaz, mas só se seguir as regras do lugar, é claro. Harper quer se sentir segura agora que está escondida de seu marido e das patrulhas que percorrem as ruas para matar infectados. Contudo, a vida na colônia demanda um nível de entrosamento com o grupo e submissão ao qual a enfermeira não está acostumada. Conforme o mundo queima e desaba lá fora, dentro da colônia também surgem tensões e inimizades perigosas. Mas, a única coisa que Harper sabe é que fará de tudo para proteger seu filho, nem que para isso precise descobrir como a sua doença funciona e que segredos o Bombeiro e seus companheiros escondem.
A LEITURA: EXPECTATIVAS, NARRATIVA E TRAMA
Eu estava bem animada para ler Mestre das Chamas. Além de ser de um dos meus escritores favoritos, o Joe Hill, o livro foi o vencedor do ano de 2016 na categoria Terror do famoso site Goodreads. A leitura de Mestre das Chamas demorou mais do que eu esperava, levei exatamente um mês para terminar a obra. Contudo, apesar do ritmo mais lento e um pouco cansativo, a obra é bastante cativante e intrigante.
Joe Hill tem uma boa narrativa, com toques de ironia e humor negro, mas foi detalhista demais nesse livro. O autor se prendeu bastante ao que os personagens estavam vendo, sentindo e pensando, o que foi bom para criar um atmosfera de tensão na história, mas que, ao mesmo tempo, a deixou um pouco arrastada. Comparando-o com outros livros de Hill, Mestre das Chamas se aproxima mais de um suspense psicológico com grandes pitadas de distopia do que uma história de terror. Mas isso não chega a ser um ponto negativo, já que o autor acaba trazendo o monstro mais assustador de todos: o próprio ser humano. Apesar de não ter momentos que provocam medo ou repulsa, como em outros livros do Hill, Mestre das Chamas é carregado de uma tensão psicológica tão grande entre os personagens que deixam o leitor preso a trama e que provoca um arrepio ou outro na espinha.
A trama de Mestre das Chamas é cheia de reviravoltas, muitas delas previsíveis, mas não menos emocionantes. A história se desenrola de forma lenta, mas tem um bom número de cenas de ação e drama, com direito a perseguição de carros, confrontos na floresta, resgates de prisioneiros, cirurgias improvisadas e muito mais. Mestre das Chamas ainda traz diálogos instigantes e que soam reais, com muitas referências a músicas (como dos Rolling Stones e Dire Straits) e algumas a programas de TV e filmes (como Mary Poppins e A Noviça Rebelde).
OS PERSONAGENS
Mestre das Chamas tem um grande número de personagens, todos com papel na trama e personalidades marcantes. A protagonista é a enfermeira Harper, uma jovem mulher gentil e positiva, mas que não se rende com facilidade. É difícil não se simpatizar com ela: Harper quer sempre ajudar e manter a harmonia. Mas a enfermeira me conquistou mesmo foi com sua determinação e curiosidade, Harper não aceita verdades prontas e questiona as regras sempre que pode. É interessante também o fato de que ela, como qualquer outro, quer sobreviver e faria qualquer coisa para salvar seu filho, mas não chega a perder as noções de certo e errado no caos pandêmico que se instala.
Os outros personagens mais cativantes são, claro, o Bombeiro inglês John e seus filhos Nick e Allie. Nick é um garotinho surdo e gentil que nos encanta logo de cara. Apesar da sua deficiência, ele está sempre ligado no que está acontecendo e disposto a defender sua família. Já Allie é um pouco mais complexa, uma adolescente que está aprendendo sobre o que é certo e errado em meio a mundo caótico e que, muitas vezes, acaba tomando as piores das decisões. Eu cheguei a odiar a Allie em alguns momentos, mas no fim entendi que todas as atitudes erradas que ela toma são parte do seu crescimento durante a obra. Já o Bombeiro é o mais misterioso de todos. John é herói que faz fogo com as mãos, mas que não se entrosa com facilidade. Ele esconde segredos e mágoas que o fazem agir de forma bem irritante em alguns momentos, mas o jeito com que ele protege os filhos e Harper é muito fofo.
Contudo, os personagens menos heroicos de Mestre das Chamas também merecem atenção. O marido de Harper, que é consumido pela obsessão e o medo, assim como a Carol, a filha extremista do líder da colônia, são personalidades cheias de escuridão e atitudes extremas que causam certo arrepio no leitor. Com seus atos cruéis e impensados, eles se tornam personagens complexos e intrigantes, assim como muito importantes para as mensagens que o autor quer passar com a história.
