9.2.16

Resenha: Fragmentados - Neal Shusterman


A HISTÓRIA

Foi a Guerra de Heartland que mudou tudo. A população se dividiu entre os Pró-Vida, aqueles que eram contra o aborto, e os Pró-Escolha, que entendiam que era uma opção da mãe abortar ou não. Para impedir que o caos destruísse o país, a guerra foi encerrado com um acordo, a Lei da Vida, que atendia aos dois lados. Até os 13 anos, a vida e as crianças são intocáveis. Entretanto, até se tornarem maiores de idade, os jovens entre 13 e 18 anos podem ser abortados retroativamente, a escolha dos pais ou do Estado (em caso de órfãos), em um processo chamado fragmentação

A fragmentação, tecnicamente, não mata. O indivíduo fragmentado apenas é dividido em várias partes e seus órgãos e membros doados para outras pessoas. Entretanto, o que era para ser uma solução social, trouxe apenas mais caos. A fragmentação criou uma indústria milionária e uma medicina preguiçosa que, em vez de procurar a cura, apenas procura um órgão ou um membro saudável que substitua o doente. O processo também se tornou ideal para eliminar os indesejados, os problemáticos, toda e qualquer pessoa que não de encaixe no sistema.


Connor é esse tipo de pessoa. Rebelde e explosivo, ele cria confusões tanto em casa quanto na escola. Assim, seus pais resolvem fragmentá-lo. Contudo, o garoto descobre tudo e foge antes que possam levá-lo para a fragmentação. Seu caminho acaba se cruzando com o de Risa e Lev. Ela é órfã e, apesar de tocar piano muito bem,  não se destacou o suficiente para justificar as despesas que causa ao Estado, que resolve fragmentá-la. Já Lev tem uma história bem diferente. Vindo de uma família grande, abastada e bastante devota, ele foi o escolhido como dízimo, nome dado aos jovens que nasceram para a fragmentação em nome de sua religião, como um sacrifício para o seu Deus.

Connor pensou que estava salvando Lev, mas o garoto realmente acreditava em seu propósito como dízimo e passa a esperar o momento certo de fugir daqueles dois fragmentários insanos. Já Risa vê em Connor uma oportunidade de se manter viva e, mesmo acreditando que ele impulsivo demais e inteligente de menos para acabar estragando a própria fuga, a garota também percebe que o outro possui um coração muito bom e um dom nato para liderar. 
“Eu prefiro ser parcialmente grande a ser completamente imprestável.” Pág. 25
Connor e Risa fazem Lev começar a perceber que a fragmentação não é exatamente o destino santo que ele imaginara, mas é apenas quando se separa dos dois que ele começa a perceber a verdade: sua família o mandou para a morte. Enquanto isso, Connor e Risa, pela primeira vez em suas vidas, encontram pessoas dispostas a ajudá-los a fugir, mas será que seus benfeitores realmente têm boas intenções? 


 A SÉRIE E EXPECTATIVAS PARA A LEITURA

Fragmentados é o primeiro livro de uma série que já conta, no total, com quatro livros lançados no exterior. Entretanto, apesar de fazer parte de uma saga, Fragmentados tem um final satisfatório e pode ser lido como volume único. Eu amo distopias e, apesar de estar curiosa para ler o livro, acabei deixando-o esquecido na estante por alguns meses. Agora, após a leitura, me arrependendo de ter demorado tanto a ler uma obra tão cativante e rica como essa. Mesmo com o final bacana e com poucas aberturas para uma continuação, me apeguei tanto aos personagens que mal posso esperar pelo segundo livro da série!

A LEITURA E A CRÍTICA

Assim que comecei a ler Fragmentados, fui arrebatada pela leitura. Primeiramente, o universo em que o livro se passa, para nós, soa completamente insano, mas, ao mesmo tempo, muito interessante. O próprio processo da fragmentação parece loucura e pura crueldade, contudo, ao longo da obra, consegui ver pelos dois lados e até perceber certa razão por trás da Lei da Vida. Contudo, das muitas lições que Fragmentados deixa, certamente a mais importante é que mesmo algo lógico, previsto pela lei, pode ser desumano. 

É curioso como o livro aborda, de forma bem clara, como uma alternativa surgida para acabar com a guerra e as mortes, acabou, por fim, gerando mais mortes e ainda mais conflitos. Fragmentados também nos faz questionar o avanço da ciência e da tecnologia e o eterno embate entre ambos e a moral e a ética. Transplantes de órgãos, abortos, fanatismo religioso, perseguição aos diferentes e problemas sociais são outros temas delicados e tratados maravilhosamente bem ao longo do livro. 


