A HISTÓRIA
O filme começa nos apresentado um de seus protagonistas, um corcunda sem nome, um dos palhaços maltratados de um circo que, em seu tempo vago, se dedica aos livros e a medicina. Apaixonado pela bela trapezista Lorelei, é quando ela sofre um acidente durante o espetáculo que o palhaço conhece Victor Frankenstein.
Um jovem estudante de medicina, Victor fica impressionado com as habilidades do corcunda, que consegue salvar a vida de Lorelei usando apenas seu conhecimento e um relógio de bolso. Assim, Frankenstein ajuda o palhaço a fugir do circo e o transforma completamente, nomeando-o Igor. Assim, Igor, em gratidão a Victor e diante a oportunidade de poder estudar sua paixão, a anatomia humana, aceita ajudá-lo em seu ambicioso projeto.
Entretanto, Igor fica receoso quando descobre os intentos de Frankenstein e sua verdadeira personalidade. O que parecia ser um homem gentil e benevolente, que através da medicina e tecnologia busca melhorar a vida, se mostra um homem obcecado pela morte e cego por suas próprias ambições. Victor não só quer vencer a morte, como deseja criar vida.
Igor teme pelas criações de Frankenstein, que desafiam a ordem natural da vida e da natureza. Entretanto, por lealdade ao homem que o libertou, Igor aceita ajudar Frankenstein, que por si só jamais conseguiria alcançar seus objetivos.
Finnegan, outro jovem e abastado estudante de medicina, se mostra bastante interessado no trabalho de Frankenstein e financia seu grande projeto: a criação de um homem, o monstro Prometeu. Entretanto, Victor também chama a atenção de um inspetor da Scotland Yard, Roderick Turpin, um homem extremamente religioso que fará de tudo para impedir quaisquer que sejam os projetos, que ele considera profanos, de Frankenstein.
A CRÍTICA
O filme Victor Frankenstein nos propõe um retrato sobre obsessão, fanatismo e submissão. O criador do monstro Prometeu estava tão cego por suas ambições e crenças que não percebe que mesmo criando algo que respira e anda, ele não necessariamente cria algo com vida. Victor está tão obcecado em atingir seus objetivos que acaba limitando sua própria capacidade, o que o faz ter que recorrer a inteligência de Igor e subjugar o seu único amigo, o primeiro que realmente o apoiou.
É interessante observar o papel de Igor na trama e na criação do monstro Prometeu, especialmente porque o personagem não aparece na história original. Ser salvo por aquele que julgava ser um amigo, acabou prendendo-o a uma lealdade submissa. Igor exerce quase que uma adoração por Victor, sendo que em muitos momentos ele prova ser até mais inteligente que o próprio mestre. Mas mesmo possuindo mais capacidade e um guia moral interno muito mais forte, tanto que ele questiona Victor diversas vezes, ainda assim Igor consegue ser alienado e convencido a ajudar Frankenstein.
Em uma análise mais ampla, a oposição entre Victor e Igor caracteriza um dos maiores dilemas da ciência. Victor representa a investigação egoísta, a busca insensata e desenfreada por conhecimento que pode trazer resultados rápidos, que muitas vezes acabam machucando pessoas no processo, e que, também, são pervertidos e usados como arma. Já Igor é a ciência baseada na ética, cujos avanços, mesmo que lentos, devem ser usados apenas para ajudar as pessoas.
Também há a oposição entre Victor e Roderick Turpin. O inspetor da Scotland Yard, difere de Victor por suas crenças religiosas, sem perceber que, no fundo, acaba se tornando igual a ele. Ambos se tornam cegos e obsessivos, Victor por suas pesquisas científicas e Turpin por sua moral religiosa.
Aqui, o filme Victor Frankenstein deixa uma lição clara: toda crença absoluta é errada e perverte até mesmo os melhores dos homens. Não há verdade, seja ela científica ou divina, que seja inquestionável e aqueles que acreditam de forma cega se tornam cegos também.
O FILME versus O LIVRO E OUTRAS ADAPTAÇÕES
Victor Frankenstein é baseado no clássico romance de 1818, Frankenstein ou o Moderno Prometeu, da autora britânica Mary Shelley. Como nunca li a obra, não posso julgar a fidelidade a ela, entretanto, grande parte das análises que li do filme de 2015 apontam maiores semelhanças com outras adaptações mais antigas do que propriamente com o livro de Shelley.
A própria presença de Igor já marca uma grande diferença do filme para o livro. O personagem não aparece no romance, mas é figurinha garantida em grande parte das outras adaptações. Outra divergência óbvia, mas bastante positiva, é que o longa Victor Frankenstein aborda mais a relação entre Victor e Igor do que a criação do monstro que povoa o imaginário popular.
