Encontros e desencontros
A família Roux, que passadas algumas gerações iria se tornar Lavender, é marcada por peculiaridades, tragédias e má sorte no amor. Ava, em seus 16 anos, já sabe muito bem disso. Sua avó, que administra, e de forma muito bem sucedida, a padaria da família desde a morte do marido, não ganhou a fama de bruxa por causa de seus talentos culinários. Emilienne tem dons misteriosos, assim como sua filha, Viviane.
“Só porque o amor não aparenta ser do modo que você pensa, não quer dizer que você não o tenha.” Pág. 242
Mas enquanto Emilienne, que veio com a família da França para os Estados Unidos na infância, em meados de 1910, convive com o extraordinário e com a tragédia desde pequena, Viviane teve mais sorte. Apesar de ter sido criada apenas pela mãe, uma mulher forte e dura, que vive pela família, mas que não expressa muito afeto, Viviane teve uma infância bem normal e feliz. Ao lado de Jack, seu melhor amigo e que, anos mais tarde, se tornaria algo mais, a garota cresceu como outra menina qualquer de sua idade. Viviane não tinha ambição por nada além de viver com quem amava, mas, mesmo quando o mundo lhe recusa tal coisa, a mulher passa a viver em negação, como se estivesse esperando eternamente pelo seu final feliz.
Viviane se torna reclusa e solitária, presa em sua casa e em seu próprio mundo, mas uma boa mãe para seus filhos, os gêmeos Ava e Henry. Ela cria os filhos com ajuda da mãe e de Gabe, um “faz-tudo” que mora na casa da família e que sempre fora apaixonado pela mulher. Mas de todos os descentes dos Roux/Lavender, Ava e Henry são, sem sombra de dúvidas, os mais peculiares. Enquanto Henry é nada mais que um garoto silencioso, que vive em um mundo próprio, raramente fala, que odeia ser tocado e que tem compulsão por desenhar mapas, Ava seria uma garota qualquer exceto por um único detalhe de sua aparência: um par de asas de pássaro.
“Parecia que não havia como separar a menina das asas. Um não poderia sobreviver sem o outro.” Pág. 9
Ao nascer, Ava fora chamada de anjo e, muitos anos depois, ela novamente seria confundida com um ser divino. Mas Ava não quer ser divina ou mesmo especial, ela queria ser, na verdade, aparentar ser, normal. Ava não é muito diferente de um pássaro em uma gaiola, apesar de ela não conseguir voar, ela deseja apenas a liberdade. Assim, a garota começa a se aventurar por entre outros da sua idade, mas, mesmo que não tivesse asas, Ava sempre será diferente por ser uma pessoa extremamente doce, gentil e ingênua. E, como todos os Roux/Lavender amargamente aprenderam, esse é um mundo sombrio e cruel, especialmente com aqueles que fogem da normalidade.
As Estranhas e Belas Mágoas de Ava Lavender me despertou atenção apenas por causa do título. Não esperava nada da obra, por isso me surpreendi logo nas primeiras páginas, onde me vi rapidamente cativada pela triste, peculiar e singela história dos Roux/Lavender. Amei que a protagonista tenha contado toda a história de seus familiares e antepassados, apesar de que a autora poderia ter omitido certas partes. A narrativa em primeira pessoa, a partir da perspectiva de Ava, é muito fluída. Walton tem uma escrita maravilhosa e bastante poética, só estranhei um pouco que Ava, como narradora, nos conte coisas que ela jamais poderia saber, como os pensamentos de muitos outros personagens e até mesmo as visões que sua avó e seu irmão têm de pessoas já falecidas. Entretanto, a narrativa parece tão natural, é tão cativante, e os Roux/Lavender tem dons tão peculiares e incríveis, que tal detalhe não chega realmente a incomodar o leitor, que tem a impressão de que a Ava está ali, na sua frente, lhe contando aquilo tudo.
A trama criada por Walton é surpreendente, inteligente, brilhante e bem amarrada, além de ter sido muito bem desenvolvida. A história é muito rica, além de bela e cativante. Algo que amei foi que o lado fantástico da obra é desenvolvido com tanta naturalidade que ele até deixa um pouco de ser tão excepcional. A fantasia que se aproxima e se mistura ao natural é uma das belezas do livro, como se fosse um lembrete que o incrível pode ser parte do simples. A autora também criou personagens maravilhosos, ao mesmo tempo únicos e como qualquer outro ser humano. Eles nos despertam diversas e ambíguas emoções e soam extremamente reais.
