Título: Coração de Vidro
Autor: Marcos de Sousa
Editora: Biblioteca 24 Horas
ISBN: 978-85-416-0253-2
Ano: 2012
Páginas: 118 (e-book)
Classificação: 5/5 [ótimo] - favorito
Sinopse: No livro Coração de vidro, Marcos de Sousa demonstra a metamorfose de um coração após ser tocado pelas sutilezas do amor. O próprio poeta proclama: Se nos charcos pode nascer uma rosa / Ou um lírio, quem sabe, / Não pode nascer um coração de diamante / Dos destroços de um coração de vidro? Marcos de Sousa, em seu livro de estreia, emociona corações apaixonados e encanta os descrentes da existência do amor.
Coração de Poeta
“Não existe explicação para um coração de vidro. Um coração de vidro é a própria explicação.”
Confesso que não leio com frequência, mas sou encantada com poesias e poetas. Não é uma arte fácil de se fazer - eu mesmo mal sei rimar duas palavras e olha que poesia é muito mais que rimas -, exige talento nato, além de um jeito particular de ver o mundo. Acredito que poeta já nasce poeta.
A poesia traçou seu caminho lado a lado com a história da humanidade, sendo uma das modalidades de arte mais tradicionais e mais belas. Se pensarmos bem, a poesia já existia mesmo antes da escrita, quando as histórias eram transmitidas oralmente através de canções, que nada mais são que poesias cantadas. No mundo contemporâneo, a poesia muitas vezes fica esquecida, até mesmo no âmbito musical. Em uma época onde grande parte da população pouco se importa com o domínio da língua escrita, que é verdadeiramente assassinada na internet e até mesmo no falar; uma época de músicas-chicletes, com rimas ridiculamente simples e sem qualquer valor artístico, é raro encontrar pessoas como Marcos de Sousa, que fazem poesia, e muito bem por sinal.
“No céu não há lugar para poetas,Contaminariam solo santo com tristeza e dor.Trariam morte ao Elísio,Estripariam a pureza com a nudez do amor.” - Lágrimas de estrelas
Honestamente, acreditava que a poesia - a mais tradicional, escrita no papel e com linguagem rebuscada - estava morta, até que li “Coração de Vidro”. Sousa trouxe de volta as minhas esperanças para o gênero lírico, que se continuar tendo contribuições como essa, não acabará por sucumbir nesta era onde as artes (entre elas a literária) tem pouco valor. Como o nome já pode nos dar uma ideia, “Coração de Vidro” traz poesias lindíssimas, grande parte com temática romântica, do tipo que se declama para conquistar aquela pessoa que desperta seu coração.
“Não há cura para um coração de vidro, Ele deve ser quebrado.”
“Coração de Vidro” traz diversos olhares sobre os diferentes sentimentos do coração, não só do amor. Medo, morte, esperança, saudade e angústia são alguns dos temas explorados no livro, mas o destaque é, sem dúvida, da paixão. Mas não só paixão romântica, mas também paixão carnal, platônica, dolorosa, nostálgica: Sousa nos presenteia com diferentes tipos de amor, assim como diferentes objetos de paixão. Um poeta que se preze não pode abrir mãos de suas amadas mulheres e o autor, nesse livro, nos traz algumas. Hora recatada e inocente, hora sedutora e envolvente, hora menina, hora mulher. Sousa retrata diferentes mulheres e os diferentes sentimentos que elas lhe provocam. A poesia “Menina-amor”, por exemplo, nos traz a imagem de uma garota inocente, de “lábios de coração” e “esmeralda ao invés de olhos” que parece conquistar o coração do eu-lírico apenas ao passar na rua, aparentemente alheia aos sentimentos que ele nutre por ela. Já na poesia “F”, temos uma mulher que “não sabia o porquê amava/ Mas amava porque não sabia/E com F escrevia /O fogo da sua paixão.”. Apenas esses versos passam a imagem de uma mulher sedutora, que apesar de ter descoberto muitos amores, ainda não descobrira a si mesma. “F” foi uma das minhas poesias preferidas, assim como “Mariane”, onde o eu-lírico faz um retrato de uma mulher tão bela e arrebatadora, que pode chegar ao ponto de ser cruel apenas com a intensidade com que faz com que os outros a amem. Natalia é, sem sombra de dúvida, a grande musa do autor. Na última poesia do livro, chamada “Natalia”, percebemos o quanto essa mulher conquistou um lugar especial entre as outras mulheres e paixões: “Se nos teus olhos encontro o calor do sol /E a beleza da lua nova, /Por que não quereria, amada minha, /Fazer-te minha poesia e prosa?”. Com uma parte do livro dedicado apenas à Natalia, somos apresentados a diferentes facetas desta mesma mulher, que conquistou o eu-lírico a ponto de mudá-lo: “Sou poeta torto, amada minha,/Mas meu coração se endireita ao te ver passar.”.