AS CRÍTICAS DO LIVRO
Ao longo de Mestre das Chamas, acompanhamos a protagonista, a enfermeira Harper, ver o mundo e a sociedade sucumbir em uma pandemia global. Contudo, como era de se esperar de um livro do Joe Hill, a maior ameaça da história não é o vírus que faz com que as pessoas explodam em chamas e sim as próprias pessoas. Nessa obra, o autor transforma o mundo que conhecemos em cinzas para mostrar como os seres humanos são capazes das maiores atrocidades quando estão com medo. E Hill ainda fala bastante sobre o sentimento, como ele se aloja obsessivamente na nossa cabeça e nos faz perder rapidamente a noção do certo e errado.
Mas em um cenário distópico, existe certo e errado? Quando a sua vida está por um fio, você é capaz de fazer qualquer coisa para sobreviver ou se prenderá a noções de moralidade? Esses são alguns dos questionamentos que a história nos traz conforme se desenvolve. Apesar de não fornecer nenhuma resposta, Mestre das Chamas leva o leitor a refletir sobre a natureza humana, sobre o que nos faz agir como agimos, seja em condições normais ou de pandemia global. O livro ainda vai além, e questiona a forma também como nos organizamos, como deixamos qualquer característica arbitrária nos dividir entre os que deveríamos amar e proteger e os que deveríamos odiar e matar – afinal, tanto os não-infectados quanto infectados da trama de Mestre das Chamas logo criam pavor e ódio por aqueles que não são como eles.
“- Quem disse que nós somos inteligentes? - indagou ela, num tom de desdém brincalhão. - Nós nunca conseguimos dominar o fogo. Achamos que sim, mas você pode ver que ele agora dominou a gente.” Pág. 32
A obra ainda chamou a minha atenção, como uma estudante de psicologia, ao mostrar como grupos e pequenas sociedades se organizam – e como isso pode dar muito certo ou muito errado. A colônia de infectados logo cria sua própria maneira de viver, através da solidariedade e amizade entre os doentes. Mas, conforme as regras vão ficando mais rígidas e disputas de poder surgem, o autor nos faz olhar ao nosso redor e imaginar como estamos sendo socialmente controlados pelos nossos próprios grupos e sociedades.
A EDIÇÃO
Com uma excelente tradução, o texto de Mestre das Chamas também não traz qualquer tipo de erro. A diagramação é simples e, apesar de ter achado o tamanho das letras um pouco pequeno, as páginas amareladas ajudam a deixar a leitura mais confortável. Eu adoro a capa do livro. As chamas em um forte tom de laranja e os pássaros em preto não só combinam com a história, como são elementos presentes nela. Eu também curti a adaptação do título: Mestre das Chamas soa bem melhor, mais intrigante e sombrio em português do que "O Bombeiro" (tradução literal do título em inglês, The Fireman)
CONCLUSÕES FINAIS
Apesar de não ter desbancado o meu livro favorito do autor (Nosferatu), Mestre das Chamas supriu as minhas expectativas e me cativou bastante. Mais um suspense psicológico bem misturado com distopia, a obra traz muitas reviravoltas que, mesmo previsíveis, são emocionantes. Apesar da leitura lenta, Mestre das Chamas traz personagens humanos e complexos que nos fazem refletir bastante sobre a natureza humana e seus grupos sociais. Em um mundo onde um vírus faz com que as pessoas entrem em combustão espontânea, a maior ameaça acaba sendo o próprio ser humano, que se volta contra si mesmo conforme o medo se espalha como as chamas e as cinzas. Tenso do início ao fim, Mestre das Chamas foi uma intrigante leitura, que está mais do que recomendada. Como sempre, continuo bem ansiosa para devorar mais obras do autor.
QUOTE FAVORITO
“A característica mais singular do fungo é o modo como ele se vincula a mente. (…) A escama é tão potente que pode apagar até mesmo conceitos fundamentais de identidade pessoal. As ideias dos outros parecem suas, as necessidades dos outros parecem mais importantes do que as suas etc. Estamos mesmo vivenciando o apocalipse zumbi, só que os zumbis somos nós.” Pág. 230
Título: Mestre das Chamas
Título original: The Fireman
Autor: Joe Hill
Editora: Arqueiro
ISBN: 9788580417135
Ano: 2017
Páginas: 192
Conheça mais livros do Joe Hill:
Que super resenha, muito interessante, gostei bastante :D
ResponderExcluirhttp://submersa-em-palavras.blogspot.com.br/
Uau!! Esse livro parece super legal. Adoro livros/séries que mostram como as pessoas reagiriam a um mundo pós-apocalíptico, ser por mortes em massa por doenças, zumbis ou a inexistência de energia/combustíveis. E, geralmente, os autores chegam à mesma conclusão: no fundo, o maior perigo para a humanidade é o homem.
ResponderExcluirParabéns pelo blog, é o meu favorito no mundo literário...