13.4.15

Resenha: Dois Garotos se Beijando - David Levithan


Craig e Harry não são um casal, não mais, mas se amam de alguma maneira. Eles são melhores amigos e, quando Craig vem com essa ideia maluca de quebrar o recorde mundial do beijo mais longo, de um pouco mais de 32 horas, Harry aceita na hora. É loucura, especialmente porque, diferente dos pais de Harry, que estão a par e a favor de todo o projeto, os pais de Craig nem imaginam que ele é gay e provavelmente não aceitarão a notícia muito bem.

Peter e Neil são um casal há algum tempo e, enquanto Peter recebe amor e apoio incondicional da família, os pais de Neil ainda tratam a orientação sexual do filho como tabu, mas eles não o expulsaram de casa nem nada, então pode-se dizer que o casal vive em relativa tranquilidade. 


Avery e Ryan ainda não são um casal, mas podem estar caminhando para isso. Eles se conhecem em um baile gay de escola, o garoto de cabelos rosa e o garoto de cabelos azuis imediatamente chamam a atenção um do outro. Um sentimento forte surge imediatamente entre os dois, mas Avery não faz ideia de como Ryan irá reagir ao descobrir que ele é transexual, que ele nasceu menino em um corpo de menina. 

Tariq e Cooper não são um casal e nem mesmo se conhecem. Tariq é gay e está bem com isso, apesar de o resto do mundo ainda não ser totalmente receptivo, algo que ele percebe quando é agredido na rua apenas por ser quem é. Craig conhece Tariq e eles não são amigos, mas o ataque sofrido por Tariq inspira Craig a embarcar em toda a loucura do beijo com Harry. 


Cooper é gay, mas absolutamente ninguém sabe disso. Ele não tem amigos e é distante da família, seu único contato com outros seres humanos é através de sites de relacionamento gay, onde ele conversa com todos os tipos de homens, apesar de não ter a mínima intenção de se encontrar com nenhum deles. Cooper tem sua rotina solitária e depressiva e está confortável com ela, mas tudo desaba quando seu pai descobre as conversas do filho e o agride. Assim, Cooper foge de casa, sem ter para onde ir ou com quem conversar. 

Oito garotos diferentes, com vidas, histórias e famílias diferentes, que irão se cruzar ou não. Que irão se conhecer ou não. Mas que definitivamente terão suas vidas modificadas nas próximas 32 horas. Mudanças pequenas ou grandes, mas mudanças. 


Depois de ler Will & Will (resenha aqui) e Invisível (resenha aqui), e gostar bastante da escrita de David Levithan, fiquei curiosa para ler alguma obra só dele. Eu estaria mentindo se dissesse que Dois Garotos se Beijando não me chamou atenção, em um primeiro momento, apenas por ser um livro gay. Entretanto, também esperava por uma obra fofa, com pitadas de romance, e que não tratasse a homossexualidade como tabu. E não fui decepcionada. 

Algo que amei em Dois Garotos se Beijando é que o autor trata tudo com a devida naturalidade. Diferente de outras histórias com personagens gays, David não quer chocar ninguém, jogando na cara dos leitores e dizendo nas entrelinhas “Olhem para eles! Eles são gays!”, como se homossexuais fossem bichinhos exóticos em um zoológico. Pelo contrário, é como se o autor dissesse “Eles são gays. E daí?” e eu amei sua postura despretensiosa, afinal, para mim, a opção sexual de alguém é apenas mais um detalhe sobre ela, não diferente ou mais ou menos importante que a cor do cabelo ou dos olhos ou o tipo de música favorita da pessoa. 


A narrativa de Levithan é deliciosa, bem construída e cativante. O leitor fica confuso no início, mas com o decorrer da história entendemos que quem narra são os homossexuais de outras épocas, especialmente os que conviveram e sofreram com a descoberta da AIDS, a falta de tratamento e muito, muito preconceito. Algo que gostei é que esse narrador incomum faz paralelos sobre a sociedade de algumas décadas atrás e a de hoje, mostrando que muita coisa mudou, mas que muita coisa continua do mesmo jeito: mesmo podendo beijar em público e até mesmo casar, não são poucos os homossexuais que diariamente sofrem por serem quem são e que não são aceitos pela própria família. 

Dois Garotos se Beijando consegue, ao mesmo tempo, fazer reflexões profundas sobre tanto aspectos sociais quanto pessoais. Ao mesmo tempo em que explora o modo como o mundo vê e trata homossexuais, Levithan também mostra como os homossexuais olham para si e para o mundo. O autor fala bastante sobre aceitação, liberdade, identidade e preconceito de um modo geral, ao mesmo tempo em que traz histórias e personagens únicos, que ganham vida diante os nossos olhos. Eu amei todos os protagonistas, assim como os secundários também. Todos são recheados de personalidade e papel na trama e consegui me identificar um pouco com cada um deles. 


Com uma trama complexa e bem desenvolvida, Dois Garotos se Beijando é uma obra singela e emocionante, que traz um olhar único sobre homossexualidade no mundo atual. Mas, mais que isso, esse é um livro sobre pessoas e para pessoas, com histórias encantadoras, às vezes tristes, às vezes inspiradoras, que me fez refletir, principalmente, sobre como perdemos tanto tempo impondo padrões de comportamento, julgando e rotulando as outras pessoas, enquanto podíamos estar apenas conhecendo e amando uns aos outros. 

Eu amei Dois Garotos se Beijando, que conquistou um lugar no meu coração e entrou para os favoritos. Ainda estou encantada com o livro, e poderia falar muito, muito mais coisa sobre ele. Virei fã do Levithan e estou mega curiosa e ansiosa para ler outras obras do autor. Recomendo Dois Garotos se Beijando para quem gosta de histórias fofas e que nos fazem refletir, independente de serem sobre personagens gays ou não.


Também só tenho elogios quanto a edição. A tradução e diagramação estavam perfeitas. E gostei bastante dessa capa! Muita gente não gostou e prefere a original (primeira acima), mas eu acho a nossa capa tão fofinha, singela e poética quanto a história e o tom de azul utilizado é muito lindo.

Título: Dois Garotos se Beijando
Título original: Two Boys Kissing
Autor: David Levithan
Editora: Galera Record
ISBN: 9788501102096
Ano: 2015
Páginas: 224
*Esse livro foi uma cortesia da Editora Galera Record

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3 comentários:

  1. Oi,Ana!
    Eu sou muito fã do Levithan! Amo essa mistura de simplicidade e complexidade que só os livros dele possuem. Ele dá um nó em suas histórias cheias de bom humor para acariciar nosso coração com suas lições de igualdade, respeito e muito, muito amor. Eu já li Todo Dia, Will & Will, Garoto encontra garoto, Invisível, ou seja, falta esse para que eu possa me apaixonar ainda mais por Levitan, se é que isso é possível.
    Adorei a resenha e curti muito as fotos.
    Bj grande!

    Zilda Peixoto
    http://www.cacholaliteraria.com.br

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    Respostas
    1. Também adoro o Levithan! Ele sabe construir tramas como poucos e personagens com os quais é impossível não se cativar! Sou louca para ler Garoto encontra garoto e Todo Dia!

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  2. Eu amei sua resenha, me fez realmente voltar atrás e relembrar os fatos que eu tinha lido. Adorei!
    A propósito, tenho uma história no Wattpad com essa temática também... acho a abordagem desse tema super pertinente! ^.^ Mais atual não há, então parabéns ^.~

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