Resenha: Cuco - Julia Crouch

 

Título: Cuco
Subtítulo: O primeiro erro foi convidá-la para entrar...
Autora: Julia Crouch
Editora: Novo Conceito
Ano: 2012
Páginas: 464
Classificação: 3,5/5 
Sinopse: Polly é a mais antiga amiga de Rose. Então quando ela liga para dar a notícia que seu marido morreu, Rose não pensa duas vezes ao convidá-la para ficar em sua casa. Ela faria qualquer coisa pela amiga; sempre foi assim. Polly sempre foi singular — uma das qualidades que Rose mais admirava nela — e desde o momento em que ela e seus dois filhos chegaram na porta de Rose, fica óbvio que ela não é uma típica viúva. Mas quanto mais Polly fica na casa, mais Rose pensa o quanto a conhece. Ela não consegue parar de pensar, também, se sua presença tem algo a ver com o fato de Rose estar perdendo o controle de sua família e sua casa. Enquanto o mundo de Rose é meticulosamente destruído, uma coisa fica clara: tirar Polly da casa está cada vez mais difícil.

As coisas estavam se acertando para Rose. Sua casa no interior da Inglaterra estava pronta, seu marido Gareth estava feliz e suas filhas Anna e Flossie estavam bem. Em uma noite, ela recebe uma ligação de sua amiga Polly e ao saber da morte do marido dela, Rose convida a amiga e seus filhos para passarem um tempo em sua casa. 

Polly é uma ex-estrela do rock que já passou por maus bocados. Ao se casar com o lindo Christos, ela foi para a Grécia, terra natal de seu marido. Voltar para a Inglaterra foi seu primeiro desejo após a morte dele, já que ela não se dá nada bem com a família de Christos. 

Rose recebe a amiga de braços abertos. A esquelética e linda Polly traz consigo seus energéticos filhos Nico e Yannis. A mulher está visivelmente abalada e triste com a morte do marido, o que faz com que Rose se desdobre para cuidar não só dos filhos dela, mas também da própria Polly. 

Aos poucos, os visitantes começam a fazer parte da rotina da família, estando sempre presente nas refeições, conversas e passeios. Todos parecem estar se dando bem, mas Polly continua extremamente deprimida e reclusa. Sempre observadora, Rose não perde um movimento de Polly, desde o quanto ela come até o modo com ela trata os próprios filhos.

“Para alguém tão pequena, Polly tinha arestas bem afiadas.” (Pág. 405)

Diferentemente do que se esperava, a convivência vai afastando as amigas e logo Rose começa a se sentir incomodada com a presença de Polly e de seus filhos. Eles parecem estar sempre ao seu redor, mudando sua rotina e o comportamento de sua família. Entretanto, apesar de se sentir desconfortável, Rose mantém sua pose de amiga e anfitriã. 

É inevitável que a presença de Polly desperte lembranças em Rose, mas agora amiga não parece tão meiga, fiel e divertida como nos tempos antigos. Enquanto desenterra todo o seu passado, que está vitalmente ligado a Polly, Rose começa a se perguntar quem Polly realmente é e o que ela realmente está fazendo em sua casa.

“Sentou-se e olhou para Polly, esta mulher que tinha sido sua amiga. Perguntou-se se as coisas sempre foram difíceis entre elas (...). Ou teria sido como um longo casamento, dissolvido por ressentimentos mudos, em que sem dúvida uma vez já houvesse amor?” (Pág. 405)

Cuco contém uma trama de suspense que é lentamente construída ao longo da história. As primeiras 100, 150 páginas demoram a passar e o livro só consegue realmente conquistar quando está caminhando para seu desfecho. Apesar de ter desanimado um pouco no início, consegui curtir a história e fazer uma boa leitura. 

Os personagens são bem construídos e caracterizados, suas histórias pessoais estão diretamente ligadas à trama e aos conflitos principais. Rose é uma mulher aparentemente alegre e realizada, mas por baixo da posse de boa mãe e mulher, esconde-se um passado tortuoso que ela insiste em esconder da própria família. Gareth é um cara legal, bom pai e marido, mas assim como a mulher, tem um passado meio perturbado e um lado que nem todos conhecem. Polly é uma personagem misteriosa. É difícil saber quais suas reais intenções e sentimentos, mas ao longo do livro cheguei a conclusão de que ela possui personalidade impulsiva, infantil, dissimulada e inconsequente. Mas essa impressão que tive da personagem pode não ser a mesma de outros leitores e é isso que torna a Polly a personagem mais interessante do livro.

Atenção! O próximo parágrafo contém muitos spoilers! Para quem não leu o livro, recomendo que pule para o parágrafo seguinte! 

Não gosto de revelar muitos spoilers, mas com o recado acima, espero não estragar a leitura de ninguém! Bom, com disse anteriormente, a Polly foi a personagem mais interessante do livro. É impossível saber realmente qual é a dela antes dos acontecimentos finais. A impressão que temos ao ler a sinopse do livro, é que Polly queria “roubar” a família e a vida perfeita de Rose. Ao terminar o livro, tive uma impressão diferente. Na minha cabeça, a intenção de Polly (primeiro inconscientemente e depois de propósito) era “roubar” Rose de volta. Pelo que vemos através das memórias de Rose, a garota era o tipo de amiga que fazia qualquer coisa e que idolatrava e amava Polly incondicionalmente. Mas como agora o foco de Rose era sua família, penso que Polly queria a velha Rose de volta, a amiga submissa e tola, refém de segredos antigos que compartilhavam. Como Rose foi perdendo o controle com suas suspeitas sobre Polly, ela acabou caindo no plano da amiga e nas últimas páginas, quando Rose recebe a carta de Polly, percebemos claramente que Polly saiu triunfante. Essa coisa de amigas dependentes e amizade nada saudável me lembrou o livro Conselho de Amiga, só que em Cuco o relacionamento é muito mais sombrio e intrigante! (Não interessante como dois livros completamente diferentes podem abordar a mesma coisa?)

Crouch sem dúvida fez um bom trabalho. Ela soube construir a trama, mesmo que de forma mais lenta, e resolver os conflitos da história. A narração foi em terceira pessoa, mas como os fatos são contados pelo ponto de vista de Rose, a autora consegue nos envolver na história e plantar as dúvidas de Rose na nossa cabeça.

Sabe aqueles finais de filme de terror que deixam claro que a história realmente não acaba ali? Assim é o final de Cuco. O livro acaba e você fica imaginado o que mais poderia ter acontecido se a autora tivesse continuado a escrever. Comparei o final do livro com os de filmes de terror, porque enquanto estava lendo Cuco tive uma sensação parecida da que tenho ao ver filmes de terror/suspense, onde ficamos ansiosos por não saber o que é devaneio do personagem e o que é realidade. Sério, não me surpreenderia se Cuco virasse um filme! 

A editora também fez um ótimo trabalho. A capa é divina e a edição bem feita, assim como a diagramação. 

Cuco é um livro envolvente, bem feito em todos os sentidos. A trama pode parecer bem lenta para alguns, mas essa característica contribuiu para que a história fosse extremante completa, sem qualquer tipo de ponta solta. Recomendo esse livro para aqueles que apreciam suspenses bem construídos, mas que não tenham medo de leituras mais lentas. 

“E duas mulheres permaneciam sentadas na tormenta, debaixo do guarda-chuva, recordando-se de que tudo isso estava morto, perdido, desfeito.”  (Pág. 43)