Mas não são só as mulheres que mexem com o coração do nosso poeta. O sentimento de amor por si só é muitas vezes debatido, sempre por uma perspectiva diferente, em momentos ligado a felicidade extrema ou a paz, em outros a tristeza e dor. O amor deixou marcas profundas nos eu-líricos das poesias e que acabam sendo transferidas para o leitor. No poema “Desafogo” encontramos alguém tão atormentado pela saudade de um amor passado que tenta encontrar consolo nas palavras: “Teus rancores vêm em cachoeiras de lágrimas;/ Afogo-me na solidão./ Aconselharam-me a fazer carta de suicídio e testamento./Anuncio: morro. /Deixo-te meus versos por herança.” Na poesia “Esquive-se do amor” encontramos um aviso: “Quero fugir deste tal amor. /Dizem que ele mata, /Arranca pedaços e come peitos vazios... /Por isso estou tão amuado, /Por isso estou tão escondido. /Fujam, corram, /O amor está vindo!”, afinal o sentimento é tão arrebatador que devemos fugir dele.
“Por excesso de amor,Morreu aquele coração.” - Brevidade
Mas o amor, como vemos, não traz apenas coisas ruins. Um novo olhar sobre o mundo, uma indignação com a tristeza que parece dominar o mesmo, como vemos no poema “Cotidiana tristeza”: “A vida passa triste. /Rostos passam tristes. /Olhares passam felizes, /Mas morrem tristes. /Por que tanta tristeza, meu Deus?” - o amor provoca um leque de emoções e reflexões. Mas como comentei, não é só esse sentimento que é abordado ou situações ligadas a ele. O poema “Rio de Janeiro”, por exemplo, retrata com beleza a vida moderna, a correria e a falta de poesia que esta vida maluca na cidade nos proporciona: “A noite logo chega, /Com muitas pernas, muitas buzinas, /Muito cansaço, mas pouca alma. /As cabeças repousam nos travesseiros, /Mas os olhos não se fecham. /Ninguém sai para admirar a lua, /As estrelas, tristes, já se vão.”. A morte e a poesia em si são temas bastante recorrentes ao longo de “Coração de Vidro”, assim como a própria condição de poeta, o que vemos no poema “Poesia e morte”, um dos meus favoritos, que senti necessidade de reproduzir na íntegra:
“Virem as páginas,
As demais estão em branco:
Aqui morreu o poeta.
O livro é inacabado,
Assim como o seu coração,
Assim como a sua vida.
De tanto morrer, virou poesia.
De tanta poesia foi a morrer?
Poesia ou morte, faz diferença?
No fim, tudo é sofrer!
Velem hoje o coração de um poeta morto
Que de tanta poesia foi a perecer.
Poesia ou morte, faz diferença?
Só é vivo o que pode sofrer e morrer!”
