Resenha: O Livro do Amanhã - Cecelia Ahern

Título: O Livro do Amanhã
Título original: The Book of Tomorrow
Autora: Cecelia Ahern
Editora: Novo Conceito
ISBN: 978-85-8163-034-2
Ano: 2013
Páginas: 368
Classificação: 3/5 [bom]
Sinopse: Nascida no luxo, Tamara Goodwin, de 16 anos, nunca precisou olhar para o amanhã, até que a morte abrupta de seu pai deixa a ela e a sua mãe uma montanha de dívidas e as obriga a se mudarem para a casa dos tios de Tamara, em um vilarejo no interior. Solitária e entediada, a única diversão de Tamara é uma biblioteca itinerante. E ali, ela encontra um livro muito misterioso. Tamara vê inscrições com sua própria letra e datadas para o dia seguinte. Quando tudo acontece exatamente como o livro previa, ela percebe que pode ter encontrado a solução para seus problemas. No entanto, Tamara descobre que é melhor não virar algumas páginas e que, apesar de muito tentar, não pode mudar o destino.

         

Tamara Goodwin é uma garota de 16 anos que sempre teve tudo o que queria e um pouco mais. Ela foi criada cercada por muito luxo e por pais amorosos, mas fúteis, que se importavam muito com dinheiro e aparências, o que não os impedia de se importarem também com a filha. Tamara tinha uma vida mais que confortável, apesar de achar que tudo aquilo não era o suficiente ou mesmo bom. Ela estudava em um colégio caro, morava em uma mansão, viajava sempre para o exterior, tinha muitas roupas caras e ia a festas glamorosas, mas isso era tão rotineiro que ela se divertia muito mais sendo uma garota rebelde (sem causa) e irritando os pais. Tamara é do tipo que vai a festas escondida, que fica bêbada com os amigos e que pensa em dormir com tal garoto apenas porque suas amigas fizeram o mesmo. 

Tamara tinha aquele típico pensamento adolescente de achar que a juventude duraria para sempre, que ela nunca teria que pensar no amanhã. Mas, como vocês podem imaginar, logo ela descobriu que a vida não é bem assim. Quando o pai da garota suicida e ela e a mãe descobrem que estão afundadas em dívidas, não há outra alternativa para as duas além de irem morar com tios, no interior. Não bastasse ter que enfrentar uma situação incomum para sua idade - a morte de seu pai -, Tamara ainda precisa lidar com sua nova realidade: uma vida entediante e limitada no campo. 

"Compreendi que, quando as coisas fracassam, as pessoas não ficam apenas dilaceradas, se tornam sobreviventes. (...) Às vezes, muita coisa pode resultar de uma destruição total. Você pode crescer de verdade." (Pág. 298)

Apesar de ter sido recebida de braços abertos por Arthur e Rosaleen, seus tios, a garota não se sente confortável no novo lar; ela não quer apenas sua casa de volta, mas toda a sua vida. Entretanto, após alguns dias no campo, Tamara volta a cidade para visitar as amigas, mas percebe que já não é mais como elas, que não pertence mais aquele mundo. Mas ela tão pouco pertence ao mundo de Arthur e Rosaleen. Completamente perdida em sentimentos e situações a quais não está acostumada, a garota não pode evitar se sentir confusa, frustrada e irada, o que aflora a velha Tamara: uma menina arrogante, cínica, fútil, mimada e oferecida, o que, no fundo, é apenas reflexo de uma garota carente por amor. 

É em um dos momentos da “velha Tamara” que ela se aproxima de Marcus: um belo rapaz que trabalha em uma biblioteca móvel. Ele não sabe que ela tem apenas 16 anos, por isso a leva para um passeio no ônibus/biblioteca. Mas Tamara consegue mais que a atenção de Marcus durante o passeio. A garota descobre um livro misterioso, sem nome, sem autor e trancado por um cadeado no acervo da pequena biblioteca. Ao conseguir abrir o livro, ela se depara com uma surpresa: páginas em branco que são preenchidas com relatos seus, escritos com sua letra, do dia seguinte. Em um primeiro momento, Tamara pensa que tudo aquilo é armação de uma idosa freira que ela conheceu e que abriu o livro para ela. Mas, ao realmente perceber que o que o livro mostra é real, a garota percebe uma chance de mudar sua vida. Entretanto, será possível mudar um futuro que, aparentemente, já foi escrito? Mas e se esse futuro acabar a guiando para descobertas do passado, que envolvem todos a sua volta, inclusive sua mãe, seu pai e seus tios? Será que Tamara vai conseguir lidar com tanta coisa e conseguir o que quer? 

