Madison Spencer tem treze anos de idade e foi condenada ao inferno. A garota não se lembra bem dos acontecimentos antes da sua morte e acha que pereceu por causa de uma overdose de maconha. Em sua grotesca cela no lar dos condenados, a garota vai relembrando sua fútil vida. Filha de um bilionário e uma estrela de cinema, Madison cresceu cercada de holofotes, mimos e excentricidades. Os pais eram viciados em drogas e em atenção, e a filha não saiu muito diferente: desde o momento em que acorda no inferno, Madison tenta chamar atenção do Satã, sem muito sucesso.
“Pior do que alcoolismo ou vício em heroína, morrer parece ser a maior fraqueza; e, num mundo onde as pessoas dizem que você é preguiçosa por não depilar as pernas, ser morto parece ser a derradeira falha de caráter.” Pág. 8
Logo Madison conhece outros condenados: Babbete, Patterson, Archer e Leonard, respectivamente uma líder de torcida, um jogador de futebol americano, um punk e um nerd. Assim, Madison inicia sua própria versão de O Clube dos Cinco, seu filme favorito, quando começa a se aventurar pelo inferno com os adolescentes que conhecera. Madison, Babbete, Patterson, Archer e Leonard visitam paisagens peculiares do lugar, como o Lago de Vômito, o Mar de Insetos, o Deserto de Caspas, o Rio de Saliva Quente, o Lago de Merda, as Grandes Planícies de Caco de Vidro, o Pântano de Abortos dos Semiformados, e até o Grande Oceano de Esperma Desperdiçado.
Em seu passeio, Madison se depara com demônios e até mesmo personalidades históricas, como Hitler e Darwin. Enquanto tenta chamar a atenção do Satã e sair das desventuras em que logo se mete, Madison vai relembrando sua vida e os momentos que antecederam sua morte. Não seria errado dizer que, no fundo, a garota procura pelo sentido da sua vida e ela pode acabar muito surpreendida quando descobrir de fato o motivo da sua existência.
Acho difícil encontrar um ser humano nessa terra que nunca ouviu o nome de Chuck Palahniuk ou de seu famoso Clube da Luta, e eu não sou diferente. Eu nunca li Clube da Luta ou mesmo vi o filme, mas já era bastante curiosa com as obras do autor. Entretanto, não fazia a mínima ideia do que esperar de Condenada e, mesmo que esperasse alguma coisa, tenho certeza que Palahniuk me surpreenderia.
Condenada caminha entre a tênue linha do “insanamente sem noção” e do “insanamente genial”, pendendo de um lado ou de outro de acordo com o momento do livro. Em certos pontos, o desenrolar da trama soa falso, onde se percebe que Palahniuk concebeu aquilo tudo apenas para chocar o leitor, sem se importar se faria sentido ou não dentro da história. Já em outros momentos, o autor continua nos chocando, mas com surpresas bem boladas e inteligentes. A narrativa em primeira pessoa, pela perspectiva da Madison, é um ponto negativo, pois mesmo sendo cativante e carregada de um divertido e cínico humor negro, ela é extremamente repetitiva e um pouco entediante. Palahniuk compensa um pouco com os cenários para lá de inesperados, sua visão do inferno é completamente única, meio tosca e perfeitamente crível.
A protagonista em si me conquistou bastante. Um dos aspectos mais interessantes sobre Madison é que ela é uma personagem não convencional e soa muito humana. Gorda, cheia de acnes e usuária de óculos de grau, Maddy tinha tudo, absolutamente tudo, para ter uma vida perfeita, uma vida que muitos sonham em ter, mas, na verdade, levava uma rotina fútil e entediante, sem felicidade ou carinho. Impopular, Maddy não tinha amigos, não tinha a atenção dos pais, e passava grande parte do seu tempo enfiada nos livros. Entretanto, a garota compensa tudo isso com sua personalidade brilhante. Inteligente, sarcástica e crítica, Maddy se considera uma viciada em esperança e tem idade mental maior que a dos seus pais, apesar de que o autor consegue deixar claro que, apesar de ter sido precocemente exposta ao mundo adulto, Madison ainda não era uma adulta, ou mesmo uma adolescente, mas também não mais uma criança. Os típicos conflitos da pré-adolescência também estão presentes no livro, apesar de que não na maneira convencional, afinal, nada em Condenada é convencional.
