3.4.13

Resenha: Olhos de Fogo - Helena Gomes & Kathia Brienza

Título: Olhos de Fogo
Autoras: Helena Gomes & Kathia Brienza
Editora: Escrita Fina
Ano: 2010
Páginas: 176
Classificação: 5/5 [ótimo] - favorito
Sinopse: Em 1646, em pleno declínio da invasão holandesa ao Brasil, holandeses acuados invadem a vila de Tejucupapo, em Pernambuco, quando a maioria dos homens está fora, a trabalho. As mulheres de Tejucupapo arquitetam uma inteligente defesa (fato verídico). Mas, além disso, os habitantes do vilarejo ainda têm que se defender de um serial killer à solta. Fatos verídicos e ficção aliados num suspense emocionante.

1646, nordeste do Brasil. Os holandeses que antes dominavam a região estão lentamente sucumbindo a resistência de seus inimigos luso-brasileiros (brasileiros que possui ascendência portuguesa), deixando os invasores privados de alimentos e desesperados por dominação e moradores de cidades e vilas vivendo sobre constante medo. É nesse cenário recheado de tensão que Frans e Pim Kiurlings, pai e filho holandeses, deixam Recife, acompanhados de sua escrava Isabel e a milícia particular de Diogo Venâncio, um dono de engenho e anfitrião dos dois no povoado de Tejucupapo, sua nova morada. Frans é um cientista e é com intuito de expandir a pesquisa sobre a fauna e flora brasileira de um amigo que ele decide ir para Tejucupapo. 
“O luar temia invadir a escuridão. Pim avançava a passos indecisos. Pisou num graveto, quebrando-o; o estalo se uniu aos sons assustadores a sua volta. Sons da noite, da mata, daquele mundo selvagem.” (Pág. 7)
Tejucupapo é um povoado pequeno, marcado pela diversidade de sua pequena população composta de luso-brasileiros, escravos e descendentes de africanos, indígenas, estrangeiros , entre outros. Jussara é uma índia potiguar que viu, quando criança, sua aldeia ser destruída por holandeses, o que explica o ódio à primeira vista que sente de Pim. Logo ao ver o garoto e seu pai chegando ao povoado, juntamente com Venâncio e sua milícia, ela soube que nada seria o mesmo por lá. E justamente na noite do dia de chegada dos holandeses, Jussara encontra o corpo de Maíra, uma jovem mestiça local, e tudo indica que ela foi brutalmente assassinada e teve seus olhos queimados após ser sufocada. Para tornar a morte ainda mais suspeita, Jussara encontra Pim perto do corpo, parecendo completamente suspeito.
“Ela demonstrou medo ao vê-lo. Quis gritar, só que as mãos de Pim a sufocaram. Entre os sons da mata, um deles ecoou alto, em fúria. Agudo, dilacerante. E os olhos da índia se transformaram em chamas. Olhos de fogo.” (Pág. 16)
Acontece que Pim anda durante o sono e tem pesadelos, dias antes de sua chegada ele tinha sonhado com Maíra sendo morta pelas suas mãos. Mesmo com a forte suspeita caindo sobre o garoto, Jussara não acredita que o holandês seja o responsável pela morte. Assim, ela acaba se juntando a Pim, apesar dos embates iniciais, para resolver esse mistérios. Quando mais corpos começam a aparecer, todos eles com os olhos queimados, os adolescentes percebem que estão correndo contra o tempo, até que mais uma vítima seja feita, ou até que os holandeses tomem o povoado. Mesmo com os locais atribuindo as mortes a Anhangá, um espírito de olhos de fogo, Pim e Jussara sabem que o assassino não tem nada de sobrenatural e que está mais perto do que os outros imaginam.
“- Foi Anhangá quem matou a menina – interrompeu Turi, um dos tabajaras da milícia.
- Quem?!
Consciente de ser o centro das atenções, o índio estufou o peito orgulhoso.
- Anhangá veio aqui, atraída pela última caçada. – E trocou um olhar com Beckett. – Vocês não ouviram seus gritos furiosos?
Sim, todo mundo acordara de madrugada com aquela gritaria medonha.
- Mas quem é ela? – perguntou Camarão (...).
- É um espírito da floresta – explicou Uirá, o outro tabajara. 
- Os jesuítas dizem que é um demônio – contou Tobias (...). – Um demônio com olhos de fogo.” (Pág. 33) 
“Olhos de Fogo” é um livro instigante, envolvente e super delicioso de ler. As autoras misturaram imaginário e real na medida certa, criando uma trama cheia de mistério, um pouco de sobrenatural e romance que, além de divertir o leitor, ensina sobre a história do nosso país. Sério, nunca aprendi tanto de história (sem ao menos perceber que estava aprendendo) em um livro! Adorei o modo com as autoras souberam adequar sua história ao que aconteceu de verdade. Na verdade, adorei tudo sobre o livro. Não esperava tanto assim dele, mas acabei me apaixonando mais a cada página. O final foi simplesmente perfeito, com uma mistura do que já era esperado e com uma surpresa na revelação do assassino. 

