Resenha: As Crônicas de Nárnia (Volume Único) - C. S. Lewis

Título: As Crônicas de Nárnia
Volume: Único
Autor: C. S. Lewis
Editora: WMF Martins Fontes
Ano: 2005
Páginas: 751
Classificação: 5/5 [ótimo] - favorito
Sinopse: Viagens ao fim do mundo, criaturas fantásticas e batalhas épicas entre o bem e o mal - o que mais um leitor poderia querer de um livro? O livro que tem tudo isso é "O leão, a feiticeira e o guarda-roupa", escrito em 1949 por Clive Staples Lewis. Mas Lewis não parou por aí, seis outros livros vieram depois e, juntos, ficaram conhecidos como "As crônicas de Nárnia". Nos últimos cinquenta anos, "As crônicas de Nárnia" transcenderam o gênero da fantasia para se tornar parte do cânone da literatura clássica. Casa um dos sete livros é uma obra-prima, atraindo o leitor para um mundo em que a magia encontra a realidade, e o resultado é um mundo ficcional que tem fascinado gerações. Esta edição apresenta todas as sete crônicas integralmente, num único volume magnífico. Os livros são apresentados de acordo com a ordem de preferência de Lewis, cada capítulo com uma ilustração da artista original, Pauline Baynes. Enganosamente simples e direta, As crônicas de Nárnia continuam cativando os leitores com aventuras, personagens e fatos que falam a pessoas de todas as idades, mesmo cinqüenta anos após terem sido publicadas pela primeira vez.

É difícil encontrar alguém que não tenha pelo menos ouvido falar das incríveis histórias contadas nas aclamadas “Crônicas de Nárnia”. Seja pelos livros ou mesmo pelos filmes, as Crônicas são conhecidas no mundo inteiro e o seu sucesso é devidamente merecido, elas são clássicos da literatura infantil. Por mais que seja dirigido ao público infantil, as histórias conquistaram fãs de todas as idades e eu sem dúvida alguma sou uma deles. 

Não sei exatamente quando li as Crônicas de Nárnia pela primeira fez, mas sei que faz muito tempo e que não cheguei a ler todos os livros, apesar de que sempre tive vontade. Só agora tive oportunidade de ler os sete livros de uma vez e, honestamente, me arrependo de não ter lido antes. Sou uma grande fã de histórias de fantasia, cheias de heróis, vilões e mundos mágicos (a série Harry Potter são os livros da minha infância) e tinha certeza que iria amar as “Crônicas de Nárnia”, mas, acabei me surpreendendo e me apaixonando verdadeiramente por elas, muito mais do que eu esperava. 

Confesso que esperava histórias boas, mas um dos meus maiores receios é que elas fossem infantis demais. Felizmente, eu estava errada. Sem dúvida os livros são dirigidos para o público juvenil, o que se percebe pela sua narrativa leve, onde o autor interage com o leitor, como se tivesse contando a história pessoalmente, e trama cheia de pequenos heróis, animais falantes e amigáveis e vilões poderosos, mas que sempre perdem no final. 

Olhando superficialmente, “As Crônicas de Nárnia” não passam de contos de fadas tipicamente infantil, mas garanto que elas são mais do que isso. A trama, por mais juvenil que seja, não deixa de ser bem criada e conduzida, assim como os personagens e outros elementos da história. E se você observar bem, pode até encontrar críticas sobre o nosso mundo e sociedade por debaixo de toda a magia e fantasia. 

No último livro (A Última Batalha), por exemplo, um macaco convence um jumento a se disfarçar de Aslam e usar a reputação deste para escravizar o povo de Nárnia para seu lucro próprio. Se lembrarmos de que Aslam é como um deus em Nárnia, não é difícil comparar a situação da história com diversas do nosso próprio mundo. Na época das Cruzadas, por exemplo, os religiosos convenciam os soldados a destruírem seus inimigos dizendo que aquela era a vontade de Deus. Até hoje em dia temos inúmeras histórias de pessoas que usam a fé dos outros para ganhar dinheiro. Outro exemplo claro está no livro “A Viagem do Peregrino da Alvorada”, quando os personagens entram em conflito por causa de uma ilha onde havia um poço mágico que transforma tudo em ouro. Nem é preciso citar um dos vários exemplos onde verdadeiras nações entraram em guerra por causa de terras e seus recursos minerais e econômicos. 

Mas, honestamente, não foi o fato de as histórias não serem tão juvenis que me conquistou, e sim o contrário. Ler todas aquelas aventuras fantásticas vividas por crianças me lembrou de minha própria infância, onde vivi, em brincadeira, aventuras tão incríveis quanto a dos personagens de “As Crônicas de Nárnia”. Claro que não entrei em um guarda-roupa e fui parar em um mundo mágico, não literalmente. E essa é a magia. Através dos personagens, as Crônicas te levam de novamente a infância, onde os mundos mágicos eram reais e onde era possível se entrar neles. Se é que isso faz algum sentido. 

