Marina é uma jovem paraguaia como outra qualquer, ao mesmo tempo em que é diferente de todos da sua idade. Aos dezoito anos ela descobriu ter síndrome do pânico e, aos vinte cinco, ela narra esse livro, voltando ao passado e relatando para o leitor sua vida antes e depois da descoberta da doença.
“O que eu não percebia é que minha felicidade estava limitada pelo momento, pela situação ou por terceiros. Todas as coisas que me faziam feliz, nessa época, estavam fora de mim. De fato, eu era ingênua e relativamente feliz.” Pág. 29
Aos dezoito anos, Marina já estava carregada de responsabilidades, sendo pressionada pela mãe e por si mesma a entrar em uma boa faculdade. Dedicando grande parte do seu tempo aos estudos, a internet é o local de lazer e de descanso da garota, onde ela mantem um blog sobre sua grande paixão – os livros - e conversa com outras pessoas. É em uma sala de bate-papo que Marina conhece Júlio, um rapaz fofo que ela passa a namorar, apesar de não ter tanto tempo para tal.
Marina consegue ser aprovada em Jornalismo na Universidade que queria e logo faz amizade com outras calouras do seu curso. Realizado o sonho de entrar na faculdade e agora tendo mais tempo para namorar, Marina estava verdadeiramente feliz, apesar de estar em uma época da vida naturalmente cheia de mudanças e incertezas, até que ela começa ter seus primeiros ataques de pânico. Aos poucos, o medo vai dominando a vida da Marina, afastando-a da sua rotina e das pessoas que gosta. Marina sabe que há algo de errado com ela, mas sua família acha que não e até mesmo alguns médicos afirmam que ela não tem nada.
“O auge eram os ataques de pânico. Era como ter um vulcão fervilhando dentro de mim, e de vez em quando ele entrava em erupção.” Pág. 11
Mas conforme os ataques vão se tornando mais frequentes e Marina se vê cada vez mais perdida e reclusa, a garota começa a questionar sua sanidade e até mesmo duvidar de sua fé. Quando finalmente recebe o diagnóstico correto, Marina se vê determinada a não deixar-se vencer pela doença, mesmo que para isso tenha que encarar seus mais profundos medos sozinha. Mas logo Marina descobre que não está realmente sozinha e, aos poucos, ela vai conquistando de volta tudo o que perdeu, apesar de saber que certas coisas não podem ser recuperadas e que ela, Marina, jamais será a mesma de antes.
A garota que tinha medo despertou minha curiosidade por tratar da síndrome do pânico, doença muito pouco abordada na literatura, mas que é mais comum do que imaginamos. Por ter casos da doença na minha família, já tinha uma alguma ideia dos sintomas, mas acabei aprendendo ainda mais com A garota que tinha medo. A obra é bastante instrutiva e é perceptível que o autor pesquisou a fundo a temática. Entretanto, em alguns momentos, o livro mostrou-se um pouco entediante e mecânico, como se fosse um artigo didático sobre a síndrome do pânico. No entanto, a leitura, em geral, é bastante fluída e cativante.
A narrativa em primeira pessoa de Melo é boa e o leitor tem mesmo a sensação de que é a própria Marina quem conta a história, contudo, a escrita do autor tem ainda um pouco a amadurecer. Senti faltas de descrições mais profundas, principalmente dos cenários, afinal, se não me engano, essa é a primeira obra que leio que se passa no Paraguai. Apesar disso, o autor trata o lugar com muita naturalidade e intimidade e, mesmo sem ter uma imagem tão bem construída dele, o leitor se sente lá, ao lado de Marina. A trama é muito bem construída e verossímil, se fosse o nome dela que estivesse na capa, ninguém duvidaria que a Marina e sua história fossem reais. De fato, esse é um dos pontos mais fortes do livro: a obra é carregada de muita realidade.
Algo que amei é que A garota que tinha medo é recheado de referências literárias, históricas e até mesmo bíblicas, o que deixa a obra ainda mais rica. As referências bíblicas, inclusive, são muito importantes, já que a religião é muito presente e relevante na vida da protagonista. E, falando nela, gostei da Marina desde as primeiras páginas. Apesar de não ser panicosa, me identifiquei muito com sua ansiedade e a pressão que ela sempre coloca sobre si mesma para agradar a todos. É impossível não se cativar com a personagem ao acompanhar suas ansiedades, inseguranças, medos, descobertas, vitórias e felicidades. Os outros personagens também são bem construídos e tem papel na história.