A narrativa em terceira pessoa é simples, leve e flui com uma facilidade impressionante. A trama foi bem construída e amarrada, não deixando nenhuma ponta solta. Apesar do livro não ser longo, a história é completa, coerente e envolvente, assim como os personagens. Todos eles me conquistaram e não consegui eleger um favorito, cada um têm sua personalidade e importância própria. Pim me conquistou logo de cara. O garoto holandês, mas de alma brasileira, não é um típico herói cheio de músculos, mas é inteligente e gentil como os melhores mocinhos. Jussara é uma índia que não acredita muito no sobrenatural. Não gostei dela logo de início, mas sua coragem, inteligência e percepção aguçadas me conquistaram. Frans foi outro com quem não simpatizei no início, mas lá para o final acabei gostando dele. Isabel, a escrava que sempre cuidou de Pim como uma mãe foi uma das personagens mais amáveis da história, apesar de que não foi uma das mais marcantes. Um personagem que chamou minha atenção desde o início foi o escocês Beckett, um dos homens da milícia de Venâncio. Beckett é um pirata mal humorado e que lança suspeitas pelos outros personagens, e até mesmo sobre o leitor, mas que acabou surpreendendo a todos. 

A editora fez um trabalho divino com o livro. A diagramação estava ótima e não encontrei nenhum erro. A capa é maravilhosa e combina com a história, mas o que mais me conquistou foram as páginas do livro. Além da cor diferente das letras, cada início de capítulo conta com uma ilustração, assim como as primeiras páginas do livro e as duas últimas, que trazem um mapa da época em que a história se passa (fotos no final). 

Com uma edição incrível e trama maravilhosa, “Olhos de Fogo” conquistou um lugar entre os meus favoritos, assim como a escritora Helena Gomes, que já tinha chamado a minha atenção em “Sabor de Sangue e Chocolate”. Adoro o modo como ela consegue dar um “gostinho brasileiro” a todas as suas histórias. Gomes, assim como Brienza estão de parabéns por esse livro maravilhoso e espero sinceramente ler outras delas em breve. A editora também merece elogios pela edição e agradeço a oportunidade de ter lido o livro. 

“Olhos de Fogo” é um livro delicioso que recomento a todos, principalmente aos amantes de boas histórias, mistérios e tramas bem construídas que, além de divertir, nos ensina sobre nosso país e nos faz ter orgulho do povo que aqui viveu e ainda vive. A história das Heroínas de Tejucupapo não é muito conhecida, como as autoras mesmo comentam no final do livro, mas que vale a pena conhecer. Confesso que era uma das pessoas que não conheciam a história, mas, depois de ler esse livro, jamais me esquecerei das corajosas mulheres que enfrentaram os soldados holandeses.

Fotos:



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10 comentários:

  1. Parece ser um livro muito bom, apesar de eu não ser muito fã de literatura nacional. O livro é bem organizado, gostei, só não vou colocá-lo na minha estante, porque já tem muitos para mim terminar de ler.

    Bjão.

    http://adolescenteamericano.blogspot.com.br/

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  2. adorei a diagramação do livro, já a história não me atraiu tanto..

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  3. Que livro lindo!
    Gostei do estilo.
    Parece ser muito bom mesmo
    Beijinhos
    Rizia - Livroterapias
    Livroterapias

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  4. To loooouca para ler esse livro!!!

    Beijos,

    Wanessa Guimarães
    www.estanteseletiva.com

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  5. Eu não conhecia esse livro e sua resenha é a primeira que leio. Gostei muito e me interessei pelo livro.

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  6. Sou fã da Helena Gomes, os 3 livros que tive oportunidade de ler dela eu adorei. Este infelizmente eu ainda não conheço.
    Bjs, Rose.

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  7. Que trabalho lindo ^^ As gravuras e a diagramação dele parecem ser impecáveis
    E é sempre bom ler livros que retratam nossa história, vou colocar na lista
    Bjs

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  8. hehehe ficou bom. me deixou com vontade de ler. :3

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  9. Gosto muito de histórias que mesclam realidade com ficção. A trama me parece ser bem instigante. Acho mistérios, investigações e suspenses o máximo. E se algum livro tiver tudo isso, já ganha minha atenção.
    Enfim, quero ler, sim!

    @_Dom_Dom

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  10. Excelente resenha que pela abordagem, vem confirmar os bons comentários que li sobre esse livro.

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