A HISTÓRIA
Rafe sabe que deveria se considerar sortudo. Diferente de muitos garotos, sair do armário foi extremamente tranquilo e ele nunca sofreu bullying ou nada do tipo. Claro que é preciso considerar que os pais meio hippies de Rafe nem sua cidade são como a maioria, ele cresceu em um ambiente cercado de aceitação e carinho, onde nada é estranho demais ou anormal. Contudo, Rafe está cansado de ser o garoto-propaganda de grupos de apoio ao público LGBT que a sua mãe organiza, está cansado falar sobre suas experiências de vida e, mais do que tudo, está cansado de ser conhecido como o garoto gay na escola.
Rafe sabe que tem uma boa vida, mas não aguenta mais ser reduzido a apenas uma coisa, como se sua orientação sexual fosse a única parte interessante da sua personalidade. Assim, ele resolve buscar um meio de ter uma adolescência mais “normal” e, para isso, ele se matricula em uma escola só para garotos do outro lado do país e decide que, pelo tempo que estudar lá, manterá sua orientação sexual em segredo. Tanto os pais quanto a melhor amiga de Rafe acham que ele está fazendo uma loucura, mas nada impede o garoto de seguir em frente.
E apesar das dificuldades iniciais de se estar em um lugar completamente estranho, o plano de Rafe acaba seguindo muito bem: ele começa a jogar no time de futebol da escola e rapidamente faz amizade com os outros atletas. Por não saberem que Rafe é gay, os novos amigos acabam o tratando como qualquer outro garoto e proporcionando a Rafe todas as experiências típicas de garotos héteros: jogos de futebol e outros esportes extremamente competitivos, provocações e troca de insultos constantes, brincadeiras tolas com bebidas e festinhas com garotas, etc. E mesmo descobrindo que, afinal, não gosta tanto dessas coisas assim, Rafe fica feliz que seu plano está dando funcionando.
Entretanto, tudo começa a mudar quando Rafe fica mais próximo de um dos garotos da escola. Ben é um dos atletas também, mas ele é diferente: é amigo de todo mundo ao mesmo tempo em que gosta de ficar na sua; ele lê bastante e adora de conversar sobre outras coisas que não futebol e garotas. E, com a nova amizade, Rafe começa a se soltar mais e se esforçar menos para esconder sua sexualidade. Contudo, todas as longas conversas no quarto de Ben acabam deixando os dois garotos muito próximos e Rafe apaixonado. Claro que ele não admite se sentir atraído por Ben, contudo, conforme o garoto ocupa cada vez mais a mente de Rafe, ele percebe que está em uma enrascada e fica divido entre continuar o seu plano ou se revelar para Ben. Será que essa história terá um final feliz?
A LEITURA
Eu estava bastante curiosa para ler Apenas um Garoto. Fico muito contente em ver as editoras dando espaço para uma literatura mais diversa e, por causa do David Levithan, comecei a apreciar romances que conseguem falar sobre sexualidade, aceitação, preconceito e etc, para o público jovem. Eu esperava uma obra divertida e fofa, e Apenas Um Garoto não só alcançou, como superou minhas expectativas.
A narrativa em primeira pessoa bem-humorada, sobre a perspectiva de Rafe, já deixa o livro gostoso desde o início e nos permite conhecer melhor o protagonista. Outro ponto interessante foi que, por causa de um professor, Rafe é obrigado a manter uma espécie de diário, e, assim, acabamos conhecendo melhor o passado do personagem e seus conflitos internos. Além de ter uma escrita fluída, o autor também agrada ao construir uma trama bem amarrada e surpreendente. Apesar de grande parte da história ser o dia a dia de Rafe, Bill Konigsberg conseguiu criar uma trama interessante e movimentada, que envolve e intriga o leitor, além de o fazer refletir. Gostoso e rápido de ler, eu devorei Apenas Um Garoto em pouco mais de dois dias e fiquei sedenta por mais! O livro é fofo, divertido e crítico, uma leitura que me impactou bastante.
