Resenha: E No Seu Fim Eu Comecei - Diego Soares

Título: E No Seu Fim Eu Comecei
Autor: Diego Soares
Editora: Dracaena
Ano: 2012
Páginas: 208
Classificação: 4/5 [muito bom] - favorito
Sinopse: Erick Leto tem um dom, apesar de considerar uma maldição. Ele consegue assistir aos momentos finais de uma pessoa após sua morte, um tipo de conexão, quando suas mãos entram em contato com um cadáver. Como estudante de Medicina, seu dom se agrava com as aulas no Laboratório de Anatomia & Dissecação, quando o cadáver de uma jovem está em sua mesa e ele percebe que um dos últimos pensamentos dela, antes de morrer, foi pedindo para que ele reparasse nela, ainda que ele nunca a tenha visto antes. Com ajuda de seus amigos, a inteligentíssima Melissa e o excêntrico Cris, Erick vai tentar descobrir quem era aquela mulher e o que o conecta a ela.

          

Na cidade (fictícia) de Lugar Nenhum vive o jovem estudante de Medicina Erick Leto, que é dono de um poder bem curioso. O rapaz, ao tocar em um cadáver, é capaz de ver e viver os últimos momentos daquela pessoa. A primeira vez que “experimentou” seu poder foi aos cinco anos, onde, ao tocar o cadáver da mãe, presenciou o seu suicídio. 

“O medo era algo novo para o pequeno Erick. (...) Mas o medo que Erick tinha naquele momento não era em si da morte, muito menos da vida, mas sim de ter medo.” (Pág. 5)

Os anos seguintes não foram fáceis. O pai de Erick, Samuel, um renomado médico, ficou obcecado com o poder do filho. O levava a enterros e procurava explicações médicas para o poder do menino, o que o fez perder sua credibilidade como médico. Aos dez anos, Erick se tornou órfão. Ao tocar o corpo do pai, viu que ele sempre o considerou uma aberração. Frank, um padre carinhoso e antigo amigo de Samuel, criou o menino como um filho.

“(...) a morte não pode ser enfrentada e nem ao menos temida, deve ser alcançada, em um processo lento de compreensão.” (Pág. 113)

Muitos anos se passaram e, agora aos 25 anos, Erick volta a ver os últimos momentos dos mortos que toca nas aulas de Anatomia & Dissecação. É em uma dessas aulas que ele conhece Melissa, uma garota tão bonita quanto inteligente. Os dois se tornam amigos e, junto com o amigo de infância de Erick, o brincalhão Cris, debatem e pesquisam sobre o poder de Erick.

“O mais perto que você irá chegar dela, será dentro de sua mente e o mais longe que chegará, será dentro de seu coração.” (Pág. 104)

Durante um teste, Erick deve retirar o coração de uma jovem de cabelos negros e, ao tocá-la, ele é levado em mais uma “viagem” pelas lembranças dos mortos. Mas, algo é diferente dessa vez, ele não vê o momento da morte da jovem e sim uma pequena cena cotidiana onde ela se arruma, perguntando a ele se ele vai reparar nela agora. Acontece que Erick não conhece a garota, ele nunca a viu. Mas, mesmo assim, ela parecia estar falando com ele, como se o conhecesse, sensação que é confirmada pelos desenhos que ela faz dele.

“Mais uma vez ela parou, olhando-se no espelho como se adentrasse corpo e alma de Erick, e disse:

- Por favor, repare em mim dessa vez.” (Pág. 73)

Em sonhos tão complexos que parecem realidade, Erick começa a interagir com a garota morta e fica cada vez mais obcecado por ela. Assim, o rapaz entra em uma verdadeira aventura para descobrir quem era ela e como o conhecia. Com a ajuda de seus amigos, Melissa e Cris, Erick começa a desvendar esse mistério chamado Claire, que, surpreendente, envolve o seu poder, o seu passado e até mesmo o seu pai. Indo cada vez mais fundo nessa história, e na sua história, Erick descobrirá segredos e mentiras, em uma aventura alucinante que mexerá com a cabeça dele e de todos ao seu redor (até mesmo o leitor). 

