A PROPOSTA DO LIVRO E A LEITURA
Um dos autores brasileiros mais publicados e premiados da contemporaneidade, Frei Betto é um escritor mineiro, autor de 60 livros, e também reconhecido por sua atuação em defesa dos direitos humanos e a favor dos movimentos sociais. E, para comemorar sua longa trajetória como autor, tendo escrito ficção, obras religiosas e vários artigos para jornais, Frei Betto decidiu dedicar esse livro, Ofício de Escrever, para falar e refletir sobre o ato de escrever como profissão e como missão de vida.
“Escrever é escavar: memórias, histórias, com junturas, ideias e perfis. Não basta alinhavar vocábulos. É preciso desbordar a vida” Pág. 41
Ofício de Escrever é dividido em 4 partes. Na primeira delas, “Do ofício de escrever”, o autor começa nos contando porque ele escreve e argumenta como, para um verdadeiro escritor, colocar as palavras no papel é mais do que um hobby, é uma missão de vida, é parte da sua personalidade. Essa foi a minha parte favorita do livro, pois me identifiquei muito com o autor quando ele defende que escrever é um modo de ser feliz, mas também de se libertar de certas ideias e sentimentos. Ainda falando “Do ofício de escrever”, Frei Betto responde a questionamentos como o que faz um bom autor e um bom texto, e como encarar a escrita como profissão.
Na segunda parte de Ofício de Escrever, o tema é “Literatura e Espiritualidade”. Por não ser religiosa, essa parte não me chamou muita atenção. Contudo, foi interessante lê-la e entender um pouco das ideias do autor sobre o assunto, que defende como a literatura, seja ela nos textos sagrados ou em poemas que abordam o tema, pode ser um dos instrumentos para entrar em contato, sintonia, com Deus. A terceira parte é intitulada “Literatura e Política” e nos faz refletir como os livros podem ser causadores de mudanças sociais ou registros dessas. Frei Betto também discute a importância de uma literatura engajada, mas também um pouco de como fazê-la. Essa foi a minha segunda parte favorita de Ofício de Escrever, já que gosto bastante desse ideal da literatura como coisa viva, como parte da sociedade e da história.
E por fim, a quarta parte, “Aprender a ler”, encerra o livro. Aqui, Frei Betto discute a importância dos textos escritos como formas de repassar o conhecimento. Ele reflete sobre a relação da escrita e da mídia, mas também da relação entre a literatura e as pessoas, sobre como o hábito de ler está crescendo no Brasil, mas ainda está longe de ser o ideal para poder se dizer que somos uma nação de leitores. Essa última parte ainda traz uma crônica rápida bem interessante, uma narrativa simples sobre como, para apreciar a literatura, é preciso aprender a ler além das palavras, aprender a construir sentidos e analisar metáforas.
CONCLUSÕES FINAIS
Ofício de Escrever é uma obra curta, mas que deve ser lida devagar. Durante uma semana, fui lendo o livro aos poucos e me entregando aos questionamentos e reflexões propostas pelo autor. Apesar de discordar da visão conservadora de Frei Betto, que concebe a literatura como uma arte intocável, muito política e fiel aos clássicos (enquanto eu acredito e defendo livros que só divertem, que fogem completamente às regras, e gêneros, como a fantasia, que não se apegam muito a realidade), eu me identifiquei com muitas das ideias defendidas pelo escritor. Como ele, acredito que a literatura é um meio poderoso de comunicação, que muda a vida de uma pessoa e que escrever é mais do que uma paixão e sim um meio de sobrevivência, de ser feliz.
“Não sou a obra que faço. Ela é melhor e maior do que eu.” Pág. 13
Diferente do que eu esperava, Ofício de Escrever não é um guia para escritores, com um montante de dicas e regras sobre escrita. Contudo, a obra acaba trazendo algumas recomendações sobre o tema, Frei Betto fala bastante de seu método e relacionamento com a escrita, assim como o de outros escritores famosos, o que pode ser bem proveitosos para aspirantes a escritores (como eu). Apesar de não ser um livro que vai mudar a sua vida, Ofício de Escrever agrada bastante quem é apaixonado por literatura e escrita ao trazer muitas reflexões e questionamentos sobre o tema. Essa obra vai te fazer pensar sobre o porque você escreve, como você escreve e para quem você escreve. Além disso, vai te fazer se cativar novamente pelos livros, relembrando o quanto eles são poderosos e capazes de mudar a nossa vida. Enfim, uma boa, rápida e agradável leitura.
A EDIÇÃO
Ofício de Escrever tem uma boa edição. A diagramação é simples, mas o texto não traz qualquer erro. O tipo e tamanho da fonte estão bons e, assim como as páginas amareladas, ajudam a deixar a leitura confortável. Um detalhe fofo e que me chamou atenção foi que no início de vários capítulos há pequenos quotes sobre escrita, literatura e leitura. Eu gosto bastante da capa desse livro, o estilo minimalista é bem adequado com o propósito de Ofício de Escrever e a escrita objetiva do autor. Sem falar que a pilha de livros antigos combina perfeitamente com uma obra que fala bastante de escrita e literatura.
QUOTES FAVORITOS
“Escrevo para lapidar esteticamente as estranhas forças que emanam do meu inconsciente. Nada me dá mais prazer na vida do que escrever.” Pág. 12-3
“Aos candidatos a escritor, aconselho este critério: se consegue ser feliz sem escrever, talvez sua vocação seja outra. Um verdadeiro escritor jamais será feliz fora deste ofício. Escrevo para ser feliz.” Pág. 13
“O bom texto é aquele que deixa saudade na boca da alma. Vontade de lê-lo de novo.” Pág. 15
“Um verdadeiro escritor é alguém possuído pela compulsão de escrever. Acha-se sempre grávido de uma ideia ou de uma intuição, e sua principal luta é contra o tempo. Este é um ofício manual que exige disciplina e dedicação.” Pág. 24
“Como lembra Mário Benedetti, a literatura não muda o mundo, mas sim as pessoas. E as pessoas mudam o mundo.” Pág. 29
“Livros são estranhas criaturas. Independem de seus autores. Percorrem caminhos imprevisíveis.” Pág. 93
“'Sempre imaginei que o Paraíso fosse uma espécie de biblioteca.' Espero que sim, pois nesse curto período de vida é impossível ler todos os livros que me interessam.” Pág. 116
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