O PROTAGONISTA E A CRÍTICA DA OBRA
Apesar trama simples, Apenas Um Garoto consegue criar uma narrativa poderosa e emocionante. Com bastante sensibilidade, mas também com um bom humor honesto, o autor conseguiu criar, ao mesmo tempo, um livro divertido e jovem, mas que é desprovido de fantasias perfeitas e irreais como filmes hollywoodianos e outras obras do gênero. A vida e a mente de Rafe são complexas, seus dilemas são os mesmos que muitos nós temos e, como na vida real, eles não se resolvem facilmente ou da maneira que desejamos. E através desse protagonista tão real, Bill Konigsberg fala sobre sexualidade, preconceito, rótulos, esteriótipos, expectativas, desejos e muito mais.
Eu adorei o Rafe desde o início. Ele sabe bem quem ele é, gosta de escrever, tem um humor cínico e vê o mundo da sua própria maneira, mas não deixa de ser um jovem inseguro e cheio de sonhos e expectativas como qualquer outro. Apesar de parecer loucura essa coisa toda de mudar de escola e esconder sua sexualidade, eu entendi bastante o dilema principal do personagem. Rafe estava cansado de ser reconhecido apenas como o garoto gay e queria ser visto como uma pessoa por inteiro, e não o porta-voz de uma causa. E através de Rafe percebemos como é difícil quando somos reduzidos apenas a uma coisa só, quando sintetizam nossa personalidade inteira em apenas um rótulo (gay, nerd, feminista, emo, etc) algo que, infelizmente, acontece o tempo todo.
Contudo, mesmo simpatizando e entendendo o Rafe, eu odiei certas ações do personagem. A princípio, ele afirma que só esconderia sua orientação sexual, mas, em determinado momento, ele passa a mentir, afirmando com todas as letras que é hétero. Felizmente, o garoto acaba aprendendo que não adianta mentir sobre quem você é e amadureceu a partir das confusões nas quais se meteu por causa da mentira. E apesar de ter sofrido vendo o protagonista enganar os outros e a si mesmo, gostei das lições que o autor tirou disso, mostrando que para ser aceito pelos outros, primeiro temos que aceitar nós mesmos como somos. E isso vale para sexualidade, gosto musical, sonhos de vida, absolutamente tudo – essas coisas não nos definem, mas fazem parte de nós, por isso não podemos fingir que elas não existem ou que são o que não são.
A EDIÇÃO
A tradução estava excelente e o texto sem erros. O tipo e tamanho de fonte também estavam bons, assim como as páginas cor de creme, que sempre deixam a leitura mais confortável. Eu amo a capa de Apenas Um Garoto, ela é colorida e fofa, perfeita para um livro destinado para o público jovem.
CONCLUSÕES FINAIS
Divertido e emocionante, Apenas Um Garoto é um livro simples, mas poderoso. A obra cativa do início ao fim, nos faz rir e suspirar, além de nos fazer refletir bastante. Bill Konigsberg fala, sem máscaras ou filtros bonitinhos, sobre sexualidade, rótulos, preconceito e aceitação, de modo acessível e interessante para os jovens.
Apenas Um Garoto é uma história sobre descobrimento e enriquecimento pessoal, onde através de um protagonista inteligente, fofo e divertido, aprendemos que não importa que o mundo inteiro nos aceite, se não gostarmos de nós mesmos exatamente do jeito que somos, se não nos aceitarmos por inteiro, jamais seremos felizes. Em especial sobre sexualidade, a obra mostra como orientação sexual não define uma pessoa, mas faz parte dela.
Eu amei o livro e espero poder ler mais do autor em breve, especialmente porque, ao que tudo indica, Bill Konigsberg vai lançar mais um livro desse mesmo universo, só que focado no Ben. Indico Apenas Um Garoto para todos os jovens e todos que curtem leituras sobre as temáticas já citadas.