O autor também explora outros cenários e situações, como na poesia “Nocte” (a minha preferida de todo o livro), onde ele exalta a beleza da noite de forma belíssima. Uma poesia que também gostei bastante foi a “Um soldado vai à guerra”, onde o eu-lírico nos leva ao íntimo da rotina, mente e coração de um soldado: “Siga, soldado taciturno... /Não esqueça jamais a sua missão: /Tirar vidas enquanto a mente /Tenta entender um coração.”.
A diversidade de temas das poesias foi um dos fatores que mais me fez gostar de “Coração de Vidro”. Não sou do tipo extremamente romântica, por isso creio que me cansaria de ler apenas poesias de amor. Mesmo que elas não sejam as minhas favoritas, há algo que encanta nas palavras de Marcos de Sousa e que faz o leitor mergulhar em cada uma das poesias. Já no primeiro verso do livro me vi envolvida e sedenta por mais. O autor tem um talento inegável para o gênero lírico e suas poesias me lembraram obras como de Carlos Drummond de Andrade e Álvares de Azevedo (o meu poeta favorito). Com rimas ricas e linguagem rebuscada na maioria das poesias (que não chegam a ser difíceis de entender), Sousa criou obras cheias de beleza, mas também significado e emoção. Até mesmo nas poesias mais despretensiosas e de linguagem mais simples o autor me encantou, como na poesia “Amor popular”, onde o eu-lírico faz um paralelo entre seu amor e ditados populares que reconstrói de modo a caber e expressar seus sentimentos de um amor não correspondido. Algo muito presente nesse e em outros poemas são às referências clássicas, principalmente a mitologia grega, o que é um prato cheio para quem, como eu, adora mitologia.
Apesar de lido em e-book, “Coração de Vidro” foi uma leitura extremamente prazerosa e ganhou lugar entre os livros favoritos. Essa é uma obra para ser lida de forma lenta, de modo que o leitor se delicie com cada poesia e com as reflexões que todas elas trazem. Para quem gosta de poesia, esse é o livro certo. E para finalizar esta resenha (enorme), deixo-lhes meu poema preferido de todo o livro:
“Nocte
Filha de Hécate com a Lua,
Formosa até em seu pesar.
Os poetas te gostam crua
E há quem diga lhe amar.
Traz a inspiração em suas costas,
Tece versos de mais puro horror.
Loba faminta com cheiro de rosa,
Traz grilhões por baixo do amor.
Tormenta dos corações apaixonados
E gozo dos escritos decadentes.
Traz, em suas mãos, peitos aprisionados,
Vozes contorcidas por dores latentes.
Senhora de viver austero
E vísceras flamejantes,
Faz-se passar por temor materno,
Mas é esconderijo dos amantes.
Segue sempre o mesmo rumo
Pois não passa de deusa sem trono.
Morte anunciada está sempre a raiar.
Poderosa chega e sai maltrapilha.
Apressa-se sempre em achar o caminho
Pois a Alva já está a apagar.”
Oi Ana!
ResponderExcluirNão costumo ler poesias, mas os trechos que colocou na sua resenha me encantaram, vou procurar o livro e espero conseguir ler logo.
Beijos
http://sobrelivrosesonhos.blogspot.com.br/
Sou suspeita para falar, mas o livro é realmente lindo. As poesias são tocantes e instigam diferentes sentimentos. Recomendo a todos.
ResponderExcluirM&N | Desbrava(dores) de livros - Participe do nosso top comentarista
Não gosto muito de ler poesias/poemas , mas são obras lindas , e exigem talento e trabalho por parte do autor!
ResponderExcluirE-mail: juliamariamoraes2013@gmail.com
Nome de seguidor: Julia Moraes
Ana, eu só tenho a agradecer pela resenha e pela parceria. Fazer um livro que conquiste os leitores é difícil. Quando se trata de um gênero que é pouco apreciado pela maioria, a missão se torna praticamente impossível. Ao ler sua resenha, eu me sinto feliz e realizado. É bom quando vemos quando o trabalho surte o efeito esperado.
ResponderExcluirObrigado por todo cuidado na resenha. Está impecável.
