Título: O Apanhador no Campo de Centeio
Título original: The Catcher in the Rye
Autor: J.D. Salinger
Editora: Editora do Autor
Edição: 16
ISBN: 85-87575-01-5
Ano: 1999
Páginas: 208
Classificação: 4/5 [muito bom] - favorito
Sinopse: À espera no centeio (O Apanhador no Campo de Centeio na edição brasileira) narra um fim-de-semana na vida de Holden Caulfield, jovem de 16 anos vindo de uma família abastada de Nova York. Holden, estudante de um reputado internato para rapazes, volta para casa mais cedo no inverno depois de ter recebido más notas em quase todas as matérias e ter sido expulso. No regresso a casa, decide fazer um périplo adiando assim o confronto com a família. Holden vai refletindo sobre a sua curta vida, repassa sua peculiar visão de mundo e tenta definir alguma diretriz para seu futuro. Antes de enfrentar os pais, procura algumas pessoas importantes para si (um professor, uma antiga namorada, a sua irmãzinha) e tenta explicar-lhes a confusão que passa pela sua cabeça. Foi este livro que criou a cultura-jovem, pois na época em que foi escrito, a adolescência era apenas considerada uma passagem entre a juventudade e a fase adulta, que não tinha importância. Mas esse livro mostrou o valor da adolescência, mostrando como os adolescentes pensam.
Se alguém agarra alguém atravessando o campo de centeio
Holden Caulfield não é que o podemos chamar de um adolescente típico. E não falo do fato dele vir de uma família rica ou de ter sido expulso de diversos colégios internos. Holden simplesmente não é como os outros. Seus interesses são muito limitados e ele odeia a maioria das coisas e pessoas. Nem um pouco esforçado, o garoto mais uma vez é expulso, dessa vez do Colégio Pencey, um renomado internato para garotos, por ter sido reprovado em todas as matérias (exceto inglês). Um rebelde em mente, mas covarde em ações, Holden realmente não dá a mínima por ter sido expulso, na verdade, está de certo modo feliz por poder se livrar daquele lugar horrível. Entretanto, teme a reação dos pais ao receber a notícia, o que o deixa a beira de um colapso nervoso. Extremamente confuso e melancólico, Holden deixa as dependências do Colégio e vai para Nova Iorque. Com medo dos pais, ele resolve ir para casa apenas na terça-feira, dali a três dias. Com muito tempo livre para matar e completamente sozinho, Holden acaba se aprofundando em si mesmo e em seus sentimentos. Em uma espiral de confusão, melancolia e nostalgia, o garoto tenta entender a si mesmo ao mesmo tempo em que o mundo. Conforme vai passando por diversas situações, a angústia de Holden aumenta ao ponto dele procurar antigos conhecidos, o que na verdade apenas faz parte da sua procura por entendimento. Conforme não acha o que procura, o garoto percebe que precisa lidar com certas verdades, mesmo que não o consiga fazer.
“O Stradlater me olhava pelo espelho, enquanto se barbeava. Tudo o que preciso é de uma plateia. Sou um exibicionista.” Pág. 33
Confesso que é difícil falar sobre “O Apanhador no Campo de Centeio”. Apenas o primeiro parágrafo acima levou um bom tempo para ser escrito, além de ter sido alterado por completo diversas vezes. Esse é um livro denso, que demora a ser digerido e entendido. Ao mesmo tempo, eu amava e odiava a história e o protagonista enquanto lia, sentimentos controversos que permanecem mesmo depois da leitura. A fama de “O Apanhador no Campo de Centeio” o precede. Conhecia o livro de nome, como uma obra intensa e controversa, citada em milhares de outras obras que já li. Sem fazer ideia alguma sobre o que se tratava, encontrei esse livro na casa em que estava na praia e não pensei duas vezes antes de começar a lê-lo.
Tinha mínimas expectativas quanto a trama e enormes expectativas quanto ao livro como um todo. Esperava algo emocionante e que me fizesse pensar, mas foi muito mais que encontrei. Com uma narrativa tão envolvente, ácida, honesta e irônica como o próprio narrador, “O Apanhador no Campo de Centeio” é o tipo de livro que entra na sua mente e fica te cutucando no cérebro. A primeira vista, nosso protagonista é apenas um garotinho mimado que simplesmente não se importa com nada. Entretanto, quando Holden começa a voltar-se para dentro de si, o acompanhamos nessa viagem e encontramos um verdadeiro caos adolescente. O garoto está confuso e completamente perdido dentro de sentimentos que não entende e que não sabe de onde vem. Entretanto, todo esse pacote de emoções caóticas está embrulhado em melancolia, contradição e solidão. Para Holden tudo é aumentado e dolorido. Cada pequena coisa parece eterna ao mesmo tempo em que cada segundo parece o último, como se a vida fosse um fim do mundo que dura para sempre. O que mais encanta em Holden é que o garoto é e não é como qualquer outro de sua idade. Ele tem todas aquelas caraterísticas típicas da adolescência e age exatamente como qualquer um deles, de forma impulsiva e na maioria das vezes estúpida: ele não sabe o que está fazendo, mas sente necessidade de fazê-lo.
