Resenha: Cruzando o Caminho do Sol - Corban Addison

Livro: Cruzando o Caminho do Sol 

Autores: Corban Addison
Editora: Novo Conceito
Páginas: 448
Classificação: 5/5 (favorito) 

Sinopse: Sita e Ahalya são duas adolescentes de classe média alta que vivem tranquilamente junto de seus familiares, na Índia. Suas vidas tranquilas mudam completamente quando um tsunami destrói a costa leste de seu país, levando com suas ondas a vida dos pais e da avó das meninas. Sozinhas, elas tentam encontrar um modo de recomeçar a vida. Mas elas não devem confiar em qualquer um... Enquanto isso, do outro lado do mundo, em Washington, D. C., o advogado Thomas Clarke enfrenta uma crise em sua vida pessoal e profissional e decide mudar radicalmente: viaja à Índia para trabalhar em uma ONG que denuncia o tráfico de pessoas e tenta reatar com sua esposa, que o abandonou. Suas vidas se cruzarão em um cenário exótico, envolto por uma terrível rede internacional de criminosos. Abrangendo três continentes e duas culturas, Cruzando o Caminho do Sol nos leva a uma inesquecível jornada pelo submundo da escravidão moderna e para dentro dos cantos mais escuros e fortes do coração humano.

       

Ahalya e Sita Ghai viviam feliz ao lado da família em Chennai, na Índia. As garotas levavam uma vida mais do confortável, sendo fluentes em inglês e estudando na melhor escola, elas tinham um maravilho futuro pela frente. Entretanto, enquanto passavam o final de semana no litoral do país, a família acabou sendo uma das vitimas de um tsunami, sendo que Ahalya e Sita foram as únicas sobreviventes dos Ghai.

“ (...) Ahalya e Sita se sentiram como se estivessem voltando para casa. O mar era seu amigo (...). Elas nunca imaginaram que um dia o mar pudesse se voltar contra elas. Mas elas eram jovens demais e sabiam muito pouco sobre sofrimento.”  (pág. 11)

Desnorteadas por causa do tsunami que as deixou órfãs, Ahalya e Sita procuram ajuda para voltar para sua escola em Chennai, onde estariam verdadeiramente seguras. As irmãs conseguem encontrar um amigo de seu pai na cidadezinha onde estavam, e esse promete que as ajudará a voltar para casa. Mas, o que parecia ser o fim de um pesadelo, se revelou ser o inicio de um verdadeiro tomento.

“O mundo que havia antes e a família que ali habitava agora viviam apenas na sua lembrança.” (pág. 22)

Ao pegar carona com um estranho, Ahalya e Sita acabam nas mãos de pessoas envolvidas com o trafico humano. As garotas são vendidas como objetos, e em pouco tempo, elas acabam trancafiadas em um porão de um bordel em Mumbai (Índia). Sem ter a quem pedir ajuda, as irmãs se veem a mercê de Suchir, o dono do bordel onde elas se encontravam. Ahalya é a primeira a sofrer os abusos, mas seu temor é maior quando se trata da irmã, afinal, Sita ainda é uma criança.

Enquanto acompanhamos o sofrimento das irmãs Ghai, também acompanhamos a historia de Thomas Clarke, um advogado norte-americano que aos poucos vê sua vida quase perfeita desabar. Pouco tempo depois da morte de sua filha, Thomas é abandonado por sua esposa Priya, por causa de uma suposta traição cometida por ele. Para completar, Thomas é praticamente obrigado a se afastar da empresa de advocacia onde trabalha.

“Não havia sido uma escolha sua, ele não teve como recuar.” (pág. 214)

Primeiramente, Thomas reluta em se afastar da empresa. Mas, após presenciar o sequestro de uma garota, tudo muda. Os policias acreditam que a garota foi destinada ao trafico sexual, e assim, quando Thomas decide ir para o outro lado do mundo trabalhar na  Aces , uma organização sem fins lucrativos que luta contra o trafico sexual, ele se vê lançado a um mundo onde seres humanos são tratados como objetos ou vendidos como animais.