A garota que tinha medo é uma obra singela e comovente, uma história cativante e edificante. O autor está parabéns por abordar um tema, uma doença, muitas vezes tratado como tabu. A síndrome do pânico é mais comum do que imaginamos e deve ser tratada de modo devido, mas não é um bicho de sete cabeças. Gostei muito que A garota que tinha medo, apesar da temática delicada, seja uma leitura fácil e rápida. Recomendo-o para todos, especialmente para os que, como eu, gostam de obras que abordem doenças psíquicas.
Quanto a edição, não tenho reclamações. A diagramação, apesar de simples, está perfeita. O tamanho e tipo de fonte também estão bons e as páginas amareladas ajudam a deixar a leitura ainda mais rápida. Eu gosto da capa, é simples, mas bonita e, além de combinar com a história, a garota combina com a Marina descrita e com a que imaginei.
“ (...) ‘há mais loucura ou falta de razão no preconceito das pessoas em geral sobre os distúrbios mentais eu nos distúrbios mentais em si’.” Pág. 227
Título: A garota que tinha medo
Autor: Breno Melo
Editora: Chiado Editora
ISBN: 9789895123315
Ano: 2014
Páginas: 280
Classificação: 4/5 [muito bom]
*Esse livro foi uma cortesia do autor
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estou lendo este livro também... só falta o ultimo capítulo, então provavelmente terminarei hoje!!! :D
ResponderExcluireu, diferente de você, nunca conheci ninguém que tivesse esta doença, e isso foi o que mais me deixou curiosa para conhecer a trama. gosto quando os livros focam desta forma em determinada doença. sempre aprendo bastante assim.
o autor realmente pesquisou bem a fundo. várias vezes ele me fez pensar que a Marina era na verdade ele mesmo. não sei né, vai saber hehe
adorei a forma como ele escreveu o livro, fazendo com que a personagem, por várias vezes conversasse com a gente né...
também é a primeira obra que leio ambientada no Paraguai. na verdade, senti que a personagem morasse aqui do ladinho de mim, pois eu, como ela, também moro em uma triplice fronteira :D
espero conseguir terminar o livro hoje! estou curiosa pelo final...
vou postar resenha dele lá no blog onde sou resenhista, que tal dar uma olhada depois? :D
http://www.livrosfilmesemusicas.com.br/
beijos, e desculpa o sumiço... hehe
Sim, é muito bom mesmo quando algum livro traz um tipo de doença! Eu adoro, exceto quando é câncer, que é uma das doenças mais cruéis que existe. O pesquisou bastante mesmo e a narração em primeira pessoa é tão boa que também não duvidaria caso a Marina fosse real! rs Espero que consiga terminar logo a obra e, claro, que goste. E pode deixar que vou ler sua resenha sim, fiquei mega curiosa por ela!
ExcluirOlá, Ana. Tudo bem?
ResponderExcluirSe não me engano, acho que já vi algo sobre esse livro por aqui, mas não tenho certeza.
Nunca li nada literário sobre a síndrome do pânico antes, então acho que leria a obra por ser uma experiência nova para mim. Não sei se eu iria me identificar tanto com a personagem, mas acho que a obra em geral vai me agradar.
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Sim, fiz um post sobre A garota que tinha medo algum tempo atrás. Acho que mesmo não se identificando com a Marina, acho que você iria gostar da obra. Se tiver oportunidade, leia.
ExcluirEu vi esse livro ontem no IG e fiquei curiosa, até perguntei para a pessoa sobre o que era :)
ResponderExcluirGostei da sua resenha, adoro a Editora Chiado, mas não sei se leria o livro por agora.. quem sabe mais para frente .
Beijos
tamigarotaindecisa.blogspot.com.br
Esse foi o primeiro livro que li da editora, mas gostei do trabalho que fizeram. Se tiver oportunidade, leia sim o livro.
ExcluirOi Ana, não conhecia este livro, o enredo não me chamou tanto atenção, mas não é uma leitura que eu descartaria.
ResponderExcluirBjs, Rose
Ah, uma pena que não te chamou a atenção. Mas se tiver oportunidade, leia sim o livro, talvez se surpreenda e acabe gostando.
ExcluirOlá Ana!
ResponderExcluirAdorei a sua Resenha!! O livro me parece ser ótimo já que é abordado um tema pouco discutido, porém é mais comum do que imaginamos!
Já tinha ouvido falar da Editora, mas nunca li nenhum livro relacionado a ela.
Sucesso!
http://maisumpracolecao.blogspot.com.br/
Não conhecia o livro e esse foi o meu primeiro contato e a sua resenha me deixou extremamente curiosa e louca para conhecer. Não conheço muito sobre a síndrome, não em detalhes, só sei que é algo realmente complicado para quem tem ... Fiquei curiosa para acompanhar e saber mais sobre a vida de Marina e como ela vai superar e recuperar o que acabou perdendo, é o tipo de história que eu gosto e quero conferir!
ResponderExcluirBeijos