Tenho dizer que não pude deixar de me identificar com Holden. Temos a mesma idade e formas parecidas de ver o mundo. Entretanto, acho que a maioria das pessoas, considerando que todos nós passamos pela adolescência, se identifica. Não tem como não o fazer. Quem nunca se viu jovem e perdido, sem ideia do que fazer consigo mesmo ou com a própria vida? Mas como disse, Holden Caulfield é, ao mesmo tempo em que não, como todos nós. O personagem, apesar de suas caraterísticas comuns a todos os adolescentes, tem uma personalidade singular. Há algo nele, que não sei definir, que simplesmente o torna único. Se você visse Holden Caulfield na rua, você o reconheceria na hora, mesmo que ele se pareça com qualquer um. Falando em semelhanças, o personagem me lembrou bastante o Charlie de “As Vantagens de Ser Invisível” (resenha aqui), que como ele tenta se entender e entender ao mundo, ao mesmo tempo em que tenta se adaptar e se feliz; e o Alex de “Laranja Mecânica” (resenha aqui), que como ele vê sua visão do mundo se chocar com os ideais da sociedade, que tenta ser diferente em um universo de pessoas iguais.
Os outros personagens também possuem caraterísticas e personalidades que os destacam, mas não mais que o protagonista, claro. A irmãzinha de Holden, Phoebe, foi a que mais me conquistou com sua honestidade, inteligência e grande amizade e lealdade ao irmão, apesar de sua pouca idade. Outra personagem digna de nota é Jane Gallagher, uma amiga pela qual Holden nutre grande afeto (e até mesmo um sentimento romântico), mas que em nem um momento realmente aparece na história. Jane é o que eu apelido de personagem-fantasma, que não chega a participar da trama, mas que é importante para ela.
Falando na trama, ela é um dos pontos negativos de “O Apanhador no Campo de Centeio”. O livro tem muitos poucos acontecimentos concretos e os que têm são desprovidos de grandes emoções, apesar de que a maioria é surpreendente. Essa falta de ação deixa a história um pouco monótona, mas acredito que não deveria ser diferente. A monotonia é um dos sentimentos que aflige Holden e, logo, ela está presente em sua vida. Se os acontecimentos, ou qualquer outro aspecto do livro, fossem minimamente modificados, acredito que a obra perderia o seu brilho e o fascínio que exerce por todos. A narrativa em primeira pessoa Salinger é simplesmente divina e combina perfeitamente com o protagonista, parece que é o próprio quem está contando sua história.
“Bom mesmo é o livro que quando a gente acaba de ler fica querendo ser um grande amigo do autor, para poder telefonar para ele toda vez que der vontade. Mas isso é raro de acontecer.” Pág. 23 – É raro mesmo, mas aconteceu com esse livro! Alguém aí topa ressuscitar J. D. Salinger para podermos bater um papinho? rs
Muitas pessoas relacionam esse livro ao assassinato de John Lennon, já que Mark David Chapman, o assassino, carregava a obra no dia e afirmou que ela o influenciou a cometer o crime. Honestamente, acredito que tal influência só existe na cabeça do Mark, uma pessoa provavelmente já disposta a tal atrocidade. “O Apanhador no Campo de Centeio” nada tem a ver com psicopatia, violência, assassinatos e etc. (e confesso que era parte do que eu esperava antes de ler o livro). Pelo menos para mim, a obra é um grito pela adolescência. O livro mostra, de forma bela e em certos momentos assustadora, como essa época de amadurecimento pode ser tão angustiante e devastadora. “O Apanhador no Campo de Centeio” também nos traz uma reflexão sobre independência (em todos os sentidos de nossa vida) e sobre rebeldia e o que realmente fazemos, de forma concreta, com ela (afinal Holden odiava o mundo ao seu redor, mas não fazia nada para mudá-lo).
“O Apanhador no Campo de Centeio” é um livro intenso, denso, surpreendentemente divertido e atemporal, que acredito que todos deveriam ler. Uma obra que deveria ser trabalhada nas escolas, já que nos leva naturalmente a reflexão e ao entendimento de certos aspectos da vida e de nos mesmos. Talvez ele não seja tão bom quanto livro, quanto história propriamente dita, talvez a leitura seja um sofrível e/ou angustiante, mas é um clássico que não deve ser lido apenas pelo seu status ou sua fama, mas sim por seus significados, tão belamente explorados e tão facilmente entendidos e absorvidos.
