30.9.14

Resenha: Battle Royale - Koushun Takami

Nós vamos nos matar uns aos outros

Os 42 estudantes da Turma B do nono ano do fundamental acreditavam estar indo para uma excursão escolar, enquanto, na verdade, estavam indo para a próxima localidade do Programa: uma ilha completamente evacuada para o jogo. Para fins pouco claros, o governo da Grande República do Leste Asiático realiza o Programa todos os anos , nele, estudantes são armados – com metralhadoras, pistolas ou armas mais improváveis, como garfos e facas de cozinha – e obrigados a matar uns aos outros até que somente um reste

Caso nenhum estudante morra em determinado período de tempo – o que nunca acontece -, todos serão assassinados pelo Governo. Caso tentem fugir da ilha pelo mar, também serão mortos. Um jogo absurdo e cruel, sem escapatória, onde há apenas duas opções: matar ou morrer. Alguns estudantes estão extremamente dispostos a jogar, outros nem tanto, mas todos farão o que precisam para sobreviver. No Programa não há amizade, não há confiança, não há honra, não há certo e errado. Apenas a sobrevivência. 

Shuya Nanahara está no Programa desse ano, mas ele quer desesperadamente acreditar que há outras maneiras, que há esperança. Seu melhor amigo morre antes mesmo do jogo começar e Shuya se sente na obrigação de proteger a garota que ele amava: Noriko Nakagawa. Shuya ajuda Noriko, que está ferida, mas será que ele deve realmente confiar nela? A Noriko que Shuya conhece não seria capaz de matar ninguém e, além do mais, ela está assustada demais para fazer alguma coisa. Entretanto, o medo que ela está sentindo pode voltar-se contra ele, afinal, que garantia Noriko tem de que Shuya realmente só quer o seu bem?


O Jogo mexe com a cabeça de todos e os bons se tornam maus, os inofensivos, mortais, e aqueles que já não eram bons se tornam piores ainda. Os impiedosos líderes de gangue Kazuo Kiriyama e Mitsuko Souma estão levando o jogo a sério e farão de tudo para ganhar. Mas a maioria dos estudantes simplesmente não quer morrer e matarão se isso significar que eles continuarão vivos. Entretanto, surpreendentemente, há alguns poucos que conseguem se manter racionais e fiéis as pessoas que eram. 

Shinji Mimura, amigo de Shuya, vê no jogo a oportunidade de finalmente usar todos os seus conhecimentos passados a ele pelo rebelde tio. Shinji há muito tempo está cansado do governo autoritário e fascista e procura um meio de atingi-lo e acabar com o Jogo, mas não será tão fácil quanto ele imagina, especialmente porque seu fracasso significará sua vida. Shogo Kawada também parece ter boas intenções. O aluno mais velho, transferido de outra escola, guarda muitos segredos, entre eles, um modo de escapar do jogo. Shogo se une a Shuya e Noriko e promete ajudá-los, mas será que ele não está apenas os usando para sobreviver? As dúvidas se intensificam ainda mais quando Shogo revela que os três só poderão fugir depois que todos os outros estiverem mortos. 

O tempo corre e os estudantes também, cada minuto a mais de vida no Jogo é uma vitória, mas tudo só terminará realmente quando houver apenas um. Poucos são os que querem matar, mas todos querem sobreviver e só há um lugar no pedestal. 42 estudantes, um só ganhador. Quem não está pronto para morrer, tem de estar pronto para matar. 
“E não se tratava simplesmente de serem mortos: os estudantes deviam matar uns aos outros até que restasse uma única cadeira. Sim, esse era o pior jogo da dança das cadeiras de toda a história.” Pág. 46
Battle Royale é um dos melhores livros que já li na minha vida. Um livro envolvente e sangrento, mas também muito crítico. O autor tortura psicologicamente não só seus personagens, mas também o leitor, desafiando-o a descobrir o que vem a seguir, quem vai morrer e como, e se ele têm estomago suficiente para continuar lendo. 

É realmente preciso muito estômago para ler Battle Royale e paciência. A obra é bem extensa e demorei exatos dezoito dias para devorar suas 664 páginas. Uma história cansativa e densa, Battle Royale deixa o leitor exausto, mas sempre ansioso pelo que vem a seguir. Takami consegue envolver o leitor em sua trama ágil e muito bem bolada, rechegada de ação e tensão do início ao fim. O autor nos surpreende a todo momento e o final é de tirar o fôlego e imprevisível! 


Takami criou uma obra profunda, filosófica e crítica. Sua narrativa em terceira pessoa é cativante e um pouco diferente das quais estou acostumada, carregada de ironia e um divertimento cruel. O autor tem uma habilidade invejável para construir personagens. Todos os 42 estudantes têm história própria e que são muito importantes dentro da trama, afinal elas dão ao leitor material suficiente para julgar o comportamento de cada um dentro do jogo. Mas não se engane, Takami não cria mocinhos e vilões, e sim pessoas recheadas de histórias, personalidades, sentimentos e ações imprevisíveis, ninguém é completamente alguma coisa.