“‘Claire era uma garota fantástica, que se escondia em casa com medo do mundo. Eu sou amiga dela, ainda sonho com ela, mas diferente dos sonhos dela, os meus são apenas sonhos.’” (Pág. 161)

“E No Seu Fim Eu Comecei” é um livro que queria ler desde antes do seu lançamento e para qual tinha muitas expectativas, que, felizmente, foram supridas. O livro já é intrigante desde o título e a sinopse, e já nas primeiras páginas me vi envolvida e intrigada com a história. 

O autor mostrou, desde o início, aptidão para construir e desenvolver a trama e envolver o leitor. O livro todo possui aquele ar de suspense e mistério misturados à medicina e ao sobrenatural que provocam um friozinho na barriga do leitor, como aqueles bons filmes de terror/suspense (que eu adoro). As explicações médicas e termos científicos deram um ar verídico à história, mas sem excluir o lado sobrenatural e inexplicável, e sem confundir o leitor. Eu mesmo, que tenho péssima memória e pouco me lembro das minhas aulas de Biologia, entendi perfeitamente o lado médico, por assim dizer, do poder de Erick. Não sei se as teorias médicas criadas pelos personagens são reais, e mesmo se não forem, na história elas são bastante convincentes e coerentes. Outra coisa que me cativou foram os sonhos e delírios (por assim dizer) que Erick teve. Eu, particularmente, sou uma fanática por sonhos e fiquei babando naqueles que o autor nos mostrou nesse livro. 

Apesar de ter conquistado pelo talento mostrado na hora de construir e finalizar a trama (o final não foi surpreendente, mas se encaixou perfeitamente na história), o autor deixou um pouco a desejar quanto à narração, por isso o livro não ganhou 5 estrelas. A narrativa em terceira pessoa do Diego é leve e envolvente, mas teve alguns trechos confusos por causa das frases longas e falta de vírgulas, também encontrei palavras sem acento e erros de digitação e diagramação. 

Os personagens, assim como a trama, foram bem feitos e bem colocados na história. Erick é sem dúvida é o mais complexo e cativante deles, mas também gostei bastante de Claire, Melissa e Cris. Claire foi a mais misteriosa deles, como a conhecemos praticamente através de Erick, é impossível também não se intrigar e apaixonar por ela, que foi a minha favorita! A garota se mostrou sensível e muito fofa, além de também sábia. Melissa me lembrou muito Claire, sensível e fofa, apesar de ter uma personalidade (a meu ver) mais forte, ela foi muito corajosa durante toda a história. Os garotos, Erick e Cris, também foram corajosos, apesar de ter mostrado seu lado mais sensível. Erick foi o meu preferido dos dois, apesar de que Cris me fez dar boas risadas. 

A editora fez um bom trabalho com o livro. A diagramação estava bem feita, mas a revisão deixou passar, como já disse, palavras sem acento e erros de digitação. Mas felizmente eles não chegaram a atrapalhar a leitura. Sei que vocês provavelmente já sabem disso, mas eu sou apaixonada pela capa do livro! Ela deve ser uma das mais bonitas da minha estante, além de ter tudo a ver com a trama. 

“E No Seu Fim Eu Comecei” foi uma leitura muito boa, que pretendo repetir em um futuro próximo. Recomendo-o para quem gosta de histórias sobrenaturais, mas que não deixem de ter um lado mais científico. O livro me lembrou “O Sonho de Eva” (Chico Anes), outro que super-recomendo. Quero agradecer ao autor, Diego Soares, por me dar a oportunidade de conhecer sua obra e expressar meu desejo sincero de conhecer suas outras histórias. 

 “E sem querer, no próprio fim dito que ele começou a compreendê-la, por mais que compreensão não fosse o que ele esperava... ou queria.” (Pág. 164)