Resenha: O Pacto - Joe Hill

Título: O Pacto
Autor: Joe Hill
Editora: Sextante
Ano: 2012
Páginas: 320
Classificação: 5/5 (favorito)
Sinopse: Ignatius Perrish sempre foi um homem bom. Tinha uma família unida e privilegiada, um irmão que era seu grande companheiro, um amigo inseparável e, muito cedo, conheceu Merrin, o amor de sua vida. Até que uma tragédia põe fim a toda essa felicidade: Merrin é estuprada e morta e ele passa a ser o principal suspeito. Embora não haja evidências que o incriminem, também não há nada que prove sua inocência. Todos na cidade acreditam que ele é um monstro. Um ano depois, Ig acorda de uma bebedeira com uma dor de cabeça infernal e chifres crescendo em suas têmporas. Descobre também algo assustador: ao vê-lo, as pessoas não reagem com espanto e horror, como seria de esperar. Em vez disso, entram numa espécie de transe e revelam seus pecados mais inconfessáveis. Um médico, o padre, seus pais e até sua querida avó, ninguém está imune a Ig. E todos estão contra ele. Porém, a mais dolorosa das confissões é a de seu irmão, que sempre soube quem era o assassino de Merrin, mas não podia contar a verdade. Até agora. Sozinho, sem ter aonde ir ou a quem recorrer, Ig vai descobrir que, quando as pessoas que você ama lhe viram as costas e sua vida se torna um inferno, ser o diabo não é tão mau assim.

Ig nunca se recuperou da trágica morte de Merrin. Além de perder o único amor de toda a sua vida, ele ainda tem que suportar ser acusado pela morte dela. Ig é inocente, mas todos pensam o contrário já que ele foi visto tendo uma briga feia com Merrin na noite em que ela morreu. 

As coisas não podiam ficar piores, mas elas ficam. Faltam poucos dias para completar um ano do dia em que Merrin morreu e a data afeta bastante Ig. Após uma noite de bebedeira, ele acorda com uma ressaca enorme e com um par chifres recém-nascidos na cabeça. Ig não se lembra de nada da noite anterior e não faz ideia do motivo de dois chifres brotarem na sua testa literalmente da noite para o dia. 

Mas os chifres não são a única coisa incomum. Misteriosamente, todas as pessoas que olham para sua cabeça começam a confessar seus maiores pecados e segredos, além de pedirem a Ig permissão para cometer mais pecados ainda. Ig também descobre que quando toca alguém é capaz de ver toda a vida daquela pessoa, isso sem falar nas centenas de cobras que começam a segui-lo para todo o lado. 

Se o dia de Ig já tinha começado ruim, ele só ficou ainda pior quando Ig descobre que sua família o odeia e o culpa pela morte de Merrin. Mas, há males que vem para o bem. No meio de tantas confissões, Ig acaba por descobrir quem é o assassino de Merrin e que ele estava mais próximo do que se imagina.

"- (...) As pessoas perdoam. Demônios... Nem tanto." (Pág. 288) 

O primeiro pensamento de Ig é, obviamente, vingar a morte da sua amada e para isso ele irá usar e abusar de seus novos “poderes”. Mas não será tão fácil assim. Enquanto tenta conseguir o que quer, Ig acabará por relembrar todo o seu passado e, consequentemente, o passado daqueles que estão próximo dele. Na sua jornada, ele descobrirá muitas coisas sobre si mesmo, sobre Merrin, sobre sua família, amigos e todos os que o rodeiam. Ig perceberá que estava enganado sobre muitas coisas e que foi enganado por algumas pessoas. Enquanto lida com a própria maldade, Ig perceberá que nem sempre o diabo é mal e que os humanos podem ser piores que aqueles que carregam chifres. 

“- Sabe, eu também a amava. (...) Acho que o amor transformou nós dois em demônios.” (Pág. 297)

O Pacto é uma história emocionante onde o sobrenatural desperta o lado mais humano dos personagens. A trama é envolvente desde o início e é impossível largar o livro antes de terminá-lo. Com uma história bem feita e completa, o autor conseguiu despertar diversas emoções no leitor, além de fazê-lo refletir: é preciso ter um par de chifres para ser mal ou a maldade está nas pequenas coisas, dentro de cada um de nós? Pois bem, O Pacto levanta uma questão muito debatida na literatura, mas de maneira envolvente e com uma pitada sobrenatural. 

Os personagens são extremante bem feitos, com uma complexidade típica dos seres humanos reais. Ig é um cara bom, até meio bobo e inocente, que chega até a parecer um personagem típico de contos de fadas de tão boa pinta que é. Mas os chifres que ele ganha revelaram uma face completamente diferente do personagem, que ao que tudo indica, sempre esteve dentro dele, mas bem escondida. Merrin é outra personagem que parece perfeita demais para ser verdade. Bonita, doce e inteligente, ela pode parecer até boba, mas como vemos ao decorrer da história, ela não é bem assim. Os outros personagens tem um caráter mais real, como os vemos principalmente pela perspectiva de Ig, os defeitos e inseguranças dele são revelados logo de cara. Desses outros personagens, o que mais chama a atenção é o assassino de Merrin (não vou dizer quem é, claro!). O assassino se mostra uma pessoa dissimulada, que engana a todos sem qualquer culpa, sempre pensando apenas no benefício próprio. Na história, ele é o maior e mais claro exemplo de que as pessoas guardam a maldade dentro de si, mas ele vai além, se mostrando uma pessoa naturalmente ruim (mesmo sem possuir um par de chifres). 

A escrita de Hill é simplesmente incrível. O autor tem um talento nato, que deve ser de família (Joe é filho do meu divo Stephen King). A narrativa criada por Hill ficou perfeita, mas não leve, apesar de fluir rapidamente. O conteúdo do livro já é por si só pesado, o que somado ao vocabulário agressivo e ao tom quase irônico que Hill deu a história, O Pacto definitivamente não é uma leitura para qualquer um. É preciso gostar de histórias de horror, com temáticas sombrias, narração quase obscura e uma pitada de humor negro. 

A editora fez um trabalho maravilhoso. Não encontrei qualquer tipo de erro e achei a tradução e a diagramação bem feitas. A capa desse livro é incrível e combina muito com a história. 

O Pacto pode chocar e desagradar quem não gosta desse tipo de história, por isso eu não o recomendo para todos. Para mim, o livro foi incrível. Não sei vocês já devem ter percebido, mas eu sou fã de uma história bem sombria, onde maldade, morte e sentimentos arrebatadores estão envolvidos. Esse é o segundo livro que leio do autor e ele definitivamente me conquistou com O Pacto, entrando assim para a minha listinha de autores favoritos.