A HISTÓRIA
Quando os puritanos chegaram e se estabeleceram na América, suas comunidades foram construídas sobre princípios morais e religiosos rígidos, que diziam respeito a todo e qualquer aspecto da vida dos habitantes, desde o âmbito social ao privado. As punições para aqueles que fugiam aos “bons costumes” eram severas e os pecadores carregavam para sempre o estigma do seu erro, servindo de exemplo para o restante da comunidade.
Naqueles tempos, o casamento era a instituição mais sagrada depois da própria Igreja, o sexo era visto como algo sujo e só poderia ser praticado para reprodução, e o adultério era punido com a morte. Hester Prynne é uma inglesa que chegou a uma comunidade puritana de Massachusetts sozinha. Contudo, a falta de uma companhia masculina foi aceita já que, de acordo com a mesma, seu marido viria logo que ela encontrasse uma boa casa para ambos.
Entretanto, dois anos se passam sem qualquer sinal do marido de Hester e, quando descobrem que ela estava grávida, fica claro que a mulher cometeu adultério. Hester se recusa a confessar para as autoridades da cidade quem seria o pai da criança e estes resolvem dar-lhe uma pena menos severa que a morte. Assim, a mulher é condenada a carregar em suas vestes, para o resto de sua vida, a letra A, de adúltera.
Agora uma pária social, Hester passa a viver isolada nos limites da cidade com sua filha, a pequena Pearl. Suas habilidades incríveis como costureira rendem não só sustento para as duas, mas também um lugar dentro da comunidade. Contudo, nada é capaz de afastar o estigma do pecado de Hester, que é alvo de humilhações e críticas, especialmente conforme Pearl cresce e se mostra cada vez mais bela e rebelde, uma selvagem diante os costumes rígidos dos puritanos.
Mas, dentro da comunidade, Hester não é a única que guarda segredos e que já agiu contra os bons costumes morais. Boatos de que mulheres se encontram na floresta, a noite, para celebrar com o demônio são comuns e o ex marido de Hester também vive na comunidade, em segredo, e cumpre bem sua missão de atormentá-la. Outra figura misteriosa é o pastor Dimmesdeale, um jovem doente que é tido como um santo por todos os moradores, mas que parece carregar o peso de uma grande culpa.
A LEITURA: TRAMA E NARRATIVA
A Letra Escarlate é o primeiro livro do norte-americano Nathaniel Hawthorne, que é considerado o primeiro grande escritor dos Estados Unidos, e foi publicado em 1850. Com uma narrativa gostosa e recheada com pitadas de ironia, Hawthorne criou um clássico que, até hoje, é amado por muita gente e continua sendo uma obra bastante atual.
Eu já havia ouvido, visto e lido muitas e muitas referências a Letra Escarlate. Contudo, a grande vontade de ler o livro surgiu alguns anos atrás após ver A Mentira, um dos meus filmes favoritos e que não só aborda a obra de Hawthorne, como tem parte de sua trama baseada no livro. E, agora, após finalmente ter tido coragem para ler o clássico, entendo porque não só A Letra Escarlate, como também todas as suas adaptações e releituras fazem tanto sucesso.
Confesso que saltei sim o prefácio de A Letra Escarlate, que nada tem a ver com a história, mas me vi apaixonada pela obra logo nos primeiros capítulos da saga de Hester Prynne. A narrativa em terceira pessoa do autor é surpreendente ágil para um livro da época em que foi escrito e a trama, apesar de não ter muita ação, é bastante empolgante e fluída.
Eu não costumo gostar de histórias muito reflexivas, entretanto, acabei adorando que Hawthorne, volta e meia, voltava-se para o interior dos personagens e me prendia em considerações sobre a alma e índole humana, assim como sobre os costumes e modo de pensar da época em que se passa a história. Apesar de A Letra Escarlate ser uma obra curta, demorei a terminá-la. Estava gostando tanto do livro que decidi apreciá-lo devagar e me permiti divagar junto do autor e absorver a trama e suas lições com calma.
Eu não costumo gostar de histórias muito reflexivas, entretanto, acabei adorando que Hawthorne, volta e meia, voltava-se para o interior dos personagens e me prendia em considerações sobre a alma e índole humana, assim como sobre os costumes e modo de pensar da época em que se passa a história. Apesar de A Letra Escarlate ser uma obra curta, demorei a terminá-la. Estava gostando tanto do livro que decidi apreciá-lo devagar e me permiti divagar junto do autor e absorver a trama e suas lições com calma.
A CRÍTICA E OS PERSONAGENS DO LIVRO
O sucesso de A Letra Escarlate, desde a época que foi publicado até os dias de hoje, se deve, primeiramente, a ousadia do autor. Ao longo do livro, Hawthorne deixa claro sua visão crítica sobre costumes puritanos. Apesar da escrita bela, o autor nos mostra claramente que os puritanos eram, nada mais, nada menos, que conservadores preconceituosos hipócritas. Como um excelente e único romance de época, A Letra Escarlate se destaca por explorar o pior do modo de vida e de pensar da época em que se passa.
Contudo, o aspecto que mais conquistou o meu amor por esse livro foi a saga da nossa heroína Hester Prynne. E sim, ela é mesmo uma heroína. Em uma época em que as mulheres não podiam fazer nada além de se casar e cuidar da casa e dos filhos, Hawthorne presentou os leitores com uma mulher forte e a frente de seu tempo. A Letra Escarlate não é uma história de redenção, pois Hester nunca demonstrou arrependimento (e nem deveria) por ter cedido a paixão por homem que amava (e por isso já pode ser considerada um dos primeiros símbolos da luta feminina por liberdade, especialmente sexual) e tornou o símbolo de seu “pecado”, a letra A, na demonstração de sua força.
Mãe solteira, uma pária social em todos os aspectos, Hester jamais se tornou uma mulher amarga e, diferente de seus pares, ela se mostra uma pessoa puramente benevolente. Hester Prynne não julga os diferentes, não oprime os mais pobres e fracos, não se volta contra ninguém e não guarda rancor. A heroína de A Letra Escarlate é uma prova de que mesmo em uma sociedade e uma cultura hipócritas e corrompidas é possível que o melhor do ser humano floresça. E enquanto Hester só nos remete a coisas boas, como a superação a opressão, a bondade sem julgamentos, as principais figuras masculinas da obra, o ex-marido da mulher e o pastor Dimmesdeale, simbolizam o pior: o rancor, o desejo de vingança, a covardia, a hipocrisia.
Hawthorne serviu-se bem de símbolos e metáforas em A Letra Escarlate (tanto que os personagens não soam nem um pouco reais). É interessante vê-lo transformar a figura feminina ligada ao pecado, a luxúria, em um símbolo de bondade, de superioridade moral, enquanto as figuras masculinas seguem justamente o caminho contrário, os bons homens se mostram os piores, se mostram hipócritas. Uma personagem feminina forte que representa o bem, tendo alçando-o sem ajuda, sem influência masculina, ainda é algo extremamente raro na literatura até nos dias de hoje.
E assim A Letra Escarlate se torna uma obra extremamente atual por tratar de uma sociedade de máscaras e exclusão, uma sociedade machista que sem hesitar oprime e castiga as mulheres, mesmo que muitas de nós, como Hester Prynne, jamais aceitarão ser rotuladas a bel prazer pelos homens e que usarão isso contra eles, para construir sua própria história de força e sucesso. Mesmo que, talvez, essa jamais tenha sido a intenção do autor (como poderíamos deduzir a partir da tentativa, falha na minha opinião, de redimir o pastor Dimmesdeale diante os olhos do leitor – único detalhe da trama que me desagradou), A Letra Escarlate é uma obra feminista e deveria ser lida por todos.
A EDIÇÃO
Esta edição de bolso de A Letra Escarlate está ótima, em comparação com outras edições econômicas. Curti tanto a história que não me incomodei com as páginas brancas e a falta de orelhas. O material da capa e das folhas é um pouco mais resistente, e não sofreram qualquer dano durante a leitura – diferente de outras edições de bolso que tive em mãos em leituras passadas. Essa capa é bastante simples, mas a acho bonita e perfeita para o livro.
CONCLUSÕES FINAIS
Uma obra gostosa de ler, mas recheada de simbolismos e mensagens importantes, A Letra Escarlate se prova um clássico da literatura mundial simplesmente maravilhoso e ainda muito atual. Me cativei bastante a protagonista forte e determinada, assim como o aspecto feminista de sua história. Todos que não medo de encarar um livro questionador devem ler o livro. Eu amei A Letra Escarlate, que entrou para os meus favoritos dos favoritos. Espero reler a obra em breve.
QUOTES FAVORITOS
“Assim, Hester Prynne acabou conquistando um lugar no mundo. Com a energia inata de seu caráter e sua rara habilidade, este não conseguira vencê-la, embora houvesse lhe impingido uma marca que, ao coração de uma mulher, era mais intolerável do que a marca imposta a Caim.” Pág. 87
“Mas havia uma vida mais real para Hester Prynne, aqui, na Nova Inglaterra, do que na região desconhecida onde Pearl havia encontrado um lar. Aqui fora o lugar de seu pecado; aqui, o lugar de sua tristeza; e aqui haveria de pagar sua penitência.” Pág. 254
Título: A Letra Escarlate
Título original: The Scarlet LetterTítulo: A Letra Escarlate
Autor: Nathaniel Hawthorne
Editora: Bestbolso
ISBN: Nathaniel Hawthorne
Ano: 2012
Páginas: 225
Compre: Amazon
Amo livros clássicos, ainda não li este, mas já está em minha lista de futuras leituras! Amei sua resenha e fico feliz que o livro se tornou um de seus favoritos!
ResponderExcluirAbraços!
Como gosta de clássicos, aposto que vai adorar A Letra Escarlate! Obrigada, fico feliz que gostou da resenha!
ExcluirOi, Ana!
ResponderExcluirEu amo A Mentira, mas ainda não me peguei pra ler A Letra Escarlate. Sua resenha já me deu uma ideia do que esperar da leitura.
Beijos
Balaio de Babados
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Que bom, espero que goste do livro!
ExcluirQue bom, espero que goste do livro!
ExcluirOi Ana!
ResponderExcluirAssim como você já vi referências diversas desse livro, só que nunca parei para ler.
Não fazia ideia de que o livro fosse tão bom nem que fosse feminista, agora fiquei com vontade de ler! Vou procurar essa edição.
Beijos,
Sora - Meu Jardim de Livros
Essa edição é ótima, boa e barata rs. Depois me conte se gostou da obra!
ExcluirAna não vou cansar de elogiar sua escrita e fotos, estou virando sua fã (percebe-se pelos meus comentários). Enfim já tinha ouvido falar desse livro, mas não lembrava do enredo e lendo sua resenha fiquei louca para conferir a história dessa mulher que não baixou a cabeça para a sociedade preconceituosa nem se deixou corromper nem amargurar pelas dificuldades. E como vc mesma destacou essa obra continua atual já que os casos de preconceito e injustiças continuam acontecendo nos dias de hoje, principalmente pelas redes sociais.
ResponderExcluirAmei os pontos que vc destacou da história, dos personagens e dos questionamentos sugeridos pelo autor. Adorei a dica e vou correndo add a minha lista no skoob para não esquecer.
Beijos
Leituras, vida e paixões!!!
Obrigada Aline, sério mesmo! Fico muito feliz que goste das resenhas! E A Letra Escarlate é incrível, vale bastante a pena ler! É uma obra cativante e bastante atual, que fala sobre preconceitos e machismo, você precisa ler!
ExcluirOi, Ana,
ResponderExcluirEsse livro também entrou para os meus favoritos.
Li recentemente (numa edição que não me agradou muito), e me apaixonei.
As páginas introdutórias foram bem cansativas pra mim e eu confesso que
senti muito medo de me decepcionar e acabar abandonando a leitura achando
que o livro todo tivesse o mesmo ritmo da introdução. A melhor coisa que
eu fiz foi dar continuidade à leitura porque quando a trama começou a se
desenrolar de verdade, eu não consegui mais largar o livro.
Mal li e já fiquei com vontade de ler novamente.
Beijão,
Sala de Leitura
Ah, eu confesso que pulei as páginas introdutórias kkk Elas não mudam nada na história e são bem chatinhas mesmo! Mas o livro em si é bem legal e dá vontade de reler mesmo!
ExcluirEu amei esse livro! Porém passei raiva algumas vezes. Como pode existir um homem tão passivo quanto o reverendo Dimmesdeale?! Hester segurando a barra, forte, decidida enquanto ele só se lamentava... Fiquei com raiva mesmo hahaha.
ResponderExcluirExcelente resenha, achei super completa, parabéns!
Toca da Lebre