Título: Apenas Um Garoto
Título original: Openly Straight
Autor: Bill Konigsberg
Editora: Arqueiro
ISBN: 9788580415896
Ano: 2016
Páginas: 256
*Esse livro foi uma cortesia da Editora
Compre: Amazon - Submarino - Americanas
Leia também:
Oi, Ana!
ResponderExcluirEu estava com um pé atrás com essa de esconder a sexualidade, mas, pelo que li na sua resenha, o personagem aprende sua lição. E é bom saber que a leitura é engraçada
Beijos
Balaio de Babados
Participe da promoção de aniversário do Balaio de Babados e Postando Trechos
Participe da promoção 1 Ano de Estilhaçando Livros
Muito bom, precisamos cada vez mais de livros assim. É importante essa questão ser retratada, agora também muito comumente em livros, pois ajuda a quebrar alguns rótulos, preconceito, esteriótipos da sociedade e abrir a mentalidade crítica das pessoas. Ainda existe muito preconceito e desconhecimento por parte da população. Ainda não tive a oportunidade de ler um livro com temática principal a questão LGBT, espero muito poder ler esse livro futuramente!!
ResponderExcluirMuitos blogs falando sobre este livro, e ainda não tive a oportunidade de le-lo. Também não ficaria bem um pouco impressionada se me surpreender realmente... pq a arqueiro é uma editora incrível.
ResponderExcluirJá li algumas resenhas e vários comentários sobre esse livro e a cada vez gosto mais. Estou com ele na lista de livros para ler ainda esse ano. Gostei da sua resenha.
ResponderExcluirCaramba! Fiquei morrendo de vontade de ler. Adoro os livros do David Levithan. Fico feliz em ver que mais editoras estão se abrindo para mais obras desta temática. Há alguns anos, era bem difícil encontrar livros assim.
ResponderExcluirAbraços
Blog do Ben Oliveira
Olá, querida!!!
ResponderExcluirTudo bem?
A Bienal do Livro e meu trabalho me deixaram sem tempo para te visitar antes, mas voltei com essa resenha maravilhosa!!
Esse livro parece ser incrível mesmo!!!! Eu adorei a ideia e todos os comentários que vejo por aí sobre a história.
Com certeza vou adicionar na minha lista porque essas histórias ficam com a gente e nos mudam um pouquinho mais cada vez, certo?!
Bjs!!!
http://livrosontemhojeesempre.blogspot.com.br
Oi, Ana.
ResponderExcluirEu nunca li nada com essa temática porque não me sinto muito atraída pela premissa mas gostei bastante da sua resenha e do que a obra nos reserva. Com certeza é um livro que acaba de entrar na minha lita!
Beijo, Visite o Leitora Encantada
já ouvi falar muito bem deste livro e fiquei curiosa p ler ele com certeza vai para minha lista de leitura. Gostei muito das conclusões finais escrita por vc, excelente resenha. grande bj Ana!!!
ResponderExcluirEu ganhei este livro mas nem li ainda...adorei a resenha já vou começar a entender a história de Rafe!
ResponderExcluirAmiga estava louca para conferir a opinião de alguém sobre esse livro. Fiquei interessada desde o lançamento, mas acabei deixando para depois.
ResponderExcluirBom demais saber que a leitura superou sua expectativa e que a reflexão e lição que a história provoca nos leitores é super positiva.
Tudo que combate o preconceito é mais que válido.
Beijos e valeu pela indicação de leitura.
Leituras, vida e paixões!!!
Paula de Sá
ResponderExcluirRecebi o card desse livro num evento e já estou apaixonada!
Adorei o livro,deixa uma grande lição para todos nós sobre a questão de rótulos,super indico!!!
ResponderExcluirBoa resenha! Já coloquei na minha lista para futuras leituras.
ResponderExcluir