Apesar de ser uma obra de ficção e o processo de fragmentação não ser real, Fragmentados infelizmente soa muito real e nos faz refletir: seria a obra uma previsão do cruel futuro que nos aguarda? O corpo e a vida se tornarão nada mais que objetos de venda e compra em um mercado bilionário? Continuaremos a guerrear apenas por divergências ideológicas? Vamos continuar perseguindo, excluindo e encontrando maneiras de punir e exterminar os diferentes, os que não se encaixam em regras e papéis sócias, os que foram abandonados e esquecidos? 
“- Fazem isso o tempo todo – diz Hayden. - É isso que a lei é: palpites instruídos sobre o que é certo e errado.” Pág. 162
Fragmentados nos obriga a olhar para aspectos brutais da sociedade e da alma humana, mas também, a perceber o valor de cada vida e de cada ação. O que nos separa do hoje e do futuro macabro de Fragmentados é justamente a atitude que tomaremos daqui para frente. No contexto de incerta política e econômica e muitos conflitos culturais e sociais do mundo atual, a leitura de livros como Fragmentados é extremante necessária


A TRAMA, A NARRATIVA E OS PERSONAGENS

A história de Fragmentados é muito bem bolada e desenvolvida. O livro consegue nos surpreender constantemente e o autor me cativou e emocionou do início ao fim. Apesar de a narrativa ser em terceira pessoa, Shusterman consegue conectar o leitor aos seus personagens e transmitir completamente cada nuance das figuras que nos apresenta. Com sua escrita fluída, o autor torna a leitura de um livro denso e rico em muito rápida e gostosa, devorei a obra em um dia. 

Os personagens são profundos e reais e, apesar de haver um grande número deles, todos possuem papel na trama e personalidade e histórias próprias. Contudo, claramente, são os três jovens protagonistas que mais se destacam. Tão diferentes, Connor, Risa e Lev são unidos pelo acaso e pelo mesmo destino cruel. Contudo, cada um deles se desenvolve de maneira própria ao longo do livro e foi bom vê-los amadurecer e descobrir o seu lugar no mundo. 

Os jovens também encontram a sua própria força em Fragmentados e é impossível não se identificar um pouco com cada um deles. Também é interessante observar que, apenas ao ter sua vida em risco, é que eles aprendem a dar o devido valor a própria vida e as pequenas coisas. E esse sentimento de gratidão acaba se transferindo ao leitor, que passa também a perceber o grande valor e importância em se estar vivo.


CONCLUSÕES FINAIS

Uma leitura rápida e gostosa, mas também densa e muito rica, Fragmentados é um bom livro e também muito necessário. Extremamente atual, o livro nos faz refletir bastante e passar a perceber a importância não só da vida, mas também das ações que tomamos diante ela. Fãs de distopia e de suspense irão se deliciar com essa obra única e maravilhosa, que, particularmente, amei e recomendo a todos. Estou ansiosa pelos próximos volumes da série, me cativei a todos os personagens e quero ver o desfecho do universo criado pelo autor.

A EDIÇÃO

A tradução do livro está perfeita e a diagramação, apesar de simples, está boa. Eu amei as páginas de material mais grosso e resistente e também cor de creme. Contudo, achei o tamanho da letras um pouco pequeno. Quanto a capa, gosto e não gosto dela em partes. Ao mesmo tempo que, acredito, a capa transmite bem o lado sombrio e distópico da obra, não a acho bonita.


QUOTE FAVORITO

“- Você aprende uma coisa depois de ter vivido o tanto que vivi: as pessoas não são completamente boas nem completamente ruins. A gente passa a vida toda entrando e saindo das sombras e da luz. Nesse momento, estou feliz por estar na luz.” Pág. 108

Título: Fragmentados
Título original: Unwind
Série: Fragmentados
Volume: 1
Autor: Neal Shusterman
Editora: Novo Conceito
ISBN: 9788581635194
Ano: 2015
Páginas: 320
*Esse livro foi uma cortesia da Editora Novo Conceito

Compre: Amazon - Submarino - Americanas - Shoptime

Comente com o Facebook:

16 comentários:

  1. Oi, Ana!
    Primeiramente, amei a cor do seu esmalte hhahahaa
    Eu gostei muito da frase na capa do livro. Existem algumas leis por aí que só Deus na causa.
    Gente, já tem 4 lá fora??? Me desanimei um pouco, mas não supera minha vontade de tentar entender essa lei e todos esses aspectos que você falou.
    Ótima resenha. Parabéns!
    Beijos
    Balaio de Babados

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. kkkk Obrigada (e vamos fingir que a unha já não estava toda lascada na foto)! Sim sim, existe muita lei absurda e, o pior, a gente não faz nada contra. Também desanimei ao saber que é uma série, mas o livro serve bem também como volume único. Só espero que a editora publique o resto!