A PRODUÇÃO
Victor Frankenstein claramente se trata de uma grande produção. Além do elenco famoso, o longa conta com bons efeitos e cenários e vestuário impecáveis. A trilha sonora, infelizmente, foi decepcionante, não fugindo do básico que encontramos em qualquer filme de suspense.
Um detalhe que me chamou bastante atenção e que poderia ter sido usado mais vezes durante o filme foi alguns gráficos que mostram a anatomia por cima da pele, mostrando ossos e músculos por exemplo. Em um filme onde a medicina está bastante presente, este foi um toque bem legal. O corte entre as cenas é bastante natural e gostei do ritmo mais acelerado do longa, que conta com algumas cenas de perseguição, por exemplo, que agregam um pouco de ação a obra.
A fotografia, felizmente, teve seus bons momentos e apresentou alguns quadros muito bonitos. Puxando para o lado gótico da história, o filme conta com uma paleta de cores bem escura, mas trouxe mais cores em algumas cenas, especialmente o vermelho sangue, que definitivamente combina bastante com a trama.
O ROTEIRO
O roteiro, infelizmente, não foi bem trabalhado como outros aspectos da produção. Há inúmeras falhas na história que, apesar de não prejudicar o entendimento, deixa aquele sentimento de “há algo meio estranho aqui”. Um espectador mais atento perceberá facilmente determinadas inconsistências e uma evolução não natural, forçada, tanto dos personagens quanto da trama.
O desfecho do filme também não me agradou. Ao deixar espaço para uma continuação (que eu definitivamente espero que não seja concretizada, não há mais história para tal), o final me deixou frustrada. O grande ponto positivo de Victor Frankenstein foi a crítica e as reflexões provocadas que agregam riqueza a obra. Entretanto, parece que os próprios personagens não aprendem as mesmas “lições” que o espectador, eles não amadurecem, não percebem seus erros ou não aprendem com eles, o que deixa aquela sensação de que toda a história, o filme, não teve utilidade alguma.
O ELENCO
Um dos pontos mais fortes de Victor Frankenstein, definitivamente, é o elenco. Contanto com alguns atores bastante conhecidos, e outros que nem tanto, todos eles, sem sombra de dúvida, fizeram um excelente trabalho. Daniel Radcliffe como Igor e James McAvoy como Victor esbanjaram uma química perfeita, que consegue exprimir a dinâmica do relacionamento deles, uma mistura maligna de amizade, submissão e adoração.
O eterno Harry Potter, Radcliffe já possui um lugar entre meus atores favoritos, mas, cada vez mais, com filmes como Victor Frankenstein, ele prova sua grande habilidade como ator. Sua excelente atuação quase nos faz esquecer das inconsistências do roteiro e da criação dos personagens. James McAvoy também é uma carinha conhecida, mas que nunca tinha chamado muito a minha atenção. Entretanto, sua interpretação como Victor foi de primeira qualidade e provou que ele dá conta de personagens profundos.
Andrew Scott como Roderick Turpin também convenceu profundamente sendo o inspetor obcecado e fanático religioso da Scotland Yard. Apesar da presença (e utilidade) da personagem Lorelei na trama ser questionável, Jessica Brown Findlay fez um bom trabalho.
Uma ator desconhecido, mas que prendeu a minha atenção em todas as cenas em que aparece foi Freddie Fox como Finnegan. Além de bonito, Fox nos convence profundamente de seu papel como o ambicioso vilão e estou ansiosa para ver outros trabalhos dele.
CONCLUSÕES FINAIS
Victor Frankenstein traz um olhar diferente sobre a conhecida história de Mary Shelley e ao focar em Victor e Igor, já ganha pontos positivos por nos proporcionar um enfoque mais amplo e psicológico sobre os criadores do famoso monstro.
Apesar da produção deixar a desejar em alguns quesitos, o filme consegue prender a atenção do expectador e fazê-lo refletir. Victor Frankenstein não vai virar um clássico ou conquistar legiões de fãs, mas é um bom filme e recomendo-o para quem busca entretenimento que também pode nos dar algo a pensar.
E quanto a vocês? Já viram ou querem ver Victor Frankenstein? Não deixem de comentar! Beijos!
Ana que bom acompanhar sua opinião sobre o filme, o livro é tudo relacionado ao assunto. Mesmo que de forma breve você conseguiu apontar várias questões interessantes. Ainda preciso ler o livro e quero ver esse filme, mas confesso que essa história sempre chamou minha atenção.
ResponderExcluirEnfim parabéns por ter visto o filme e ter compartilhado sua opinião conosco. Beijos
Te espero lá no Leituras, vida e paixões!!!
Puxa que pena que o roteiro não foi bem trabalhado! Não vi o filme, mas a fotografia parece fantástica!
ResponderExcluirBjs, Mi
O que tem na nossa estante
Porque o relógio de Victor era tão importante?
ResponderExcluir