"-Você não está aqui porque eu sinto prazer no comércio sexual. Você está aqui porque existem homens que gostam de pagar por sexo. Eu sou apenas o intermediário. Alguns homens de negócios vendem objetos. Outros vendem conhecimento. Eu vendo fantasias. É tudo a mesma coisa." (pág. 394)

É em uma das operações da Aces que Ahalya finalmente é salva dos abusos que sofria no bordel. Entretanto, o tormento da garota estava longe de acabar, pois, algumas horas antes da operação acontecer, Sita foi vendida e levada para longe do bordel. Em um encontro entre Ahalya e Thomas, a garota entrega a ele uma foto da irmã e uma pulseira rakhi, pedindo a ele que ache Sita e que a traga de volta para casa.

"- Você nunca ouviu falar sobre a pulseira de rakhi? (...) É uma tradição indiana que remonta há milhares de anos. Uma mulher entrega a um homem uma pulseira para ser amarrada em seu pulso. A pulseira significa que aquele homem é seu irmão. Ele assume o dever de agir em sua defesa.” (pág. 219)

Assim, o advogado se vê em uma busca aparentemente impossível, mas ele não desiste e acaba encontrando pistas que o levam a França e posteriormente aos EUA. Enquanto acompanhamos a busca de Thomas, também acompanhamos o sofrimento de Sita, que mesmo após sofrer tantas crueldades, não perde sua fé, nem sua esperança, e que encontra nas lembranças da irmã, forças para continuar.

“O mundo podia roubar sua liberdade; podia acabar com a sua inocência; podia destruir sua família e arrastá-las por caminhos para além de seu entendimento. Mas não podia privá-las de sua memória. Apenas o tempo tem esse poder, e Sita iria resistir a todo custo.” (pág. 299)

O livro Cruzando o Caminho do Sol é completo e na medida certa. O autor conseguiu abordar um tema pesado, mas sem sensacionalismo. Diferente de muitas reportagens que vemos por aí sobre o trafico humano, Corban consegue passar sua mensagem sem apelar para o drama e sem causar pena no leitor. 

A narração em terceira pessoa de Corban ficou perfeita para a historia e todos os personagens foram explorados na medida certa! A leitura fluiu com naturalidade, e apesar do livro ser grande e ter muitas reviravoltas, em momento algum achei que a história ficou cansativa. Acho que poucos autores teriam conseguido ligar a história de Thomas com a das irmãs Ghai com naturalidade como Corban fez. Por isso, o autor está de parabéns. A capa do livro é absolutamente incrível e me encantou desde o início. 

É impossível não gostar das irmãs Ghai, mas Ahalya foi a minha favorita! Eu também gostei de Thomas, mas achei que ele foi bem canalha em relação à Priya e que ela não devia ter o aceitado de volta. Assim como todo o livro em geral, o final é perfeito e emocionante, mas nada que nos faz derramar rios de lágrimas.

Cruzando o Caminho do Sol é uma historia comovente sobre o tráfico humano e sexual, que apesar de ser comum no mundo inteiro, é ignorado por muita gente. Eu inclusive, obviamente, sabia que tal trafico existia, mas não imagina suas dimensões e o sofrimento pelo qual as vitimas passam. O livro é um importante alerta sobre os muitos problemas sociais existentes que ignoramos. Inclusive, no final do livro, há uma Nota do Autor que vale a pena ser lida. 

Recomendo para absolutamente todos, sem exceção. Esse é aquele tipo de livro que não tem apenas uma historia bonitinha, mas uma mensagem para todos nós.

“As necessidades são muitas e os desafios, muitas vezes, parecem sobrepujar nossa capacidade. Mas não existe problema sem solução. Nós podemos fazer a diferença: um mundo, uma dádiva, uma vida de cada vez.”
Corban Addison