      Excluir
  2. Eu amei a sua resenha, ela ficou super clara e detalhada. Esse não é o tipo de livro, que eu sairia correndo pra ler. Mas confesso, que eu achei o enredo muito interessante e que eu gostaria de ler um dia.
    Mil Beijos!
    http://pensamentosdeumageminiana.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada, fico muito feliz que tenha gostado! Depois leia a obra, com calma, acho que vai gostar!

      Excluir
  3. Olá :)
    Louca pra ler esse livro! Mas no momento muito ocupada com o tcc :( Adorei sua resenha e acho legal a premissa do livro bem original, vamos esperar os próximos da série então.

    Beijos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ah, uma pena! Mas quando tiver menos ocupada, não deixe de pegar essa obra para ler! Vale muito a pena! Dedinhos cruzados para NC lançar a série toda!

      Excluir
  4. Oi Ana, estou com muita vontade de ler este livro, acho que foi a primeira resenha que li. Gostei de saber que a narrativa cativa o leitor e se você leu em um dia é pq realmente gostou, espero ler em breve!
    Parabéns pela Resenha!

    Beijos Mila
    http://dailyofbooks.blogspot.com.br/2016/02/resenha-blackbird-fuga-vreditorasbr.html

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu adorei o livro Mila. Vale a pena ler, ele é cativante e bastante crítico!

      Excluir
  5. Oii Ana

    Que resenha super completa, juro que aprendo muito visitando blogs como o seu.
    Já ouvi falar maravilhas desse autor e das suas séries. Confesso pra ti que desanimo com séries largas não por causa da quantidade de livros, mas pela demora das editoras em publicarem as continuações (tem casos que a gente já praticamente esqueceu da história!), isso quando simplesmente não desistem de seguir publicando e largam a série pela metade.
    Enfim, mesmo assim quero ler essa ´serie, porque o tema é original, todas as resenhas colocam o livro "nas nuvens" e porque eu não resisto à uma boa distopia.

    Beijokas

    naprateleiradealice.blogspot.com.ar

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada! Fico muito feliz que o blog esteja passando coisas boas assim para os leitores! ;D Também estou bem desanimada com séries ultimamente, mas essa vale a pena ler! E distopia é tudo de bom, não é mesmo?

      Excluir
  6. Gente, a novo conceito ahazou em colocar as temáticas do livro!
    Vamos falar uma coisa: distopia é uma das minhas narrativas preferidas <3
    Comparando com as outras capas, a brasileira ficou bem... meh, né?!
    Continuo interessada em lê-lo!
    |‎Sorteio do livro: "Não há dia fácil"|
    | FB Page A Bela, não a Fera|

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim sim, bem legal isso, pois assim o leitor já pelo menos tem uma ideia do que o espera. A capa é sem graça mesmo, mas a obra vale muito a pena ser lida!

      Excluir
  7. Olá, Ana.
    Após algumas resenhas, já não estava tão animado com a obra. Sua resenha conseguiu resgatar um pouco do meu interesse, principalmente por saber que há crítica social em relação à religião, ao aborto e outros. Quero ver como isso foi trabalhado.
    Talvez acabe dando uma chance.

    Desbrava(dores) de livros - Participe do top comentarista de fevereiro. Serão dois vencedores!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Dê uma chance sim, Marcos! A obra é envolvente e gostosa e mesmo sendo voltada para o público jovem, consegue fazer boas críticas e reflexões! Acho que você vai gostar!

      Excluir
  8. Oi Ana,
    Gostei bastante do enredo dessa distopia e gente que coisa louca essa da fragmentação dos órgãos. Essas críticas então, devem tornar a leitura ainda mais interessante.
    Adorei a capa da mão vermelha haha
    Ótima resenha!

    tenha uma ótima quinta =D
    Nana - Obsession Valley

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, bem maluco mesmo! O livro é muito bom, envolvente, gostoso de ler e crítico! Essa capa vermelha é mesmo bacana!

      Excluir

Sinta-se a vontade para expressar a sua opinião, para divulgar o seu site/blog ou para elogiar ou criticar o blog! Lembrando que comentários com conteúdos agressivos, ofensivos ou inadequados serão excluídos.

(Você também pode entrar em contato comigo por e-mail, formulário ou pelas redes sociais. Saiba mais na página "Contato".)