E para fechar essa resenha enorme, só mais alguns comentários sobre a edição, que é um ponto negativo. Li a edição de 1999, que é uma verdadeira tristeza (e acredito que a última dessa obra no Brasil). Livros com páginas brancas sempre serão alvo de reclamações, não adianta nem discutir. Mas o que mais me irritou foi a tradução. O livro estava bem traduzido, exceto pelas muitas de gírias usadas (que creio é uma das caraterísticas da obra, é verdade), todas da época da edição e que tiraram um pouco do caráter atemporal da história e que dificultam a leitura. A capa cinza, sem absolutamente nada, é muita sem graça, exatamente como toda a diagramação do livro.
"A característica do homem imaturo é aspirar a morrer nobremente por uma causa, enquanto que a característica do homem maduro é querer viver humildemente por uma causa" (Esqueci de anotar a página desse quote, o melhor do livro todo rs)
Obs.: espero que essa resenha tenha feito o mínimo de sentido e que eu tenha conseguido expressar pelo menos um pouco do quanto gostei do livro! Ele entrou para a lista dos melhores favoritos dos favoritos (o que, para mim, não é pouca coisa!).
Oi Ana, não sei se leria por ser um livro denso, mais fiquei em dúvida porque gosto de narrativa envolvente e irônica, adoro ironismo nos livros, já tinha ouvido falar do livro, só que nunca tinha lido uma resenha..
ResponderExcluirBeijos Mila
http://dailyofbooks.blogspot.com.br/2014/02/resenha-enfeiticadas.html
Não tinha ouvido falar da autor nem do livro, a historia do livro parece ser muito boa mesmo, e sim, consegui entender que você o colocou na categoria de favoritos e o por que.
ResponderExcluirAcho que seria um livro que eu gostaria de ler, quem sabe um dia...
eu gosto desse livro. Não é um dos meus preferidos, mas foi uma leitura válida...
ResponderExcluirbjs
http://torporniilista.blogspot.com.br/
Ana, eu li esse livro no mês passado e tive impressões parecidas com as suas. Holden é "um rebelde em mente, mas covarde em ações" como você disse, depressivo e com um humor ácido.
ResponderExcluirApesar de não estar entre os meus favoritos, gostei do livro.
Bjs.
Esse livro é maravilhoso. Amei!
ResponderExcluirAdoraria passar o dia inteiro vagando por NY, sem nada para fazer hehehe...
Ainda mais agora enquanto sou adolescente.
Beijos <3
vintageiz.blogspot.com
Eu não tinha visto falar ainda nem do livro nem do autor até agora claro, quem sabe um dia eu possa lê-lo. Gostei das características que vc citou e de saber que o livro nos leva a reflexão, gosto de ler livros que me fazem refletir, e também preciso ler mais clássicos!
ResponderExcluirBeijos ^^
Oi Ana!
ResponderExcluirConseguiu sim passar o que sentiu em relação ao livro, aliás vc tem uma conexão interessante com a leitura e ao fazer resenhas, uma coisa meio mágica que faz a gente devorar seu texto.
É isso mesmo, vc colocou em palavras o que penso sobre o livro, denso, difícil de ser digerido, mas ainda assim imprescindível.
Reflexivo e atemporal!
Uma relação de amor e ódio =D
Bjs
Já conhecia o livro pelo nome, mas nunca me interessei em procurar mais sobre a estória. Gostei bastante da sua resenha, mas acho que vou ler agora...
ResponderExcluirBeijos!
http://sobrelivrosesonhos.blogspot.com.br/
acho que vou me identificar com Holden também, pois pela forma que você discreveu ele, não pareço ser muito diferente :P
ResponderExcluirquando eu estava no colégio, há muito tempo atras, a gente tinha o costume de ler um livro e resenhar para a turma, e alguem da minha sala resenhou ele para nós. na época já tinha ficado curiosa para ler, mas sei lá, acho que acabei me esquecendo hahaha
páginas brancas para mim é um ponto um pouco positivo mesmo. sempre suja e é horrivel de ler =/
para mim, você conseguiu expressar sim. parece ser ótimo, e você me deixou curiosa para ler ele :D
Acho que a resenha foi muito bem feita, me fez compreender alguns pontos principais do livro, a leitura pode fluir para alguns, mas para muitas pessoas a leitura será sofrida do inicio ao fim. De acordo com minha compreensão a leitura do livro não seria o meu gênero, estou em busca de coisas leves que me façam rir, ou um choro feliz (rs).
ResponderExcluirBjs,
Nossa!
ResponderExcluirO que dizer dessa resenha? Maravilhosa!
É a primeira resenha que leio desse livro. Muitos anos atrás um professor de literatura leu trechos em sala de aula e desde então, quero ler e não sei porque, nunca o fiz.
Espero que a minha leitura seja tão satisfatória quanto a tua. Pelos menos os trechos que ouvi me conquistaram.
Um beijo!
Lua.
http://luahmelo.blogspot.com
Obrigada, fico feliz que tenha gostado da resenha! O livro é maravilhoso, espero que goste da leitura!
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