Amei a força de Emilienne, mas me irritei com sua frieza. Fiquei frustrada por Viviane estar, grande parte do tempo, esperando por alguém que não iria voltar, mas encantada com sua dedicação e grande amor aos filhos. Henry me despertou muita curiosidade, afinal ele é o mais sensível dos Roux/Lavender, mas é uma pessoa excepcional. Fiquei intrigada com sua personalidade, mas ainda mais com seu comportamento, que me lembrou o dos autistas, que são pessoas incríveis e muitas vezes geniais, mas que sofrem bastante por, como Henry, serem sensíveis e viverem em um mundo só seu. Henry foi o meu favorito, mas Ava foi com quem mais me identifiquei, justamente por um dos mais importantes pontos do livro ser a mostra de que, com asas ou não, Ava era como qualquer outra garota. Não sou tão doce ou ingênua como a personagem, mas me vi nela ao me deparar com sua ânsia por liberdade e com sua dificuldade de se adaptar e se relacionar com outros da sua idade.
“(...) os filhos traíam os pais ao se tornarem donos de si mesmos.” Pág. 231 – Meu quote favorito do livro e uma grande verdade universal.
A grande questão de As Estranhas e Belas Mágoas de Ava Lavender, eu acredito, é mostrar como pessoas que fogem da “normalidade”, que para nós são estranhas e que, por isso, nos metem medo, acabam sendo mais feridas pelo mundo do que fazendo mal a ele. Os Roux/Lavender eram, no fundo, nada mais que pessoas extremamente sensíveis (ao ponto de perceberam coisas que o resto não percebe) e foi tal característica que os fizeram sofrer tanto. As Estranhas e Belas Mágoas de Ava Lavender é uma obra sobre aceitação, mas especialmente sobre autodescoberta, autoaceitação e, claro, a busca pela liberdade e da felicidade. Uma lição importante do livro é que nem sempre é o mundo que nos priva das coisas boas, às vezes nós mesmos escolhemos destinos tristes e sombrios, como Viviane fez. O livro também é uma grande aula sobre amor e união familiar, além de superar seus medos e fantasmas do passado.
Uma obra singela, melancólica, fofa e emocionante. As Estranhas e Belas Mágoas de Ava Lavender traz uma história sobre encontros e desencontros, amores e decepções, união e separação, e muito mais, e me deixou com sorrisos e lágrimas no rosto. O livro é muito tocante, diverte, emociona e nos faz refletir. É impossível não simpatizar e se apegar aos personagens e terminei a obra já com saudades de todos. Amei o livro e estou louca por mais obras de Walton, que já me conquistou com As Estranhas e Belas Mágoas de Ava Lavender e se provou uma escritora madura e talentosa.
“O amor, como a maioria das pessoas sabe, segue uma cronologia própria, apesar de nossas intenções ou planos bem ensaiados.” Pág. 29
Quanto a edição, também tenho apenas elogios. A tradução e diagramação estavam perfeitas, amei os detalhes de penas por todo o livro. Também amei a árvore genealógica dos Roux/Lavender logo nas primeiras páginas, que além de linda, é muito útil. A capa é como o livro - bela e melancólica -, e uma das preferidas da minha estante. O tom de azul é simplesmente divino, assim como o desenho da pena. Fico feliz que a editora tenha mantido a capa original, apesar de que também amei a versão italiana (abaixo), único país onde o livro ganhou outra capa, mas que igualmente combina com a história.
Ahhh Ana, agora eu fiquei encantada sabe? Eu recebi ele de parceria com a Novo Conceito e fiquei meio que olhando pra ele e imaginando: "Eitaa, que esse aqui parece não ser muito bom"... pensamento bobo tsc tsc. E você deu 5 estrelas :) Vou adiantar a leitura dele.
ResponderExcluirBeijos
Passaporte Literário
Leia mesmo! É bem legal!
ExcluirOlá Ana!
ResponderExcluirNossa que livro é esse??? Incrível \o/
A sua resenha está ótima! A narrativa deve ser muito boa mesmo, pois você deu 5 estrelas ^-^ A capa deste livro é maravilhosa!