“E se soubéssemos, o que nos traria o amanhã? Poderíamos repará-lo? Conseguiríamos?” (Pág. 123) 

Tinha altas expectativas para “O Livro do Amanhã”, pois li dois outros livros da autora, “A Vez da Minha Vida” (resenha aqui) e “P.S. Eu Te Amo” (resenha aqui), e gostei bastante. Cecelia Ahern é uma das minhas escritoras favoritas e se mantêm nesse grupo, apesar de que me decepcionei um pouco com esse livro. Como sempre, Ahern traz uma trama cheia de emoção, onde o modo como lidamos com a vida é a temática principal. Os outros dois livros da autora trouxerem protagonistas adultas e uma história mais bem humorada, o que não aconteceu em “O Livro do Amanhã”. Apesar de ter amado a protagonista adolescente e a trama um pouco mais séria, com toques de mistério, esperava mais do livro e senti que não fui surpreendida como nos outros, o que foi um ponto negativo. Como disse, a história desse livro é um pouco mais misteriosa, o que foi bom a início, mas que se tornou bobo quando ficaram óbvias algumas partes da resolução dos conflitos. Apesar de não ter sido surpreendida pela trama, fui conquistada pela mesma, assim como pelos personagens e acabei curtindo bastante o livro. 

Confesso que a protagonista, Tamara, me irritou bastante no início. Seu comportamento infantil e arrogante me deu vontade entrar no livro apenas para estrangulá-la! Mas conforme a garota foi amadurecendo ao longo da história, acabei me simpatizando com sua dor e com seu esforço e gostando dela. Outra personagem que me irritou foi Rosaleen, seu comportamento sufocante com os outros personagens deixou até mesmo eu sem ar e sem paciência! Apesar de me causar emoções, a personagem não me convenceu, pois desde o início a autora quis pintá-la como a vila, o que foi injusto a início e óbvio no final. Os outros personagens também me conquistaram, cada um deles teve um papel importante na história, além de histórias emocionantes e personalidades cativantes. Minha favorita foi a Irmã Ignatus, uma freira divertida que mostra que ser uma religiosa não necessariamente significa ser um zumbi que apenas reza. 

A edição de “O Livro do Amanhã” estava impecável. A diagramação simples e tradução estavam perfeitas. O tamanho e fonte das letras estavam bons e, assim como as páginas amareladas, eles ajudaram a deixar a leitura mais rápida. A capa do livro é simples, mas bonita, e combina perfeitamente com a história; gosto mais dela do que outras capas. Só não entendi o porquê da chavinha, sobre o livro, afinal o cadeado que trancava o Livro do Amanhã foi quebrado e não aberto com uma chave mágica.

Outras capas do livro

“O Livro do Amanhã”, apesar de não ter suprido por completo minhas expectativas, foi uma boa e rápida leitura. Ele não modificou, nem de maneira positiva nem de maneira negativa, minha opinião sobre a autora, mas fico feliz em ter conhecido mais um livro da Ahern. Como disse, gosto bastante dela e espero ansiosamente que mais livros dela aparecem por aqui. 

Recomendo “O Livro do Amanhã” para aqueles que querem uma história mais leve, com um nível médio de complexidade, que tenha toques de mistério e personagens e trama cativantes. Mas o recomendo também para aqueles que amam livros e gostam de histórias sobre eles. “O Livro do Amanhã” nos faz refletir sobre como essas obras podem mudar nossa vida, nosso futuro. Sobre como pedaços de papel podem revelar todo um mundo o qual não imaginávamos, o qual achávamos não poder alcançar. Amantes de livros, como eu, sabem disso, mas não se cansam de dizer ou ler mais uma vez como livros são maravilhosos. 

“Acho que a maioria das pessoas entra nas livrarias sem a menor ideia do que querem comprar. De algum modo, os livros ficam ali, quase que por magia, desejosos que as pessoas os escolham. A pessoa certa para o livro certo. Parecem que já sabem de qual vida fazer parte, em qual delas podem fazer a diferença ou podem ensinar uma lição, pôr um sorriso no rosto no momento preciso.” (Pág. 364)