Para quem gostou da obra e quiser mais detalhes (acho que nem eu tenho mais detalhes do que essa resenha rs) ou quiser adquirir a obra; ou, ainda, quem quiser formar parceria, basta entrar em contato comigo no e-mail mlucas92@hotmail.com.
Obrigado por tudo, Ana.
Que trechos lindos você citou Ana! Eu não tenho costume de ler poemas atualmente, mas, depois dessa resenha, não descarto a possibilidade!
ResponderExcluirOi Ana, também dificilmente pego um livro de poesias para lê-lo por completo.. Mas isso não quer dizer que eu não gosto de poesias, pelo contrário, só que gosto mais de ler uma ou outra solta por aí. As citações são lindas, adorei ;)
ResponderExcluirBeijos
Linda a capa deste livro, simplesmente maravilhosa. Gostei bastante da sinopse dele, não me chamou tanta atenção assim, mas certamente este é um livro que eu poderei ler em breve.
ResponderExcluirAna, gostei muito da forma que você abordou a obra. Também já li Coração de vidro e é um livro apaixonante. Cada verso escrito pelo Marcos nos mostra uma faceta das mulheres sim, mas principalmente do próprio autor. Beijos!
ResponderExcluirwww.viagensesquizofrenicasalua.blogspot.com.br
ah, eu curto mto poesia, e achei os trechos que vc separou excelentes. Por eles dá pra tirar a qualidade da obra. Também gosto do lirismo presente na poesia... é deveras encantador...
ResponderExcluirInfelizmente, o país anda mergulhado numa ignorância onde as tais 'música chiclete' estão ofuscando o brilho de tantos talentos, pois a maioria das pessoas prefere cantar 'lepo lepo e show das poderosas' do que ler algo que faça bem a mente... =/
bjs.
http://torporniilista.blogspot.com.br/
Flor, se puder apagar esse coment de cima... xD
é que como tõ participando do TC desse mês, só vale comentar num perfil apenas, neh O.o
aih vezemquando esqueço que tô logada no 'val strange' e acabo comentando por ele. [apesar de ser eu mesma jkkkkkkkkkk], mas enfim..
bjs
^^
Oi, já apaguei o comentário. Mas não se preocupe, sei que os dois perfis são seus e isso não vai te prejudicar na contagem do TOP.
ExcluirBjs
Não leio muitas poesias :/ por isso não me chamou muito a atenção.
ResponderExcluirMas gostei dos trechos que vc postou, mas mesmo assim não sei se leria, talvez em breve.
Oi Ana...Amei poder conferir a resenha deste livro, gosto bastante de poesia, mas confesso que já algum tempo não leio, então amei poder os trechos selecionados e espero poder conferir e matar a saudade!!
ResponderExcluirBeijos ♥
há algum tempo que não leio poesias, amei as frases do livro!!
ResponderExcluir“No céu não há lugar para poetas,
ResponderExcluirContaminariam solo santo com tristeza e dor.
Trariam morte ao Elísio,
Estripariam a pureza com a nudez do amor.” - Lágrimas de estrelas
ameeei perfeitoooooooo
Nossa, amei a resenha, e preciso desse livro, estou in love com suas palavras, você pode não saber rimar duas palavras sequer, mas tem uma sabedoria imensa viu.. hahaha
ResponderExcluirEu AMEI os poemas que você escolheu pra pôr na resenha, eu não costumo ler muito livros deste gênero, mas esse, eu tenho que ler, e espero que leia em breve.
Beijos
bela capa, estou incentivada a ler o livro, gosto de poesias e os citados acima são tão bonitos! :-)
ResponderExcluirFiquei encantada com a capa e por ser um livro de poesias sobre amor , esperança e tudo mais, tem um "Q" de mais especial...pelo visto, parece ser uma reunião de poesisas tocantes, que acalentam e emocionam a cada pesoa que as ler..parabéns pela resenha...bjs
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