Quando li este trecho: " As Estranhas e Belas Mágoas de Ava Lavender traz uma história sobre encontros e desencontros, amores e decepções, união e separação, e muito mais, e me deixou com sorrisos e lágrimas no rosto. O livro é muito tocante, diverte, emociona e nos faz refletir.(...)"
Tipo, tenho que ter este livro jáááááááááá ;)
Abraços!
http://maisumpracolecao.blogspot.com.br/
Que bom que gostou da resenha! A capa é maravilhosa, mas o melhor mesmo são os personagens, impossível não se apegar a eles! Leia mesmo, acho que vai gostar!
ExcluirOiii
ResponderExcluirQue bom que gostou da obra. Vi tantas pessoas que abandonaram o livro.
Eu tenho vontade de ler.
A resenha me animou um pouquinho.
livrosvamosdevoralos.blogspot.com.br
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Sério que tem gente que abandonou o livro? Jamais imaginaria, eu gostei tanto da obra!
ExcluirEsse livro sempre me atraiu por causa da capa e do nome; acho ambos lindíssimos. Aliás, eu gosto muito de capas azuis e nomes gigantes. rs
ResponderExcluirNão sabia praticamente nada da premissa do livro até agora, mas essa mistura de real e fantasia me agrada e acho que gostaria de ler a obra. Essa busca por liberdade da protagonista também é um fator positivo para mim.
Ótima resenha e dica anotada.
M&N | Desbrava(dores) de livros - Participe do nosso top comentarista de fevereiro. Você escolhe o livro que quer ganhar!
A capa e o título chamam muita atenção mesmo! Eu também adoro capas azuis! Leia o livro, acho que vai gostar.
ExcluirAna!
ResponderExcluirConfesso que também fiquei bem emocionada ao ler esse exemplar. Tinha lido algumas resenhas criticando negativamente e fui conferir, adorei!
É uma ficção/fantasia em que podemos fazer analogia com nosso cotidiano, pois pessoas diferentes estão por todos os lugares, não apenas na ficção e elas sofrem por medo de não serem aceitas ou por não se permitirem a liberdade de serem felizes...
Muito boa resenha.
Uma semana tranquila, carregada de luz e paz!
Cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
Exatamente, existem pessoas diferentes em todos os lugares e, muitas das vezes, elas acabam sofrendo muito por serem diferente!
ExcluirOlá Ana!
ResponderExcluirSua resenha simplesmente está maravilhosa. Amei! Gosto muito de livros deste gênero. Quando você fala "...eu acredito, é mostrar como pessoas que fogem da “normalidade”, que para nós são estranhas e que, por isso, nos metem medo, acabam sendo mais feridas pelo mundo do que fazendo mal a ele." reflete todo preconceito que geralmente temos em não conhecer a fundo algumas pessoas e igualmente, algumas situações. O mundo tem que aprender a conviver e a aceitar os chamados "diferentes", pois só assim realmente teremos paz, união, liberdade e principalmente amor entre as pessoas e os povos.
Beijos!
mhpaula@yahoo.com.br
Fico feliz que tenha gostado da resenha! Sim, temos que aprender a conviver com as diferenças, se não nunca teremos paz!
ExcluirAna, amei a resenha e com certeza irei amar a obra. Tudo o que você disse da obra como "Uma obra singela, melancólica, fofa e emocionante" é o que me pegou de jeito no interesse em ler o livro. Não tem jeito, agora eu preciso lê-lo o/ Além disso, achei a capa maravilhosa e o título do livro perfeito. Eu quero muito descobrir as estranhas e belas mágoas de Ava Lavender. Sei que vou me surpreender :3
ResponderExcluirBjs,
Rodolfo
Atributos de Verão
Ah, muito feliz que tenha gostado da resenha! Leia o livro mesmo, é ótimo e a capa é linda!
ExcluirOi Ana,
ResponderExcluirEsse livro sempre me atraiu, porém nunca pensei que a história poderia ser tão, tão fascinante, um pouco melancolica e com um enredo absolutamente fantastico. Pensei que o livro fosse de auto-ajuda ou de um gênero próximo, estou super, super curiosa para ler esse livro.
Gostei muito da árvore genealógica.. <3
Sim, a autora deu um show com uma trama cativante e incrível!
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