“Se os vivos são assombrados pelos mortos, os mortos são assombrados pelos próprios erros.” Pág. 122
Condenada, obviamente, foi escrito para chocar os leitores e Palahniuk alcançou em muito esse objetivo, mesmo que, para isso, tenha acabado sacrificando um pouco da qualidade da obra. Como já disse, alguns momentos do livro soaram forçados e até mesmo meio ridículos. Condenada tem um ar amador e ele, de certa forma, é revigorante. Palahniuk não demonstra obrigação nenhuma em agradar o leitor ou mesmo em fazer qualquer sentido, o que tornou Condenada uma obra muito despretensiosa e espontânea. O livro surpreende muito, seja de modo positivo ou negativo, mas surpreende. E apesar de ter um ar de zombaria, Condenada também tem boas pitadas de crítica, sarcasmo e muito cinismo.
Condenada é um livro atrevido, meio absurdo, e até um pouco desafiador, pois é do tipo que não deve ser levado a sério. Uma obra que não recomendo a ninguém, pois é impossível prever o tipo de leitor que ela agrada e, pelas opiniões que vi por aí, é o tipo de livro que alguns simplesmente amam e outros odeiam. Eu amei a obra, não é do tipo de livro que muda a sua vida, mas é aquela leitura que te pega completamente desprevenida – em todos os sentidos –, que te faz dar boas risadas, revirar os olhos e se perguntar por que diabos você está lendo tal coisa, que pode até não fazer muito sentido, mas que você está adorando.
Estou muito curiosa pelo próximo volume, o desfecho de Condenada foi o mais surpreendente do livro e consegue dar (um pouco) de sentido para o resto da trama. Palahniuk conseguiu me conquistar e me deixar sedenta por mais de suas obras, além de me fazer duvidar da sua sanidade mental (sério, esse cara é meio perturbado rs).
“- Claro, os fracos devem herdar a Terra, mas eles não recebem porra nenhuma no Inferno...” Pág. 225
Quanto a edição, não tenho reclamações. A tradução e a diagramação estavam perfeitas. O tipo e tamanho da fonte estavam bons. Adorei as páginas mais grossas e cor de creme, assim como os detalhes no início de cada capítulo. Eu amo essa capa, apesar dela não combinar com a do segundo volume. A capa da segunda edição (abaixo) também é muito bonita, mas prefiro essa. Entretanto, a minha capa favorita que o livro ganhou é a italiana (também abaixo).
Título: Condenada
Título original: Damned
Série: Duologia Condenada
Volume: 1
Autor: Chuck Palahniuk
Editora: LeYa
ISBN: 9788580448207
Ano: 2013
Páginas: 304
Classificação: 4/5 [muito bom]
Olá, Ana.
ResponderExcluirEu tenho muito curiosidade sobre a escrita do autor e essa forma de escrever descompromissada, com um humor negro e muitas vezes um tanto louca me agrada imensamente. Já li alguns livros assim e adorei. Então, com certeza, essa vai para a lista de leituras.
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Acho que vai gostar bastante de Condenada então!
ExcluirOlá Ana! :D
ResponderExcluirLi a sua resenha com muita atenção, sempre tive curiosidade sobre esse livro! E confesso que, ao chegar no final dela, não sei o que esperar do livro KKKKK Me deixou muito confusa saber que o livro pode ser maravilhoso ou péssimo, depende de quem está lendo. Tem gente que ama, tem gente que odeia... Não consigo saber qual delas eu serei! Com isso... Acho que prefiro não arriscar KKKKK Essa capa me aterroriza, sinceramente :/
Amei a resenha! :D
Beijos,
Ana M.
www.vicioemlivros.com
Oi, Ana!
ResponderExcluirEu já li Clube da Luta e adorei. Vou ver se começo essa série em breve, parece ser tão boa quanto.
Abraços! :)