Falando em personagens, Kazuo foi o meu favorito. Esse psicopata feroz e inteligente me conquistou com seus assassinatos impiedosos e engenhosos. Nesse sentido, também gostei muito de Mitsuko Soma, uma verdadeira sobrevivente e assassina impiedosa. Antes que me achem uma louca assassina, também gostei bastante de Shuya e Shinji, a determinação de ambos em fazer o que era certo mesmo em um jogo completamente insano é inspiradora. Não simpatizei muito com a Noriko, senti falta de um pouco de ação por parte dela, que era sempre aquela pessoa do grupo que precisa ser salva. Meu segundo personagem favorito foi o misterioso Shogo, cujas reais intenções só conseguimos desvendar no fim. Seria ele um cara realmente bom ou só um garoto inteligente demais?

No final de cada capítulo encontramos "Resta ... estudantes", uma contagem regressiva agoniante e que deixa o leitor ainda mais tenso! rs

O autor do livro também é, de fato, uma pessoa muito inteligente. Ele conseguiu criar dezenas de mortes sangrentas e emocionantes que me surpreenderam e, em alguns momentos, me fizeram rir pela engenhosidade e originalidade de cada uma delas. Mas além de muito sangue, Battle Royale é uma reflexão sobre como, em determinadas circunstâncias, o ser humano pode perder toda a sua civilidade em nome da sobrevivência. O livro nos faz nos colocar no lugar dos personagens: será que eu também mataria meus colegas, pessoas que estão ao meu lado todos os dias, para me manter vivo? A resposta, infelizmente, pode ser sim. Battle Royale nos mostra o quanto somos frágeis e regidos pelo momento, mas também que, mesmo tendo de tomar atitudes condenáveis, nós ainda podemos buscar fazer o correto.

Battle Royale também é uma crítica aos governos totalitários, autoritários e fascistas. Nesse sentido, a obra me lembrou bastante o 1984 de George Orwell (resenha aqui), apesar de que é impossível dizer se o clássico foi uma influência para o autor. Battle Royale critica também a passividade da população diante um governo que as oprime, mas principalmente tais governos que alienam e reprimem a população de tal forma que rebelar-se acaba sendo mais perigoso que entrar no Programa. 

Quanto a edição, não tenho nada a reclamar. A tradução e diagramação estavam perfeitas. As páginas amarelas ajudam a deixar a leitura um pouco mais rápida, e o tamanho e tipo da fonte estavam bons. Eu absolutamente amo essa capa, que combina perfeitamente com o livro, mas gosto também das outras capas que a obra ganhou ao redor do mundo.

Mapa da ilha onde acontece o Jogo, que vem na atrás da capa e da contra capa. O mapa foi extremamente útil ao longo da leitura.

Uma leitura cansativa, mas complexa e emocionante, Battle Royale consegue juntar diversão e crítica nesse épico sangrento e deliciosamente divertido. Essa é uma obra obrigatória e irresistível para fãs de tramas ironicamente cruéis e insanas, que envolvem profundamente o leitor e o faz questionar aspectos de sua própria personalidade, vida, sociedade e governo. 

Não somos tão humanos quanto imaginamos e esse é um dos excelentes livros que nos lembram que a civilidade é mera ilusão e que devemos ao máximo tentar torná-la realidade. Você está preparado para encarar o Jogo?

Battle Royale me deixou com gostinho de quero mais e agora estou louca para ver o filme, assim como os animes e ler os mangás! 
“Todos se foram. Não apenas a existência em si de cada um deles, mas tantas outras coisas foram também destruídas. Mais ainda não tinha acabado.” Pág. 623

Título: Battle Royale
Título original: Batoru Rowaiaru
Autor: Koushun Takami
Editora: Globo Livros
ISBN: 978-85-2505-612-2
Ano: 2014
Páginas: 664
Classificação: 5/5 [ótimo] - favorito

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8 comentários:

  1. Nossa, bastante páginas. Deve ser legal você pegar pra ler um livro desses. Deve parecer com uma novela, em que você fica ansioso com as próximas páginas. Muito interessante o livro!

    atributosdeverao.blogspot.com.br

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    1. Não muito como uma novela, mais como um filme de terror com muito suspense!

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    2. Verdade!
      Nunca li um livro deste gênero. Provavelmente a reação é a mesmo que ver um filme mesmo. Suspense em cada página

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  2. ai, não consigo me imaginar em uma situação parecida com essa. que horror!
    não gosto de livros muito sangrentos assim, mas confesso que a trama dele parece ser ótima. não sei se o livro me agradaria, mas ver o filme com certeza seria muito legal!
    doidice da autora inventar uma trama assim eim ;x :S

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    1. É, para quem não gosta de obras sangrentas, não indico essa livro! Mas leia, vai que você gosta! O autor é homem! rs

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  3. Ótima resenha! Realmente o livro é imprevisível, violento e no mínimo excelente. Tente ver o filme e o mangá (um pouco diferente) que seguem fielmente a história. E tem que ter estômago para ver ambos.

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  4. Eu tenho esse livro mais tenho um pouco de medo de ler por causa das mortes, mas ele parece ser muito bom, sua resenha ficou ótima.

    Beijos:*
    http://escritasnachuva.blogspot.com.br/

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