Peço desculpas se minha resenha não estiver fazendo qualquer sentido, mas é difícil explicar como se senti lendo esse livro. A única coisa que posso dizer com certeza e clareza é: leia As Crônicas de Nárnia. Não posso garantir que você vai gostar e entender o que senti. Mas, sendo esse livro um clássico de fantasia, garanto que você precisa conhecê-lo, nem que seja apenas para conhecer mesmo. 

“Ousado aventureiro, decida de uma vez;

Faça o sino vibrar e aguarde o perigo

Ou acabe louco de tanto pensar:

‘Se eu tivesse tocado, o que teria acontecido?’"

O Sobrinho do Mago - (Pág. 33)

Ok, vamos a parte técnica do livro. A narração de Lewis é incrível, cativante, envolvente e flui rapidamente, o que é reforçado pelos capítulos curtinhos. Os livros também não são muito grandes, mas, acabam se tornando cansativos nesse volume único. Como acabamos lendo um livro atrás do outro, que nesse volume somam mais de 700 páginas, lá pela metade acabamos desanimando. Por isso recomendo ler esse livro com calma, intercalando outras obras entre uma Crônica e outra (o que não fiz). 

Quanto à edição, não tenho muitas reclamações. A tradução e diagramação estavam perfeitas, não encontrei nenhum erro. O tamanho das letras estava bom, mas as páginas brancas cansam os olhos de qualquer um. As ilustrações deram um toque especial a história, além de ajudar na hora de imaginar personagens e lugares, os mapas foram muito úteis (fotos no final). Nem preciso falar que sou apaixonada pela capa. O Aslam da capa é bem similar ao que eu imaginei, que por sinal é o meu personagem preferido (sonho de consumo: tocar a juba dourada de Aslam!). 

“O mal será bem quando Aslam chegar,

Ao seu rugido, a dor fugirá,

Nos seus dentes, o inverno morrerá,

Na sua juba, a flor há de voltar.”

O Leão, a feiticeira e o guarda-roupa - (Pág. 137)

Falando em preferidos, Digory e Polly, os personagens humanos do primeiro livro, foram os meus humanos favoritos. Na verdade, o primeiro livro (O Sobrinho do Mago) foi o meu favorito. (Lembrando que nessa edição as histórias foram organizadas de acordo com a preferência do autor.) Já na primeira história, acompanhamos a viagem dos vizinhos Digory e Polly através dos mundos, onde eles “esbarram” com a malvada feiticeira Jadis e a criação de Nárnia. Foi o meu favorito porque mostra o nascimento de Nárnia e explica, parcialmente, como foi possível Susana, Pedro, Edmundo e Lúcia irem para Nárnia. Além de nos esclarecer a origem da Feiticeira Branca. 

“No escuro, finalmente, alguma coisa começava a acontecer. Uma voz cantava. Muito longe. (...) O canto não tinha palavras. Nem chegava a ser um canto. De qualquer forma, era o mais belo som que ele já ouvira. Tão bonito que chegava a ser quase insuportável.” O Sobrinho do Mago - (Pág. 56) 

O próximo livro é sem dúvida o mais conhecido. No segundo, “O Leão, a feiticeira e o guarda-roupa”, acompanhamos os irmãos Pevensie em sua primeira aventura, onde lutam contra a Feiticeira Branca e libertam Nárnia. No terceiro livro, “O cavalo e seu menino”, temos uma história acontecida ainda no reinado dos Pevensie, onde um cavalo falante de Nárnia passa por muitas aventuras em sua fuga para seu país de origem acompanhado de um jovem menino. 

No quarto livro, “Príncipe Caspian”, Susana, Pedro, Edmundo e Lúcia voltam a Nárnia de muitos anos depois, onde ajudam um jovem príncipe a lutar contra o tio tirano e os seus comparsas que usurparam o trono. Em “A Viagem do Peregrino da Alvorada”, quinto livro e meu segundo favorito, Caspian, Lúcia, Edmundo e Eustáquio (primo dos Pevensie), desbravam os mares de além Nárnia em busca dos sete fidalgos banidos pelo tio de Caspian. 

Em “A cadeira de prata”, sexto livro, Eustáquio e sua amiga Jill, vão para Nárnia, onde recebem a missão de encontrar o príncipe perdido, filho do agora idoso Caspian. Para isso, eles terão que explorar as perigosas Terras Agrestes do Norte de Nárnia, onde vivem gigantes nada amigáveis. “A última batalha” é também o último livro, onde vemos o fim de Nárnia e, de certa forma, o recomeço. E ainda nas últimas páginas, temos um texto escrito pelo próprio Lewis, que, apesar de ser titulado “Três maneiras de escrever para crianças”, é mais uma reflexão sobre literatura fantástica para crianças, mas que vale a pena ser lido. 

Encerro minha resenha dizendo mais uma vez que estou apaixonada e encantada pelas Crônicas de Nárnia e também pelo autor e que super-recomendo as histórias para todos! Esse foi um dos, se não o melhor livro que já li! 

“Lembre-se de que todos os mundos chegam ao fim. E uma morte nobre é um tesouro que ninguém é pobre demais para comprar.” A última batalha – (Pág. 682)

Fotos: